Justiça Cega, de Hugo Pena
A partir do momento em que ouvi falar deste livro, fiquei dividida entre a imensa vontade de o ler, porque é um género que aprecio muito, e o receio de que, ao ler esta obra, como mãe, me pudesse chocar com algumas partes da história, e ficar ainda mais preocupada do que já é habitual!
E confesso que as primeiras páginas do livro mexeram comigo, e quase me fizeram pô-lo de parte, à espera de um melhor momento para continuar a ler, de tão cruéis que são as cenas descritas.
Felizmente, o autor soube intercalar essas cenas com outras que, embora à partida não estivessem relacionadas, iremos mais tarde descobrir que tinham um ojectivo e uma ligação comum. E foi assim que continuei a ler até ao fim.
Este livro é, de certa forma, um alerta. Um alerta para a sociedade em geral mas, principalmente, para os pais.
Um alerta para o facto de que o inimigo pode estar bem próximo de nós, conviver connosco todos os dias, ser uma pessoa respeitada pela sociedade e cumpridora dos seus deveres, sem nunca dar motivos para desconfiar dela.
Um alerta para o facto de que manter rotinas pode ser meio caminho andado para o inimigo ter maior facilidade em atacar.
Um alerta para o facto de os filhos, na maior parte das vezes, terem tendência a agirem como os pais, e imitarem os seus comportamentos. Os pais são o exemplo, e se não dão o melhor exemplo, podem estar a levar os filhos a seguir esse mau exemplo, e com isso colocá-los em risco.
Um alerta para o facto de as crianças e jovens, cada vez mais cedo, aderirem às redes sociais, sem conhecimento dos pais, ou sem qualquer controlo parental, publicando muitas vezes aquilo que não deveriam, divulgando dados pessoais, mantendo conversas com estranhos que muitas vezes se apresentam com falsos perfis, com as piores intenções.
Justiça Cega é também a prova de que, muitas vezes, os criminosos saem impunes, e continuam cá fora a cometer crimes sem que a justiça lhes consiga deitar a mão ou provar a autoria dos crimes. E que, muitas vezes, à custa disso, muitas pessoas terão vontade de fazer justiça com as próprias mãos, a justiça que não conseguiram da parte da lei e dos tribunais.
A história começa com o rapto de Joana, uma menina de 13 anos que é levada para um barraco, onde fica presa, e onde será sistematicamente violada e agredida com brutalidade, tratada como escrava ou mero objecto, até ao dia em que, mostrando uma enorme coragem, apesar da sua debilidade, Joana resolve tentar escapar das garras daquele animal.
Ao mesmo tempo, vários crimes vão ocorrendo, numa altura em que o agente Martins estava prestes a gozar a sua merecida reforma, que vê assim adiada pelo pedido do chefe, para que o ajudasse nestes últimos casos.
Primeiro, aparece uma mulher morta na bagageira de um carro, à qual lhe foram retirados os olhos. Com o corpo, um bilhete "Esta também teve o que merecia. O dom não a ajudou desta vez...". O suspeito deste assassinato é Raul Ordoñez que, por sua vez, também irá aparecer assassinado, e sem mãos. Mais um bilhete para baralhar os agentes "Quem passa a vida a roubar, sem as mãos pode ficar..."
Desta vez, o suspeito é um banqueiro - Adérito da Cruz. Curiosamente, também ele será encontrado sem vida, rodeado de comida e dinheiro. "A ganância e o poder, bem como o sofrimento que infligiu em várias famílias, fez este merdoso ter o destino que merecia".
Quem também vai perder a sua vida será a amiga de Joana, que será encontrada com a língua cortada em cima do peito, e a boca cosida.
Todos os bilhetes foram deixados ao agente Martins, levando-nos a pensar que será algo mais pessoal, e que querem que ele entre neste jogo do gato e rato. E as mensagens deixadas, que pelos bilhetes, quer pela forma como são encontrados os corpos, não deixam dúvidas de que se trata de justiça feita pelas próprias mãos.
Temos ainda uma prostituta que droga os seus clientes para os roubar, e indícios muito fortes de que a mesma pode ser alguém muito chegado a Joana.
E lembram-se de Maria Nóbrega, a protagonista de "Porquê Eu?"? Também ela estará presente nesta segunda obra do autor. O que será que o destino lhe reservou?
A um determinado ponto da história, todos os indícios apontam para uma só pessoa, como autora de todos estes crimes. Os agentes sabem que foi essa pessoa, nós também sabemos, mas é preciso mais do que indícios para acusar e condenar alguém.
Lançados os dados, conseguirá Joana escapar com vida das mãos daquele monstro?
Quem será a prostituta que anda a roubar os clientes, e que acabará presa?
Será que o agente Marins será a próxima vítima do assassino?
Conseguirá o agente Neves colocar o criminoso atrás das grades?
O que liga todos estes crimes, e todas estas personagens?
Perguntas às quais só poderão obter resposta quando lerem o livro!
E não percam, ainda esta semana, a entrevista com o autor Hugo Pena!