O verão que já não o é...
A cada ano que passa, dou menos por ele.
Parece que já não é o mesmo.
Que já não vem com a mesma alegria, com a mesma garra, com a mesma força.
Que cada vez é mais curto, ainda que tenha a mesma duração.
Os dias parecem mais pequenos que antes.
Se calhar, sempre foram, já que começam a encolher com a sua chegada.
Mas não parecia.
Não antes.
Quando, às oito da noite, ainda estávamos a sair, com pena da praia.
Quando, quase às dez da noite, ainda era dia.
Ainda dava vontade de sair à rua.
Ainda não apetecia dormir.
O verão, que parece já não o ser, cheira a um outono antecipado.
Em que uma pessoa chega ao final do dia encasacada.
Com vontade de se enroscar nas mantas.
A evitar sair, e ter que vestir camisolas quentes que já não deveria usar, nesta altura.
Sinto que o verão ainda agora chegou, e já se está a despedir, quando ainda falta mais de metade dos dias para se ir embora.
Será que ficou retido algures, e enviaram um farsante no seu lugar?
Será que o verão está, realmente, diferente de outros tempos?
Ou será que fui eu que mudei, e não o vejo com os mesmos olhos?
A verdade é que não foi por este verão que eu me apaixonei...
Mas é este verão, que vem ao de leve, que só um dia ou outro parece ganhar fôlego para se fazer sentir, e logo se vai, que tem marcado presença nos últimos anos.
Um verão cansado, desnorteado, sem rumo.
Um verão que já não traz magia, nem romance, nem aventura.
Um verão murcho, e sem sal.
Um verão que se limita a cumprir o calendário, mas não convence.