De boas intenções está o inferno cheio!
Sabem quando estamos fartos de esperar a chamada de alguém, decidimos ligar nós e a pessoa do outro lado diz-nos aquela velha desculpa "ia mesmo agora ligar" ou "estava a pensar em ligar...".
Pois, soa mesmo a desculpa, de quem já nem se lembrava, ou não tinha a mínima intenção de ligar.
Foi em Outubro, consequência da depressão Bárbara, que o meu estendal se partiu.
Na altura não falei com o senhorio porque, infelizmente, a mulher dele tinha falecido nesse mesmo dia, e a última coisa que o senhor quereria ouvir falar era de um estendal partido.
Fui-me remediando com uns baldes de água a amparar o poste.
Ainda tentei resolver a coisa com cimento rápido mas não resultou.
Quando fui pagar a renda, toquei no assunto.
O senhorio disse que não tinha tempo para isso, e que se quiséssemos podíamos arranjar nós. Que andava ocupado com a burocracia por conta do falecimento da mulher.
Entretanto, veio a Dora, e o Ernesto, e o estendal tombou de vez.
Ficou por ali semanas.
Apesar da muita chuva, houve dias bons, mas ninguém se decidiu a arranjar o estendal.
Falei com um pedreiro.
Combinámos o dia.
Estavam os homens a começar a trabalhar quando o meu senhorio, que mora por cima de mim, desceu as escadas.
E, com uma grande lata, vira-se para mim e diz "Ah e tal, estava a pensar arranjar isso hoje! Como tem estado a chover, não dava para fazê-lo antes."
A sério?!
Tantas semanas com aquilo assim, com dias de sol que tivemos, e precisamente no dia em que eu tomo a iniciativa, é que ele me diz que ia arranjar?
Nem quando lhe fui pagar a última renda, tocou no assunto.
Só falou que no próximo ano não ia haver aumento, como que a lamentar-se.
Enfim...
Soou-me mesmo a anedota, a uma piada sem graça, uma desculpa esfarrapada em que ninguém acredita, até porque na noite anterior tinha estado a chover, e naquele mesmo dia estava a chuviscar, pelo que a teoria de que tinha que esperar pelo tempo bom ia por água abaixo.
Como sou eu que preciso, que utilizo, resolvi eu. Paguei à minha conta.
Não preciso de estar à espera de ninguém.