Histórias Soltas #18: Prenúncio...
Precisava de sair.
Apanhar ar.
Dentro de casa, sentia-se a sufocar. Sabia que não podia continuar ali.
Não estava frio. Nem calor.
Ainda não chovia.
Saiu sem pressa.
Estar na rua sabia-lhe bem.
O vento no rosto sabia-lhe, ao contrário de outras vezes, muito bem.
Por companhia, o campo.
Arbustos que se unem no topo e formam uma espécie de gruta.
Troncos vestidos de verde.
Muros coloridos das flores que nascem por entre eles, ou que caem sobre eles.
E flores... Muitas flores... Brancas, amarelas, roxas, cor de rosa, e tantas outras. Ora misturadas. Ora separadas.
À medida que ia seguindo o seu caminho, melhor se sentia, por entre os campos verdes e castanhos, num dia que não se sabia bem se era de outono, ou de primavera, tais os contrastes com os quais se deparava na natureza.
Então, começou a chover.
Uma chuva miudinha.
Mas não se importou. Nem apressou o passo.
Até a chuva, nesse dia, lhe estava a saber bem. Como se aquelas gotas fossem, de certa forma, terapêuticas. E tivessem o poder de lavar o corpo e a mente.
Seria o céu a chorar, pelos que estavam em terra?
Para os aliviar? Para se solidarizar com estes?
Certo era que as "lágrimas" que caíam ficavam marcadas nas folhas verdes, como o orvalho que costuma cair de madrugada.
Colocou o gorro, e continuou.
Não havia quase ninguém na rua.
Apenas um atleta passou por si.
Nem sequer os cães andavam a passear os donos. Nem estes, os cães.
Era perto da hora de almoço. Mas parecia manhã cedo. Quando ainda todos estavam a dormir. Ou com preguiça de sair.
Afinal, era feriado.
Duas horas se passaram.
Estava na hora de voltar.
Abriu a porta, e entrou.
Lá dentro, os semblantes carregados prenunciavam aquilo que mais temia.
Bastou um olhar para perceber, naquele momento em que acabava de chegar, que alguém tinha partido, para não mais voltar...