Cinco meses depois: os "contras" dos novos passes sociais
Em Portugal, quase todas as medidas têm por hábito ser levadas a cabo ou concretizadas apenas pela metade.
E a dos novos passes, que chegou em Abril passado, não é excepção.
É certo que as vantagens são, a nível financeiro, compensadoras.
E que já todos sabíamos que a medida iria levar a que muitos optassem por utilizar os transportes públicos, antecipando a desvantagem de os mesmos irem ainda mais cheios que o habitual.
Supõe-se que parte do financiamento seria para cobrir a redução no valor dos passes e, a restante, para o aumento da frota.
Cinco meses depois, não me parece que exista uma maior oferta a nível de horários, e veículos de transporte.
Pior, e referindo-me aos autocarros aqui da zona, não me parece haver uma gestão de passageiros/ transportes, nem uma resolução eficaz, que faça os passageiros continuarem a preferir o autocarro, ao carro pessoal.
Uma das questões que se colocam é, por exemplo, a gestão dos passageiros quando o autocarro circula na autoestrada.
Sabemos que, à partida, os transportes são feitos para as pessoas irem sentadas, e é esse o suposto número de passageiros que deve levar.
Na prática, levam muito mais pessoas, muitas vezes em pé. Até que ponto o podem fazer, não sei. Mas que o fazem há anos, fazem.
Durante as minhas férias, o autocarro ia a abarrotar numa das vezes que o apanhámos para a Ericeira, e uma outra vez, de lá para cá.
Só houve uma vez em que me pareceu que colocaram um segundo autocarro a fazer o mesmo percurso, no mesmo horário, até Mafra.
Acabamos por ter sorte porque Mafra é um ponto onde sai muita gente até à nossa paragem, antes de, depois, entrarem outros tantos com destino à praia. E na Ericeira, há muitos anos que vamos apanhar o autocarro ao terminal, para termos lugar sentado.
Mas a grande questão que tenho colocado, por aquilo que o meu marido, que vai diariamente para Lisboa, me conta é o procedimento a ter quando o autocarro está prestes a entrar na autoestrada.
Até à última paragem pela estrada nacional, os passageiros vão sendo recolhidos, mesmo que não tenham lugar.
No entanto, nessa última paragem, se o autocarro estiver cheio, não entra mais ninguém porque, na autoestrada, de acordo com os motoristas, não podem levar ninguém de pé.
Portanto, os passageiros são obrigados a esperar pelo próximo autocarro o que, por norma, significa esperar quase uma hora.
E quem estiver no autocarro, de pé? É convidado a sair e esperar também pelo próximo?
E se o próximo também estiver cheio, e não puder levá-los?
Até que ponto a empresa disponibiliza um autocarro propositadamente para levar aqueles passageiros?
E quem tenha que cumprir horários, como faz?
Não estava já na hora de se pensar em servir e satisfazer melhor as necessidades dos passageiros, face a esta nova medida?
De que adianta pagar menos por um passe, se depois as pessoas lhes virem ser descontado, no ordenado, os atrasos ou faltas por culpa dos transportes?