Desafio dos Pássaros 3.0 #1
Tema: Foi o que ouvi
(O Abraço Certo)
Duas amigas conversavam sobre a pandemia, e como a mesma tinha privado tanta gente de afectos, de beijos, e de abraços.
Lembrando-se de uma história que lhe tinham contado em tempos, uma delas perguntou à outra:
- Sabias que, para cada pessoa, há um abraço certo? Aquele que encaixa na perfeição, e que tem o efeito que mais nenhum consegue?
- Para mim todos os abraços são bem-vindos! Não sei onde é que foste buscar essa teoria.
- Não é uma teoria. Parece que houve mesmo alguém que já o experimentou.
- Ai sim? Então conta lá como é que isso aconteceu.
- Parece que a filha de um comerciante, lá da aldeia, vivia num permanente estado de tristeza e inquietação, desde que a sua mãe a tinha deixado, para fugir com outro homem.
A vizinha, que tinha a mania que era curandeira, disse ao senhor que a sua filha precisava apenas de um abraço.
Então, o pai começou a abraçar a filha, sempre que estava com ela. Mas não resultava. Ela continuava triste.
Pediu então ao irmão dela que tentasse. Mas também não funcionou.
Ao longo do tempo, foi pedindo aos familiares para o fazerem, mas ela parecia cada vez mais incomodada com tantos abraços que, de repente, toda a gente lhe queria dar, sem sentido.
Farta daquilo tudo, combinou com um amigo dar um passeio pelo bosque.
Durante algum tempo, caminharam calados, entregues aos seus pensamentos. Até que se sentaram ao pé de uma árvore, com o riacho a correr à sua frente, e foi quando ela desabafou com o seu amigo, que se sentia triste, cansada, insegura, desde que a sua mãe a tinha abandonado.
E que, apesar de ter o seu pai, e o irmão, eles ainda a andavam a deixar mais desconfortável, desde que tinham decidido pôr em prática o conselho da vizinha.
Não era por toda a gente anda a dar-lhe abraços, quase forçadamente, que ela iria sentir-se melhor.
O amigo, não sabendo como consolá-la, instintivamente, puxou-a para si, com as costas dela contra ao seu peito, e abraçou-a.
E ela, pela primeira vez, deixou-se ficar.
Pela primeira vez, sentiu-se relaxar.
Sentiu-se segura e protegida.
Sentiu-se mais leve, do fardo que até aí carregava.
Afinal, a curandeira tinha razão.
Ela só não tinha experimentado ainda o “abraço certo”!
- E tu acreditas mesmo nisso? – perguntou a amiga, depois de ter ouvido a história.
A amiga, sem saber o que dizer, limitou-se a encolher os ombros…
E assim me estreei neste desafio que já vai na sua terceira edição.
Não respondi à primeira chamada. Nem me atrevi na segunda.
Mas dizem que, à terceira, é de vez!