"O Último Fôlego", de Alison Belsham
Os assassinos estão cada vez mais criativos no que respeita à forma como cometem os seus crimes.
Com técnicas mais rebuscadas.
Já não matam só por matar.
Matam para transmitir mensagens. Para se punir a si próprios.
Para torturar, e fazer sofrer as vítimas.
Já não é apenas um acto impulsivo, do momento, uma mera vingança.
É algo planeado, complexo, estudado ao pormenor.
A morte já não é, apenas, a morte.
É prazer. Necessidade.
É uma espécie de "alimento", de satisfação, de realização pessoal, de propósito de vida, para quem a leva a cabo.
Em "O Último Fôlego", a morte vem na forma de estigma, com pés e mãos esburacados, e de veneno, infiltrado no corpo das vítimas, através da tinta que o assassino usa para tatuar as mesmas.
Mensagens em latim. Que parecem apontar para algo religioso.
E desenhos, estes feitos com tinta ultravioleta, que parecem não fazer sentido, quando analisados em cada vítima, separadamente mas, juntos apontam para um mapa.
O que é certo é que as vítimas sucedem-se, uma atrás da outra, sem que os médicos as consigam salvar da morte.
O único elo aparente de ligação é Alex, namorado da primeira vítima, amigo da segunda, frequentador da mesma faculdade que todas elas, e primo da quarta vítima.
Ele é filho de pais que têm, como profissão, fazer tatuagens.
Os antecedentes da mãe não abonam a seu favor.
Mas há um pormenor que leva alguns investigadores a considerá-lo o principal suspeito: é preto. E a sua cor de pele é logo uma grande desvantagem, num mundo de brancos.
Assim, a polícia tenta a todo o custo, em vez de alargar os seus horizontes e linha de investigação, concentrar os seus esforços a tentar culpar Alex, ainda que sem qualquer prova ou evidência concreta.
Ao mesmo tempo que esta acção se desenrola no presente, é-nos dada a conhecer uma história paralela, do passado: a de Aimé, uma menina cuja mãe morreu de cancro, cujo irmão parece não querer saber dela, e cujo pai abusou dela durante anos a fio, sem que ninguém a protegesse.
Em que ponto é que o passado e o presente se conjugam?
De que forma estão relacionados?
De que forma, investigando o passado, poderão desvendar os crimes do presente?
"O Último Fôlego" é um livro que também, de certa forma, nos tira o fôlego, porque sabemos que mais vítimas vão surgir, que a polícia não faz a mínima ideia de quem as esteja a matar, nem porquê, e que as próprias vítimas nada podem fazer contra a morte certa que as espera.
Tira-nos o fôlego porque assistimos aos criminosos a conseguir safar-se, a "gozar" com polícia, júris e juízes, a continuar a perpetrar os seus crimes, e escapar impunes.
Tira-nos o fôlego porque nos enerva tanto racismo, tanta discriminação, tanto preconceito e julgamento, quando os verdadeiros culpados podem estar ali mesmo ao nosso lado, e ser as pessoas mais inocentes que se poderia imaginar.
Aquelas em que, à partida, deveríamos confiar.
Mas ninguém parece olhar para elas...