Miragem - o filme
E se vivêssemos, ao mesmo tempo, em mundos paralelos que, a um determinado ponto da nossa vida, colidissem, e nos obrigassem a escolher uma das vidas, abdicando da outra?
E se a realidade que sempre conhecemos, não é a realidade? E se aquela vida que não é a nossa for, afinal, a nossa realidade?
Confusos?
Foi assim que Vera Roy se sentiu quando, de um momento para o outro, acorda numa vida que desconhece, como se estivesse no meio de um pesadelo.
De mulher casada com David, mãe de Gloria, enfermeira, e acabada de se mudar para aquela localidade, ela passa a ser médica, sem filhos, e quase ninguém da sua anterior vida a parece conhecer.
O seu marido está casado com outra mulher e não faz a mínima ideia de quem Vera é, a não ser que foi a pessoa que o operou. A sua filha também não existe. E a casa onde morava, afinal, não é a sua.
Sim, já todos vimos este “filme” antes.
Mas, para perceber melhor, há que recuar um pouco no tempo.
Há cerca de 25 anos, numa noite de tempestade, Nico, um miúdo, saiu de casa ao ouvir gritos na casa dos vizinhos, e foi ver o que se passava. Ao deparar-se com a vizinha morta no chão, e o assassino à sua frente, Nico foge. Na rua, é atropelado e morre.
Na actualidade, Vera e o marido mudam-se para a antiga casa de Nico. Lá, descobrem uma televisão antiga, uma câmara de vídeo, e cassetes com gravações do rapaz. Durante um jantar com amigos, ficam a saber da história de Nico.
Tudo isso poderia ser facilmente esquecido, não fosse o facto de aquela televisão parecer ter vida própria, e levar Vera, no tempo actual, a contactar com Nico, que permanece em 1989, tendo a hipótese de impedir que ele seja atropelado, avisando-o do perigo. Num noite de tempestade, igual à de anos atrás. Até que se ouve um raio, e depois, nada mais.
Quando Vera acorda, não tem mais a sua vida de antes. Será um pesadelo? Terá sido atingida por algo durante a tempestade?
Desesperada, ao tentar entender o que se passou, porque ninguém a conhece, e porque não consegue recuperar a sua filha, que nunca existiu, Vera vai falar com a polícia, e submete-se a vários exames, que não acusam nada.
A única pessoa que parece disposta a ajudá-la a esclarecer o mistério, embora a situação seja extremamente mirabolante, é o inspector. Mas as buscas apenas a levam a crer que Nico não passará de uma personagem de um livro de ficção, e que estará completamente louca.
No entanto, poderá haver uma outra explicação, e uma leve esperança de recuperar a sua filha, numa luta contra o relógio, antes que a tempestade termine.
Só que, para isso, ela terá que fazer uma das escolhas mais difíceis da sua vida: de um lado, a vida que sempre conheceu, mas agora com a descoberta de muitas verdades que a mudarão para sempre; do outro, a vida da qual se começa a recordar de ter vivido, que lhe trará o amor, mas ficando a faltar uma peça fundamental, para ser completa.
E quando a única pessoa que a pode ajudar se recusa a fazê-lo a bem, Vera terá que arriscar tudo, e confiar no amor dessa pessoa, para lhe devolver o que lhe tirou, ainda que isso signifique perdê-la para sempre.
Opinião:
Confesso que, no lugar de Vera, teria, certamente, tomado a mesma decisão quanto à escolha possível a fazer.
No entanto, compreendo perfeitamente que a outra pessoa não queira abdicar do que levou uma vida inteira a conquistar.
De qualquer forma, toda esta situação tinha que ocorrer, para Vera conhecer a verdade sobre quem foi, quem é, e quem poderá vir a ser no futuro, para que os fantasmas do passado sejam libertados.
Apesar de alguma ficção científica à mistura, e de ter ficado um pouco escaldada com o último filme espanhol que vi, este surpreendeu-me bastante pela positiva.
E há uma descoberta que, logo no início, é-nos fácil de deduzir, embora todo o mistério só se revele no final.