Desafio de Escrita do Triptofano #7
Espelho meu, espelho meu, haverá alguém mais mágico do que eu?!
Mirófones aproveitou que a sua mãe, Vitolina, estava a dormir, para se esgueirar até ao laboratório mágico da progenitora, onde nunca lhe havia sido permitido estar sozinho, e tão pouco tocar em nada. O objectivo era tentar criar uma poção que lhe devolvesse o coração, que lhe havia sido roubado.
Mirófones (entusiamado com a ideia): Espelho meu, espelho meu, haverá alguém mais mágico do que eu?!
Espelho: Olha, olha! Acaso és mágico, tu?!
Mirófones (dando um salto, com o susto): Tuuuu... Tu falas?
Espelho: E porque não haveria de falar? Não me fizeste uma pergunta?
Mirófones: Estava apenas a brincar. Sabes, aquela cena da bruxa má, do conto da Branca de Neve.
Espelho: Bem, bruxa má não és. Ao pé dela, és um franganote. E mágico, tão pouco!
Mirófones: Não importa. Vou olhar para todos estes livros, e descobrir a receita para ter o meu coração de volta. Depois, vou criar a poção, e bebê-la. Não há-de ser assim tão difícil.
Espelho (duvidando das capacidades de Mirófones): Veremos... Boa sorte!
Mirófones: Ora bem. Por onde começo? Letra C... coração... tratar do coração... deve ser isto!
Encontrada a receita, e olhando atentamente para os ingredientes
Mirófones: Portanto, três colheres de farinha branca refinada. Onde é que estará isso? Ah, estás aqui!
Frasco (assim que Mirófones tentou pegá-lo): Não me toques.
Mirófones, apreensivo, tentou novamente, e de novo a mesma resposta.
Mirófones: Mas que raio! Aqui tudo fala? Pois não quero cá saber de frescuras! Vou pegar em ti, e vou abrir-te!
Ao fazê-lo, todo o conteúdo saltou para a sua cara.
Mirófones (depois de uns quantos impropérios, provando a dita "farinha"): Hum... olha que até não és má de todo.
Passados alguns minutos, enquanto tentava reunir os ingredientes em falta, Mirófones ouve uma voz.
Morcego (imaginário): Vou-te comer!
Mirófones (olhando em volta, e vendo um grande morcego pendurado na beirada da janela): Sai daqui!
Morcego: Vou-te comer agora!
E Mirófones, assustado com aqueles olhos demoníacos, e dentes afiados que se dirigiam a si, encolheu-se debaixo da bancada. Mas nada aconteceu.
Mirófones: Já devo estar a alucinar!
E, dito isto, começou a rir dos seus próprios medos, e da figura ridícula que tinha feito.
Mirófones (depois do ataque de riso): Certo. Só falta o chá espirituoso destilado.
Misturou tudo e esperou que a poção ficasse pronta.
Enquanto isso, curioso, decidiu provar um pouco do chá. De repente, viu o seu coração à sua frente.
Mirófones: Ah, malandro! Voltaste!
Coração: (imaginário): Apanha-me, se puderes!
Mirófones: Queres brincadeira, é?! Pois vais ver como elas te mordem!
Começou a tentar apanhar o coração, que o fintava a cada investida, como se estivesse a gozar com ele.
No meio desta luta, sem se dar conta, atirou com alguns balões e tubos, fazendo imenso barulho, até que acabou por, ele próprio, tropeçar na cadeira e cair ao chão.
Ainda atordoado, vê uma "lava" azul a sair do caldeirão, e espalhar-se pelo chão, aproximando-se cada vez mais de si, como se quisesse persegui-lo.
Levantou-se num ápice, e fugiu dali para fora!
Vitolina (que entretanto tinha acordado): Mas o que é que se passa aqui?
Mirófones (correndo que nem um louco pela casa fora, até sair para a rua): É o mar! Quer engolir-me! Foge, mãe, que ele está a vir aí!
Vitolina (seguindo-o até à porta):Ensandeceu! Só pode... Mas que raio andaste tu a fazer esta noite?!
Mirófones: Eu... Eu... Eu só queria ter o meu coração de volta. Ela roubou-mo, e agora não mo quer dar.
Vitolina: Ela? Ela, quem? A tua namorada?
Mirófones: Sim.
Vitolina: Tolo!
Mirófones: Fui tentar fazer uma poção mágica, mas não sei se resultou.
Vitolina: Ouve-me com atenção. Não há magia nenhuma no mundo que possas usar contra o amor. Quando se ama, cada um guarda o coração do outro, e cuida dele, como se fosse o seu. Não é roubado, é partilhado. Confiado. A única forma de teres o teu coração de volta, só para ti, é deixares de amar. É isso que queres?
Mirófones: Não...
Vitolina: Então, deixa-te de parvoíces!
Ao voltar a entrar em casa, Vitolina vira-se para o filho
Vitolina: E da próxima vez, não abuses do "pó de macaco" e da aguardente! Fizeram uma bela magia contigo!
E seguiu caminho, dando umas valentes gargalhadas, enquanto o filho subia para o seu quarto, envergonhado.
Texto escrito para o Desafio de Escrita do Triptofano
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