Porquê Eu?, de Hugo Pena
Sinopse:
"Maria Nóbrega, é uma arquiteta de sucesso. Sempre tivera um desejo enorme de ter filhos e o seu casamento parecia inabalável. Até que, após alguns exames médicos realizados, fica a saber que o seu marido é estéril e o mesmo reage mal e não aceita essa situação. Posteriormente, começa a desconfiar de uma relação extra conjugal entre ele e Carla, a sua melhor amiga, jornalista de profissão. A partir daí, a sua vida muda completamente!
E sem perceber como nem porquê, recebe um dom que lhe permite ajudar a descobrir uma série de homicídios, de padrão bem definido, que iam ocorrendo na cidade de Lisboa.
Porquê eu? Interrogava-se constantemente.
Tudo se complica, quando as provas obtidas, indiciavam haver uma grande relação entre os suspeitos e os crimes, e parecia não haver dúvidas quanto à culpa de Jaime Nóbrega, seu marido, e Pedro Neves, jovem agente estagiário da Polícia Judiciária, incumbido dessas mesmas investigações, que se vêm inesperadamente a braços com sucessivas tentativas para provarem a sua inocência.
Mas será que o dom que Maria havia recebido, traduzido em várias visões que conseguia ter, e numa voz que se fazia ouvir nos momentos mais delicados da sua vida, iriam ajudá-la a perceber se… tudo é o que parece?"
Como tudo acontece
Maria Nóbrega é uma arquitecta bem sucedida que tem em mãos um ambicioso projecto - a construção do futuro Hotel da Serra da Estrela.
Com um casamento feliz ao lado do seu marido, Jaime Nóbrega, a única coisa que lhe falta para se sentir plenamente realizada é ser mãe.
Mas esse sonho depressa se torna um pesadelo, no dia em que ambos são informados pelo médico que Jaime tem um problema, e pode nunca conseguir engravidar Maria, pelo menos de forma natural.
A partir desse momento, Jaime irá cair numa espiral de desgraças, refugiando-se no álcool e provocando desacatos em locais públicos. É também por culpa do álcool que Jaime falha os seus compromissos de trabalho, colocando a empresa do seu patrão em maus lençóis, o que leva ao seu despedimento imediato. E, como se não bastasse, é multado por ir a falar ao telemóvel enquanto conduz. E não, não era com a mulher que ele falava. nem tão pouco com um amigo, colega ou mesmo com o patrão. Era com a sua amante Carla que, só por acaso (ou talvez não), é a melhor amiga da sua mulher!
Carla é uma jornalista conhecida por não olhar a meios para atingir os seus fins, obtendo muitas vezes informações de forma duvidosa ou mesmo ilegal, ou através de acordos vantajosos para ambas as partes, como será o caso do agente da Polícia Judiciária Pedro Neves. Uma mulher que desde cedo se mostrou demasiado competitiva, querendo sempre ser a melhor em tudo o que faz, nem que para isso tenha que "atropelar" quem se atravesse no seu caminho, até mesmo as suas amigas. E com a sua amiga de infância, Maria, ao que parece, não é diferente.
Devido a todos estes acontecimentos, o casamento de Maria e Jaime já viu melhores dias, com ele a revelar-se uma pessoa problemática e agressiva, com atitudes muito estranhas, e com Maria a tentar que ele se volte a erguer, sem grande sucesso e, ao mesmo tempo, com a quase certeza de que é traída pelas duas pessoas em quem mais confia.
Mas não é esse o único problema de Maria. Desde o dia em que lhe ligaram do clínica, a marcar a fatídica consulta, que lhe andam a acontecer coisas estranhas. Primeiro, foram as dores de cabeça, as náuseas e os suores, sem qualquer explicação plausível. Depois, os flashes e luzes intermitentes, e os sonhos com episódios do seu passado. Foi então que vieram as visões repentinas relacionadas com crimes, a sensação de presença de uma força estranha perto de si, e a voz! Uma voz que lhe diz para ser forte, para fazer o que tem de ser feito, para não confiar em ninguém. Uma voz que lhe diz que ela será uma peça fundamental naquele jogo de xadrez.
Tudo começa a fazer mais sentido quando Maria constata que as visões que tem são de crimes que já ocorreram ou vão ocorrer, e que só ela pode evitar. Assim, o que começou por lhe provocar algum receio e desorientação, começa então a ser encarado como um dom. No entanto, uma dúvida persiste na mente de Maria: "Porquê Eu?".
Será porque, curiosamente, é o seu marido o principal suspeito de ter cometido esses crimes que ela previu? A verdade é que todas as provas apontam nesse sentido. Ele não esteve em casa nas noites dos crimes, é encontrado sangue seu perto do local de um dos crimes, e há ainda um facto curioso - as mulheres assassinadas estavam grávidas!
Ou será Maria, pelo contrário, a peça fundamental para, apesar de todas as evidências, provar a inocência do marido?
E qual será o envolvimento do agente Pedro Neves nos crimes que continuam a ocorrer, e cuja arma do crime é precisamente a sua?
Quando todas as provas parecem apontar para estes dois homens e, inclusive, para a conivência da própria Maria, conseguirá ela, com as suas visões, perceber quem é o verdadeiro culpado? Ou não passarão, essas visões, de uma mera distracção, para esconder algum segredo que não deve ser revelado?
Posso dizer-vos que será muito fácil aos leitores descobrir quem está por trás de todos estes assassinatos. Basta estarem atentos alguns pormenores a que o autor vai fazendo referência, e que são a chave para deslindar tudo.
Quanto à questão que dá nome ao livro, e que Maria colocou vezes sem conta, relativamente ao seu suposto dom, pergunto também - Porquê Maria?
A resposta é bem simples: Porque tinha que ser ela! Só poderia ser ela!
Opinião
Gostei muito da forma como a trama se foi desenrolando, e do surpreendente final! Apesar de ter percebido antes quem era o verdadeiro culpado, é no final que se fazem as grandes descobertas, os motivos, as explicações. E é no final que ficamos a saber a quem pertence a voz que Maria afirma ouvir.
Este livro marcou a estreia de Hugo Pena, o seu autor, na escrita de romances policiais, em 2013, com a chancela da Chiado Editora. Em 2014, lançou "Justiça Cega", que lhe valeu o prémio "Escritor do Ano de 2015", atribuído pela ARTE, associação sem fins lucrativos do Algarve que premeia a nível nacional quem se distingue na música, rádio, televisão, teatro ou escrita.
Brevemente, poderão saber mais sobre este segundo romance policial e sobre o autor, com quem irei estar à conversa na rubrica semanal deste cantinho.
Só vos posso dizer que gostei tanto destes dois livros, e da forma como a história nos é apresentada pelo autor, que já anseio pelo próximo!