Catorze anos (e nove meses) depois...
... o fim.
Não foi a primeira vez que essa decisão foi tomada.
Mas será, certamente, a definitiva.
Foram muitas as tentativas, as oportunidades, a esperança, de as coisas ainda darem certo.
De tudo melhorar.
Apenas para chegar à mesma conclusão de sempre: a de que a nossa, cada vez maior, incompatibilidade, em termos de feitios, personalidades, objectivos, forma de estar na vida e de encarar uma relação, impossibilita qualquer relação entre nós.
Não nos entendemos, e acabamos por entrar num estado de saturação, de acumulação de coisas que, de um momento para o outro, saem em catadupa, em tom, e de forma, nada simpáticos.
A rotina levou-nos a melhor.
Éramos conhecidos a partilhar uma casa.
Depois de alguns desentendimentos camuflados tivemos, este domingo, "a tal conversa".
A constatação.
O pôr em palavras aquilo que ambos pensávamos.
O dizer em voz alta aquilo que andávamos a silenciar.
E, se é para terminar, que seja a bem.
Claro que, e quem já passou por isso pode confirmar, não é fácil.
É uma mistura de alívio, porque estava a ser desgastante para ambos, com frustração, por mais uma relação que não resultou.
É aquela sensação de paz e sossego, por estar sozinha, misturada com o receio de não gostar de, a longo prazo (e é o mais certo de acontecer), ficar sozinha.
É saber que não vale a pena estar juntos, se não somos felizes assim, e tristeza, por não termos conseguido dar a volta.
É o achar que, talvez, quem sabe, não morando juntos, as coisas venham a ser de outra forma e, logo a seguir, a certeza de que nunca será possível e que, enquanto relação amorosa, é o fim.
É o pensar que, apesar disso, ficamos amigos e, no instante seguinte, até isso parecer difícil. Até porque acredito que o afastamento vá sendo cada vez maior, até para não trazer lembranças, ou porque há que distanciar para seguir em frente.
É olhar lá para a frente, e pensar que aquele sonho de viver juntinho com alguém até ao fim dos dias, alguém com quem partilhar alegrias, tristezas, momentos, parvoices, pode não se vir a concretizar.
Ainda assim, é acreditar que o que tiver que ser, será. Que o que estiver guardado para mim, será meu.
Sem stress, sem pressas, sem sofrer por antecipação.
O que é difícil, porque não sou propriamente uma pessoa optimista.
Mas, agora, há que fazer o luto.
Há que pôr ordem estes sentimentos todos que por aqui andam, o nó na garganta, o estômago embrulhado, o adaptar-me à nova realidade.
E viver um dia de cada vez.
Porque, queiramos ou não, a vida segue...