Porque é que as nossas lágrimas incomodam tanto os outros?
Ontem, dizia uma senhora para a jovem que estava a chorar à sua frente: "Aqui nesta casa, não se chora! Mesmo que as coisas não estejam bem, mostramos sempre um sorriso na cara.".
Não sei se, por ter tido sempre que se habituar a esconder aquilo que sentia, e usar esse sorriso como máscara, e agora querer transmitir isso, ou porque, simplesmente, queria consolar a jovem.
Já outra, afirmava, em jeito de brincadeira "Ela já sabe que se começar a chorar, leva logo na cabeça!"
Neste caso, porque acha que, da infelicidade, já se encarrega a vida, restando a nós ver o lado bom das coisas, e mudar a forma de pensar e encarar as situações.
Até mesmo eu, apesar de também ser uma chorona, por algumas vezes, para atenuar momentos tristes que presencio, com pessoas à minha volta, tento fazer parvoíces, palhaçadas, brincar, fazê-los rir ou, com pessoas apenas conhecidas, tentar mostrar um outro lado da mesma situação.
Se, no primeiro caso, é mesmo por gostar das pessoas e não as querer ver tristes, no segundo, é porque fica sempre aquele desconforto, aquele constrangimento, de não saber o que fazer, o que dizer, de não sermos a pessoa mais indicada para estar ali, e consolar.
Também pode acontecer achar que a situação não é assim tão grave, que justifique aquelas lágrimas.
Ou não ter o mínimo jeito, ou sensibilidade, para consolar os que estão ao nosso lado.
Seja qual for o motivo, a verdade é que as lágrimas parecem incomodar ainda muita gente. As nossas lágrimas, aos outros. E as dos outros, a nós?
Porquê?
Não sei.
É assim tão mau chorar? Mostrar os nossos sentimentos, a nossa tristeza, através delas?
Até dizem que chorar faz bem e lava a alma, que ajuda a superar e ultrapassar os problemas.
Então, porque é que os outros querem, tantas vezes, que as contenhamos, que as evitemos, que não as derramemos, pelo menos à sua frente?
Pensarão eles que isso nos torna mais fracos, mais frágeis, mais vulneráveis?
Será também isso o que pensamos, quando nos envergonhamos de estar ali a chorar à frente dos outros?
Ou por acharmos que não as, e nos, irão compreender?
E por aí?
Como reagem às lagrimas dos outros?
E os que vos rodeiam, às vossas?