Em Troca de Um Coração, de Jodi Picoult
Shay está no corredor da morte.
Claire, na lista de espera para transplante de coração.
Shay irá ser executado brevemente por injecção letal.
Claire, irá morrer brevemente, sem um coração novo que lhe prolongue a vida.
Shay quer doar o seu coração a Claire.
Claire prefere morrer, a aceitar "aquele" coração.
E o que tem a dizer June, a mãe de Claire? E de Elisabeth, a sua outra filha, que Shay assassinou a sangue frio, tal como ao seu marido?
Estará ela disposta a ignorar tudo isso, para salvar a filha que lhe resta?
Pensará ela que é algo que ele lhe deve? Ou, pelo contrário, recusará o coração por não lhe querer satisfazer essa última vontade?
Conseguirá ela lidar com a filha, sabendo que dentro dela bate o coração de um assassino? Um assassino que lhe disse, na cara, quando ela lhe perguntou "porquê?", que "Foi melhor assim"?
Que a recordará a cada instante tudo aquilo que perdeu? Que lhe foi tirado?
Seja como for, a vontade de Shay não pode ser concretizada.
A injecção letal inviabiliza o coração. A não ser que...
E é, aí, que entra a advogada Maggie, disposta a tudo para arranjar uma solução para este caso, ao mesmo tempo que tenta lutar pela abolição da pena de morte.
Na verdade, não é isso que o seu, agora, cliente quer. Ele quer morrer, e doar o seu coração a Claire. Mas, se ela conseguir, de alguma forma, "tocar na ferida", talvez consiga mudar alguma coisa.
Já que não se consegue mudar, nem aceitar a si própria...
Depois, temos o padre Michael, que se torna conselheiro espiritual de Shay.
Michael foi, há onze anos, um dos jurados que votou a favor da pena de morte para Shay. Um dos últimos. E, em certa medida, por pressão. Para não ser o único do contra.
Será esta uma forma de se redimir perante Shay? De obter o seu perdão? De se perdoar a si próprio?
Michael é padre. Católico. Mas ainda tem muito para aprender. E para questionar.
Shay não tem religião. Mas parece saber mais sobre Deus e os seus mandamentos e vontades, que aqueles que melhor o deveriam conhecer. Só não tem respostas para as perguntas que lhe fazem, nem explicações para aquilo que ele próprio faz.
Será ele Jesus?
Será ele um profeta?
Ou será, apenas, um assassino?
Estará ele, agora, no fim da sua vida, a querer fazer o bem para expiar os seus pecados?
Ou ele sempre tentou fazer o bem?
Por vezes, a mentira pode ser a verdade. E a verdade pode ser a mentira. Ou ambas podem ser, simultaneamente, verdade e mentira. Depende do lado em que a olhamos...
Um pouco à semelhança dos palíndromos.
Se olharmos de uma perspectiva, vemos algo que, para nós, é verdade mas que, quem está do outro lado, não consegue ver dessa forma, e vice-versa.
Qual é a verdade, neste caso, e nesta história?
Seja aqui, ou em qualquer outra situação, a verdade é sempre, e só, uma. E conseguimo-la ver quando nos predispomos a isso,
Mas, de que servirá a verdade, se a decisão estiver tomada, e não houver forma de a evitar?
Este é um daqueles livros que, a determinado momento, pode tornar-se aborrecido para quem não é dado, como eu, a assuntos religiosos, que ocupam uma boa parte da narrativa. Ou a milagres. Ou a acontecimentos inexplicáveis que soam a fantasia a mais, numa história tão real.
Mas vale a pena chegar ao final porque é aí que se centram as maiores descobertas, e as maiores emoções. E é aí que começamos a questionar todo este mundo em, que vivemos...