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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

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Milagre Azul, na Netflix

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Do bairro degradado de Istambul (do filme Vidas de Papel), para o Cabo San Lucas, no México, onde está situada a Casa Hogar, uma organização não governamental que acolhe crianças e jovens desprotegidos e vulneráveis, salvando-as das ruas, servindo também como lar para órfãos.

 

A Casa Hogar foi uma das atingidas, em 2014, pelo furacão Odile, pelo que necessitava, com urgência, de obras de reconstrução que lhe permitisse continuar a abrigar as suas crinaças e jovens. 

Mas não havia dinheiro.

Então, na sequência da isenção de taxa de inscrição num famoso concurso de pesca, por conta do furacão, a Casa Hogar acabou por participar no evento, e ganhar, quase como um milagre, o prémio que lhe permitiu salvar a instituição.

 

Esta é a história real!

A que inspirou o filme "Milagre Azul", que agora pode ser visto na Netflix.

 

No filme, Omar é o responsável pela instituição, junto com a mulher, e estão em risco de perder a propriedade, e deixar as crianças e jovens sem um tecto, tendo que voltar para as ruas, de onde as tiraram, se não conseguirem pagar as dívidas que têm, no prazo de um mês.

A determinado momento, e perante a iminência de perderem tudo o que construiram e conseguiram até ali, riem e fazem piadas, para não chorarem.

 

Até que o organizador do torneio de pesca Bisbee's Black & Blue tem a ideia de juntar um velho pescador, que não pode participar sozinho, à Casa Hogar, que pertence à localidade e, por isso, pode competir como equipa de pescadores locais.

Só que Wade é um velho rabugento e solitário que não lida bem com companhia, nem com crianças.

E Omar terá que moderar a convivência entre todos, gerir as expectativas de todos, e ainda tentar ajudar Moco, um jovem que está entregue a si próprio, mas que oferece uma certa resistência a fazer parte daquela "casa", preferindo ficar sozinho.

 

Os primeiros dois dias não deixaram margem para dúvidas de que seria quase impossível apanhar o maior espadim, e vencer o torneio, pelo que, no terceiro e último dia, só restam duas opções: fazer batota, ou rezar por um milagre.

Omar, também ele criado nas ruas, após a morte do pai, e envolvido em alguns esquemas, juntamente com os companheiros, para sobreviver, mudou de vida. E não tenciona voltar ao mundo do crime.

Wade oferece-lhe uma solução: comprar um espadim, e simular a sua pesca durante o torneio. É a única forma de salvar a Casa Hogar.

Mas Moco sabe do estratagema, e não parece satisfeito com Omar, por este aceitar a proposta.

O que deverá Omar fazer?

Fazer as coisas bem, e arriscar perder tudo? Fazer batota, salvar a Casa Hogar, mas perder o respeito e a credibilidade junto dos seus meninos?

 

O discurso de Omar é derrotista, e deixa os miúdos tristes e revoltados com ele, por não cumprir aquilo que lhes prometeu, e terem que voltar à insegurança das ruas, e à luta pela sobrevivência.

Viver nas ruas não é fácil mas, quando é a única realidade que se conhece, as pessoas, mesmo as crianças e jovens, acabam por se adaptar, por arranjar estratégias.

Mas, quando se retiram as mesmas desse mundo, e lhes dão abrigo, elas conhecem uma outra realidade, que lhes permite baixar a guarda, as defesas, que as leva a "desaprender" aquilo que é preciso quando se está lá fora.

E é por isso que, novamente devolvidas à rua, têm ainda mais dificuldades, e correm mais perigo.

 

No filme, tal como na realidade, o "Milagre Azul" acontece, e a Casa Hogar consegue pescar o maior e mais pesado espadim.

Mas nem sempre acontecem milagres.

Na maior parte das vezes, não acontecem mesmo porque, então, se se tornassem algo banal, deixaria de ser milagres.

A Casa Hogar teve sorte. 

Mas podia não ter tido.

Tal como muitas outras não têm, por esse mundo fora.

 

Infelizmente, aquelas crianças e jovens estavam dependentes de um espadim, para conseguir o dinheiro necessário para salvar o seu lar.

Mas isso não seria preciso, se houvesse mais apoio, mais ajudas, mais intervenção daqueles que deveriam ser os primeiros a defender e proteger essas crianças e jovens.

Não é impossível, mas é muito difícil levar um barco às costas, sozinho, e tentar mantê-lo à tona quando, volta e meia, disparam contra ele, e começa a dar sinais de se poder afundar.

 

Quanto a Wade, o que ele precisava mesmo, era de conviver com pessoas, com crianças, com jovens que, apesar da sua tenra idade, também podem ter uma palavra certa a dizer.

Esta experiência, esta socialização forçada, devolveu-lhe o sentido para a vida, mostrou-lhe aquilo que é o mais importante, e que nunca é tarde para tentar mudar.