O segurança do hipermercado (de perseguido a perseguidor)!
Ir a um hipermercado fazer compras já é tão habitual que quase nem dou pelo que acontece à minha volta, e pela presença dos outros, nomeadamente, o segurança que vigia o respectivo hipermercado.
Sei que ele lá está, por vezes vejo-o, mas é-me indiferente. Nem reparo se ele está a fazer rondas pela loja, ou se, por coincidência, calhou a passar no mesmo corredor que eu. Mais depressa o vejo na frente de loja, parado, a controlar, ou a fazer qualquer outro serviço que não o que lhe competiria.
Mas há pessoas que têm verdadeira alergia e repulsa pelos seguranças, outras que têm a mania da perseguição, e outras que não gostam de ser chamadas à atenção, mesmo quando fazem algo que vai contra as normas do hipermercado, e ainda se acham donas da razão.
É função do segurança zelar pelo estabelecimento que está a vigiar, quer fazendo cumprir as normas, quer evitando danos nos produtos à venda e eventuais furtos.
O segurança está apenas a trabalhar, como nós também trabalhamos. Não tem que ser nosso inimigo, a não ser que tenhamos algo a esconder ou a temer.
Por isso, não compreendo algumas reacções dos clientes relativamente aos seguranças.
Por exemplo, se a função do segurança é fazer rondas pelo hipermercado, e calha passar duas ou três vezes pelo mesmo sítio que nós, não temos que imaginar de imediato que o segurança nos anda a perseguir, com medo que roubemos alguma coisa. Se não temos nada a temer, é deixar andar, e ignorar, ou então falar educadamente com o segurança, se estamos assim tão incomodados.
Se é norma do hipermercado que não se deve consumir produtos deste dentro do mesmo, porque ficam os clientes tão ofendidos quando são abordados pelo segurança que apenas, no cumprimento da sua função, os informa de que tal não é permitido?
É certo que o vamos fazendo, e na maioria das vezes ninguém diz nada, mas a verdade é que sabemos que não o podemos fazer.
Eu tenho tido sorte. Já cheguei a abrir garrafas de água e beber, dentro do hipermercado. Já cheguei a comprar pão para a minha filha, ela comer, e eu levar a embalagem vazia para a caixa, só com o valor a pagar. Nunca ninguém me disse nada. Nem a mim, nem a ninguém que eu tenha visto.
Mas, se dissesse, eu compreenderia, ou explicaria o motivo e deixava que ele, se quisesse, me vigiasse para confirmar se eu pagava o produto ou não.
Há necessidade de fazer logo um escândalo, chamar gerência, fazer reclamação, por algo que foi o cliente que não cumpriu?
Dizem alguns que isto é excesso de profissionalismo, que há muita coisa que mais vale ignorar, fechar os olhos, porque não vale a pena os problemas que o segurança depois tem, e as guerras que compra, por cumprir a sua função.
E quando se passa de perseguido a perseguidor, e vice-versa?
Antigamente, o meu marido estava no lugar do cliente, agia como cliente, e sentia como cliente. Quando passou para o lado de lá, passou a ter que justificar aos outros aquilo que, antes, ele próprio criticava!
Sempre que ele tenta justificar a sua atitude, enquanto segurança, eu lembro-o: "Estás a provar do teu próprio veneno! Agias exactamente como esses clientes!"
Quando passamos para o outro lado, passamos a compreender como se sente quem está no oposto.
Se, como clientes, vamos ao supermercado e tiramos um ou dois bagos de uva para provar, ou algo do género, e ficamos contentes por ninguém nos chamar a atenção, porque havemos nós de fazê-lo aos outros?
Se, como seguranças, sabemos que temos que andar por onde andam os clientes e estar de olho em tudo, porque é que, no lugar dos clientes, nos sentimos incomodados?
Será o profissionalismo levado ao pormenor, algo errado e prejudicial?
Haverá uma medida certa para sermos profissionais, sem que os outros se sintam incomodados?
Existirá alguma linha que separe o que é realmente importante e deve ser cumprido, e aquilo que mais vale ignorar e deixar passar?
Talvez haja. E talvez resida no bom senso de ambas as partes, como em tudo na vida!
Se estivessem no lugar de clientes, o que levariam a mal, no modo de actuação de um segurança, e o que considerariam normal e compreensível?
Já vos aconteceu alguma situação menos boa ou caricata com estes profissionais?