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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

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Histórias soltas #7

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"Em que momento é que as coisas mudaram?

Em que momento é que deixou de haver tempo?

Em que momento é que deixou de haver vontade?

Em que momento é que deixou de haver cumplicidade? Vontade de conversar, de partilhar?

Em que momento é que, sem darmos por isso, nos tornámos apenas colegas de casa?

Em que momento é que, insconscientemente, deixámos de lutar do mesmo lado, e declarámos, silenciosamente, guerra um ao outro?

Em que momento é que começámos a ser mais papistas que o Papa, e a implicar com coisas que sempre criticámos os outros por implicar?

Em que momento é que deixou de ser um prazer estarmos juntos, para ser um tormento?

Em que momento é que deixou de haver paciência, para dar lugar à irritação, à mais pequena palavra proferida? 

Em que momento é que o silêncio passou a ser algo tão desejado?

Em que momento é que, apesar da proximidade, começámos a parecer tão distantes?

Tenho saudades dos tempos em que namorar era uma coisa boa. E talvez continue a ser, nós é que nem sequer temos disponibilidade para isso. 

Eu bem sabia que era assim que as coisas iam ficar. Acontece sempre. Acontece a todos! Sim, não somos o primeiro nem o último casal em crise.

Não somos o único casal a ser engolido pela rotina, pelo trabalho, pelas obrigações, pelas responsabilidades.

No início é tudo muito bonito. Com o passar do tempo, a cobertura desvanece-se, e fica à vista aquilo que antes cobria.

Percebemos que algo está errado quando preferimos os momentos em que estamos sós, aos que estamos juntos. Quando começamos a fugir um do outro, a evitarmo-nos. Quando nos decidimos dedicar a uma quaquer actividade ou ocupação, como desculpa para passar o mínimo tempo um com o outro. Quando o ambiente se torna tenso e pesado, quando estamos juntos no mesmo espaço.

Ambos sabemos que ainda há amor. Esse não morreu. Não foi levado. Está, antes, soterrado. E é cada vez mais difícil chegar a ele e trazê-lo ao de cima.

Precisamos de tempo. Tempo é algo que não temos. Ou nem nos damos ao trabalho de tentar ter.

Porquê?

Não sei.

Será uma atitude conformista? Derrotista?

A única coisa que eu sei é que sinto cansaço, físico e psicológico. Esgotamento. E é mais fácil revestir-me de pedra, para ultrapassar cada dia que passa, mal aproveitado, mas vivido dentro do que é possível.

O que nos espera daqui para a frente? O que será de nós, a continuar assim?"

 

Caminhava pela praia, entregue aos seus pensamentos, depois de mais uma discussão sem sentido. Tinham sido várias nos últimos tempos. A praia era o seu refúgio. O seu porto de abrigo. O mar acalmava, a areia sob os pés descalços ajudava a relaxar.

Ia recordando os bons momentos que haviam passado juntos, desde que se tinham conhecido. As dificuldades também. E a forma como sempre tinham conseguido ultrapassá-las. Agora não estava a ser fácil.

Sentada na areia, ia observando o voo das gaivotas. Queria também poder voar como elas. Mas não podia. Mesmo que pudesse, não seria justo. Nem sequer sabia se seria justo estar a preocupar-se com estas coisas insignificantes, quando comparadas com tudo o que a sua irmã tinha passado, e ainda estava a passar. Ela sim, tinha problemas bem mais graves para resolver.

Mas, naquele momento, queria dar-se ao luxo de pensar na sua própria vida, e no seu futuro. Rodava a aliança no dedo até que, involuntariamente, a tirou. Estaria a chegar ao fim o seu casamento? Ou haveria ainda uma oportunidade?

Será que amar é suficiente para duas pessoas permanecerem juntas?

A aliança estava na sua mão. Bastava um gesto, e ela seria levada pelas ondas, levando também todas as esperanças de um final feliz.

Mas, seria mesmo isso que queria? Teria mesmo coragem de o fazer?

 

 

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