"La vita davanti a sé" (Rosa e Momo), na Netflix
(e como um filme despertou algo que não é comum em mim)
Por norma, sou daquelas pessoas que acredita que algumas circunstâncias da vida podem levar as pessoas a comportamentos menos aceitáveis. E, como tal, de certa forma, desculpáveis.
Sou daquelas que acredita naquele pensamento de que "atrás de uma pessoa que fere, há uma pessoa ferida".
Que tem uma predisposição para querer compreender e ajudar aqueles que parecem ter problemas. Para querer encontrar o melhor, debaixo daquela carapaça que só deixa ver o pior.
Que acha que, por vezes, basta alguém que acredite nessas pessoas perdidas, que lhes mostre o caminho, que as apoie, que lhes dê a mão, que as vejam como realmente são, que as ajude a ultrapassar os traumas.
Ainda que nem sempre haja algo para salvar, e nem sempre se venha a ser bem sucedido nessa missão.
A verdade é que cada pessoa é única, diferente dos demais, e tem formas diferentes de reagir e lidar com uma mesma situação.
E se, em alguns casos, é uma questão de sobrevivência, de falta de opções, noutros é mesmo uma questão de escolha. E nem sempre se fazem boas escolhas.
Por isso, quando comecei a ver este filme, seria de supor que iria ter compaixão pelo jovem Momo, pela situação em que vive, pelo trauma com o qual tem que lidar.
Mas ele despertou o meu lado menos compreensivo, menos paciente, e mais insensível. Um lado de quem já não está para se cansar porque, por vezes, as pessoas são mesmo assim. Não adianta ajudar quem não quer ser ajudado.
E irritou-me tanto! Só me apetecia dar-lhe dois pares de estalos, para ver se acordava para a vida. Se aprendia a respeitar os mais velhos, aqueles que o tentam ajudar e querem o seu bem. Para ver se abria a pestana, e percebia que o tipo de vida que andava a levar não o faria chegar a lado nenhum, apesar do dinheiro, do prestígio, da sensação de poder. Se percebia que ele não é o único que carregava o passado às costas, e que estava a pagar o preço pelas injustiças da vida e da sociedade.
Eu só conseguia ver que Momo estava na vida que tinha, porque ele próprio a queria, e não fazia nada para mudar.
No fundo, gostava de se armar em rufia. Era pobre e mal agradecido. Convencido. Irritante. Ciumento. Invejoso. Malcriado. Egoísta. E tantos outros adjectivos me ocorreram, tal como a Madame Rosa, que acabou por acolhê-lo em sua casa (que Momo apelidava de pocilga), a pedido do Dr. Cohen, tutor de Momo.
Depois de me ter feito despejar tudo o que de pior eu poderia estar a sentir em relação ao Momo, e não sei se era esse o objectivo do filme, comecei então a ver o verdadeiro Momo.
Aquele que, no fundo, só precisava de uma presença materna, de protecção, de um objectivo na vida, e de ajuda para conseguir, com apoio, o que não conseguiria fazer sozinho.
No fundo, como perceberam o Dr. Cohen, Madame Rosa e Hamil, ele era um bom menino.
E, tal como referi atrás, coube a ele a escolha de continuar na vida que levava, ou mudar, e tornar-se uma pessoa melhor. Ou seja, a escolha estava nas mãos dele. Mas talvez ele ainda não tivesse percebido isso.
Já tinha ouvido falar do filme, e a crítica afirmava que o filme era emocionante. Pois a única parte em que chegou perto disso foi mesmo no final, em que a música da Laura Pausini deu um bom contributo.
A música
(que será submetida à consideração do Oscar para o prémio de canção do ano)
Há quem diga que é o novo "Milagre na Cela 7". Para mim, foi menos bem conseguido.
Não foi dos meus filmes preferidos. Começou enfadonho, depois stressou-me e, quando finalmente se poderia ver um outro lado, acabou.
Mostrou-nos pouco do outro Momo, que agora estava a desabrochar.
Mostrou-nos muito pouco da Madame Rosa, que tinha tanto para dar a conhecer.
E impossibilitou-nos de acompanhar a relação que se estava a desenvolver entre ambos.
O trailer do filme