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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

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Histórias Soltas #15: Dias bons, dias maus

Autocolantes de ciência sol e nuvens - TenStickers

 

O despertador tocou.

Uma vez. Outra vez.

Mecanicamente, Sara desligou o alarme de cada vez que ele soou.

Agora, já não tocaria mais.

Sabia que tinha que se levantar, mas não queria arriscar sair da cama, e enfrentar outro dia como o anterior.

Sara tinha dias bons, e dias maus.

O dia anterior tinha sido um desses dias maus, em que a dor de cabeça a tinha atirado para a cama, para um quarto escuro, e para o silêncio.

Silêncio relativo, já que se ouvia os filhos dos vizinhos na rua a gritar enquanto brincavam e, só mais ao final do dia, o som lá de fora se limitou ao canto dos pássaros.

Ainda tinha tentado levantar-se, e fazer alguma coisa em casa mas, poucos minutos depois de estar de pé, as dores voltavam com o dobro da intensidade, e a indisposição não lhe permitia continuar a insistir.

Nestes dias, em que Sara resistia, heroica ou estupidamente, a tomar um comprimido que fosse para aliviar as malditas enxaquecas, a solução era mesmo deitar-se, e esperar que no dia seguinte as dores tivessem passado, e ela pudesse voltar aos dias bons.

No entanto, as crises tinham começado a tornar-se mais prolongadas, mais fortes, e ultimamente, o dia seguinte era apenas sinónimo de uma melhoria, não de restabelecimento total.

A culpa era sua, bem sabia.

Sara já conhecia bem os gatilhos que despoletavam as crises e, por isso, sabia bem que deveria evitá-los o mais possível.

Sabia que deveria evitar locais demasiado movimentados, abafados e barulhentos, como os centros comerciais, por exemplo.

Que não deveria deitar-se muito tarde, ou dormir até tarde.

Que não deveria ver televisão durante várias horas.

Que o sol intenso, a luminosidade excessiva ou odores fortes poderiam ser o suficiente para a deixar mal.

Ela sabia tudo isso. Mas há coisas que nem sempre dá para evitar.

E que nem sempre ela queria evitar.

Depois, restava-lhe aceitar o “castigo”, que se vinha a tornar mais penoso.

Ela, que nunca tinha sido mulher de beber cafés, até esse truque tentava, sem efeito.

Desta vez, ponderou mesmo tomar um comprimido para atenuar as dores.

Mas a noite chegou, conseguiu dormir e, agora, era um novo dia.

Com pouca vontade, levantou-se.

Aparentemente, estava bem. As dores tinham passado. A indisposição também.

Parece que, afinal, seria um bom dia.

Ou assim o esperava Sara…

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