Evereste - desafiar a vida compensa?
Este fim-de-semana estivemos a ver o filme "Evereste", que o meu marido tinha gravado.
Ele dizia que era um bom filme, e que eu iria gostar de certeza.
Evereste mostra a jornada de várias expedições, que têm por objectivo alcançar o ponto mais alto do mundo!
Será, sem dúvida, um feito único. Mais ainda para quem faz do alpinismo o seu hobbie ou a sua vida. É a derradeira etapa a superar, a mais importante, quem sabe a mais bela.
Mas, pergunto-me eu? Desafiar a natureza dessa maneira compensa? Desafiar a própria vida compensa?
Alguém tornou o Monte Evereste uma atracção turística, alguém transformou a sua subida numa espécie de passeio turístico e vislumbrou o lucro que daí poderia advir.
Todos os anos chegam novos interessados, determinados em partir à aventura.
O que os leva até lá?
Querem gastar o dinheiro e não sabem como?
Sim, porque esta brincadeira não é para todas as carteiras. Paga-se bem caro para passar meia dúzia de minutos perto do céu! E, se chegar ao topo já é uma tarefa demasiado difícil, mais complicado se torna o regresso. Muitos, não chegam a regressar. Como eu digo ao meu marido, estas pessoas estão a "pagar" a sua morte.
Querem provar a alguém que são corajosos e determinados?
Muitas vezes sai-lhes bem cara essa teimosia, disfarçada de coragem.
Fazem-no porque não têm mais nada a perder? Ou porque não dão valor à vida?
Ou fazem-no, simplesmente, por paixão pela natureza, pelos obstáculos que ela impõe, pela beleza do que irão encontrar em cada montanha escalada, pelos vários sentimentos que os invadem durante todo o percurso e naqueles escassos minutos em que lhes é permitido estar lá em cima?
Qualquer que seja o motivo, é preciso perceber que uma subida destas exige adaptação, treino, técnica, condições físicas, espírito de equipa e entreajuda, respeito por quem está a comandar a expedição.
É preciso coragem, determinação, persistência. Mas também bom senso. Saber parar, saber perder, saber aceitar. Nem todos conseguem ser bem sucedidos numa primeira tentativa. Ainda assim, há muitos que se tentam armar em espertos e valentes, e pagam com a vida esse atrevimento.
Uma coisa é certa: se todos pensassem como eu e ficassem quietinhos em casa, não haveriam feitos históricos como os que se têm visto por este mundo fora!
Mas, para acidentes catastróficos, já bastam aqueles que não podemos, de todo, prever. Penso que nunca arriscaria a minha vida, sabendo de antemão todos os perigos que correria, e sabendo que poderia não voltar.
E que não se pense que estar na companhia de bons profissionais nos garante uma expedição livre de perigos, e um regresso sãos e salvos. Até mesmo os melhores podem lá ficar!
Evereste é um filme baseado em factos verídicos, que mostra o grande desastre em que se transformou a temporada de escalada de 1996.
Nessa altura, 19 pessoas morreram durante a tentativa de chegar ao cume, sendo o maior número de mortes, em um único ano, na história do Everest. Uma tempestade impossibilitou muitos alpinistas, que estavam próximos ao cume (no escalão Hillary), de descer, matando oito pessoas num único dia.
Entre eles, estavam os experientes alpinistas Rob Hall e Scott Fisher, os líderes das expedições, respectivamente, das empresas Adventure Consultants e Mountain Madness. Um dos erros apontados para a tragédia foi o facto de ambos quererem levar avante a subida, o que levou a complicações e mais tempo perdido no trajecto, do qual nenhum deles quis abdicar.
Ainda assim, não deixaram os companheiros para trás. E, por isso, não só não conseguiram salvá-los, como ainda pagaram com a vida.
Para quem tiver interesse em saber mais sobre esta escoalada, deixo-vos aqui este link - http://mundoestranho.abril.com.br/materia/como-se-escala-o-everest.
Este foi um dos livros que serviu de base ao filme - escrito por Beck Weathers, um dos escaladores que sobreviveu, com consequências que nunca esperou - teve parte de seu braço direito amputado pouco abaixo do cotovelo, assim como todos os dedos de sua mão esquerda e partes de ambos os pés. O seu nariz foi amputado, e posteriormente reconstruído com tecidos de duas orelhas e testa.
Também John Krakauer, convidado pela revista Outsider a escrever um artigo sobre o crescimento de pessoas inexperientes que se aventuravam a escalar o Everest, escreveu o livro "No Ar Rarefeito", onde denuncia a ganância que move a maioria dos promotores de expedições ao Everest, a montanha mais alta e mítica do planeta.