Deixa-me Mentir, de Clare Mackintosh
Porque é que as pessoas mentem?
Para se protegerem? Para protegerem outros?
Por hábito? Por necessidade?
O que leva alguém a mentir, e a mexer com a vida daquees que lhes são próximos, com essas mentiras?
Como o próprio título indica, alguém mentiu nesta história. Ou mente.
Mas há, também, alguém que sabe a verdade.
E pessoas que, neste momento, estão entre uma verdade que não deve ser descoberta e as pode prejudicar ainda mais, e uma mentira que, embora assente a sua poeira, não convence e não deixa seguir em frente.
Há quem prefira conviver com a mentira. Há quem busque eternamente a verdade. Há quem queira deixar o passado no passado. E quem queira remexer nele, até porque ele acaba por vir parar ao presente, e pode ditar o futuro.
Assim, quem mente. E quem diz a verdade?
A arte de contar uma história, através das personagens, na primeira pessoa, sem as revelar, é algo que nem todos conseguem. Clare Mackintosh conseguiu.
E passei quase toda a história a achar que estava a ler uma pessoa quando, na verdade, era outra.
Anna perdeu os pais. Ambos se suicidaram, deixando-a por sua conta.
Embora fosse difícil, para Anna, imaginar motivos para os pais o fazerem, tudo levava a crer que assim tivesse acontecido e, como tal, a investigação depressa foi concluída.
No entanto, no aniversário da morte da sua mãe, Anna recebe um postal misterioso que lhe sugere que as mortes podem não ter sido um suicídio.
Se não foi suicídio, significa que poderá ter sido homicídio. E, se o foi, há que voltar a abrir a investigação.
Mas com base em quê? Num simples postal?
A verdade é que uma série de outras ocorrências fazem Murray, um polícia reformado a quem Anna recorre, tentar juntar as peças e chegar a alguma conclusão, sem saber bem o que pensar, e por onde começar a investigar. E, quando parecia que Murray estava a fazer progressos e chegar à verdade, é Anna que pede para ele parar por ali, e esquecer tudo. O que terá feito Anna mudar, subitamente, de ideia?
Paralelamente à intriga principal, temos a história do casal Murray e Sarah. Uma relação de vários anos, pontuados por momentos complicados, por conta da doença de Sarah - uma perturbação mental - que a leva a querer, por vontade própria, ser internada, durante períodos em que a perturbação se manifesta de forma mais acentuada, mas também por momentos românticos e divertidos, quando está melhor.
Sarah dá, até, uma mãozinha na investigação do marido. Até ao dia em que acontece aquilo que não era suposto acontecer...
E se as coincidências existem, devo dizer que esta foi uma delas.
Depois de ter comentado esta frase com o meu marido, e escrito sobre ela no blog e no facebook, qual o meu espanto quando, quase no final do livro, me deparo com ela, ali escarrapachada na página "Espera o melhor. Prepara-te para o pior."
Este é um livro que aborda um outro lado do alcoolismo e da violência doméstica. Aquele de que quase não se fala. Que fica, muitas vezes, esquecido como se não existisse.
É um livro que fala de relações "forçadas" pelas circunstâncias, às quais nem sempre se tem coragem para pôr um fim, mas que não assentam em bases sólidas, e estão condenadas a não dar certo.
E de circunstâncias difíceis que, nem por isso, esmorecem o verdadeiro amor, dure ele o tempo que durar.
Percebi agora que é o terceiro livro que leio desta autora. E, se pelo que referi dos anteriores, já era uma autora a recomendar, depois da leitura deste, só posso dizer que não se irão arrepender de o ler, porque vale mesmo a pena!