Como perder totalmente a razão numa reclamação
Ninguém que vá a um serviço de urgência, de um qualquer hospital, em plena época de gripes e constipações, a um domingo, poderá pensar que será atendido com a rapidez que desejaria.
Nós passámos por lá de manhã. Cerca das 11 horas.
Havia mais de 20 pessoas em espera. Estava apenas um médico a atender.
O segurança informou-nos disso mesmo.
Só às 16 horas estariam dois médicos de serviço. Mas, a essa hora, o número de pessoas em espera poderia ser ainda maior.
Optámos por tentar arriscar mais ao final da tarde.
Fomos para lá às 18.30 horas.
Não estava um cenário muito melhor que antes, mas íamos preparadas para ficar várias horas. Eu, com um livro. A minha filha com o telemóvel.
A sala de espera é acolhedora. Não havia muito barulho. A temperatura estava amena, nem frio, nem calor.
Entretidas, perdemos a noção de quem já estava quando chegámos, ou quem teria chegado depois.
Uma utente que por ali estava, foi falar com o administrativo. Estava com tonturas, dores de cabeça, há algum tempo à espera, e ninguém a chamava.
Ele deve ter ido falar com alguém. Voltou com a indicação de que ela teria de esperar um pouco.
O pouco foram vários minutos.
O administrativo ausentou-se, provavelmente, para jantar. Era só ele a dar entrada e a chamar os utentes para o gabinete.
A mulher, já farta de esperar, foi fazer queixas ao segurança, que era inadmissível. Que o administrativo só estava ali a dar entradas e não fazia mais nada. Que ela estava cheia de tonturas e pressão na cabeça, e ninguém a chamava. E que ia ficar ali à espera que o administrativo voltasse para reclamar com ele.
Às tantas, começa a dizer que estavam ali pessoas há horas, e nem água tinham para beber. Que havia ali crianças há horas, e nem uma máquina com comida tinham.
Como o segurança não deve ter apoiado as queixas, começou a reclamar do segurança. A coisa sobe de tom, a mãe da mulher também se mete, a dizer que o segurança só sabe estar ali ao telemóvel, e não faz nada.
Já se falava de chamar a GNR.
Ela lá continuava, que estava ali uma menina há duas horas com dor de barriga, e ninguém chamava. E por aí fora.
Ela até teria a sua razão para reclamar, do seu estado. Antigamente, mesmo que não fossemos logo atendidos e vistos pelo médico, em algumas situações, mandavam-nos entrar e até mesmo as auxiliares iam fazendo o que podiam, até o médico ir examinar.
No entanto, começou a perdê-la ao reclamar com, e das pessoas erradas.
Que culpa tem o administrativo, ou o segurança, que o médico não chame, que demore muito com cada utente? Que não haja uma triagem? Que não haja prioridades?
Começou a perdê-la quando, para se queixar da sua própria situação, e para ganhar apoio, começou a falar das crianças, e dos bébés presentes.
Pergunto-me se, eventualmente, apesar das suas queixas, ela os deixaria a todos passar à sua frente, já que estava tão preocupada com eles, mais do que os próprios pais?
De acordo com o administrativo, já não é a primeira vez que ela faz uma cena destas, e quer ser atendida primeiro que os outros. Embora ela diga que não é isso que pretende.
Compreendo que é muito tempo em espera, e que a pessoa acaba por ficar ainda mais doente ali, do que já estava.
Que, apesar de ser um espaço novo, inaugurado há pouco tempo, não está a funcionar da melhor forma e, como ela bem disse, não chega mudar tudo por fora, se por dentro não funcionar.
Ainda assim, é o que nos vai valendo, para situações menos graves.
E, convenhamos, cerca de 2 horas/ 2 horas e meia de espera, comparadas com as 5/6 ou até 8/10 que muitas vezes existem nos grandes hospitais, não é muito.
Ou acharia ela que, indo para outro qualquer, ficaria despachada mais cedo?
Não ouvi mais nada porque, entretanto, fomos chamadas.
E ela, lá continuou à espera.