É egoísta não querer ter mais filhos?
É egoísta não querer ter mais filhos?
Eu sou mãe.
O meu marido nunca foi pai. Mas gostava de ser.
Eu já tive essa experiência. E, sinceramente, não me vejo a repeti-la novamente.
Numa fase em que a minha filha está uma mulher feita, a conquistar aos poucos a sua independência e, com ela, também a devolver um pouco da minha, não me vejo a voltar a passar por tudo o que um filho implica.
Não me vejo a perder noites de sono. Não me vejo novamente a dar biberãos, a mudar fraldas, a ouvir choros, a lidar com birras, a ter paciência para educar uma nova criança.
Ah e tal, mas não é uma experiência gratificante?
Gratificante é fazer voluntariado, por exemplo!
Gratificante é ajudar alguém, de alguma forma, e estar lá para ver que pudemos fazer a diferença da vida dessa pessoa/ animal. Que pudemos contribuir para proporcionar algo de bom.
E, ainda que seja gratificante dar à luz um ser vivo, criar, cuidar, proteger, educar, e vê-lo transformar-se num adulto... Ainda que seja parte de nós...
Ainda que tenha valido tudo o que vivemos...
Não significa que queira repetir.
Ah e tal, mas assim estás a ser egoísta! Estás só a pensar em ti!
Estou? Talvez!
Afinal, seria eu a carregar a criança durante meses, a ver o corpo modificado, a ter que aguentar enjoos e afins, e a sofrer as dores de parto. Já me dá o direito de ser um pouco "egoísta", não?
Então, e se tiver um filho só para fazer a vontade ao parceiro, não estará ele a ser, igualmente, egoísta?
Mas, na verdade, não vejo isso como egoísmo.
Egoísta seria trazer uma criança ao mundo sem a mínima vontade de a ter, e de cuidar dela.
Sem ter disponibilidade para ela.
E nem me venham com aquela frase que tanto irrita "ah e tal, mas eu ajudava".
Tretas. Não se trata de uma ajuda, trata-se de estarem lá os dois.
E, como é óbvio, quando se decide ter um filho, é uma decisão para a vida.
Uma criança não é algo que hoje se quer, mas amanhã já não.
Não é algo para o qual, hoje, até temos condições, mas que podemos descartar ou desistir, amanhã, se as coisas mudarem.
Não deve ser um capricho, um desejo do momento.
É um compromisso a tempo inteiro. Em termos psicológicos, e financeiros.
Enquanto não houver condições para assumir esse compromisso (e isso vê-se perfeitamente no dia a dia, e nas mais pequenas coisas), não vale a pena sequer pensar no assunto "filhos".