Preconceito, rótulos ou pura realidade?
Como disse um dia Albert Einstein "É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito".
Até mesmo aquelas pessoas que afirmam não ser nada preconceituosas têm, por vezes, pensamentos ou atitutes que demonstram que não é bem assim.
Mas, o que será que nos leva a rotular determinados grupos, a demonstrar preconceito por determinadas pessoas? Será pura ignorância, valores errados que lhes foram incutidos, um perfeito absurdo, ou apenas a constatação da realidade?
É verdade que não devemos julgar o todo pela parte. Cada pessoa é como é, diferente de todas as outras, e pessoas boas e más existem em todos os grupos sociais e culturas. Não somos melhores nem piores que ninguém.
No entanto, porque é que, por exemplo, os ciganos, são tão temidos e ninguém gosta deles? Não será porque, frequentemente, vemos os mesmos envolvidos em confusões ou em cenas de violência? O mesmo acontece em relação aos ucranianos. Mas isso acontece com todos, não é só com eles.
As mulheres brasileiras, por exemplo, foram muitas vezes rotuladas de "destruidoras de lares". Mas será que os homens portugueses só começaram a trair as suas mulheres quando chegaram cá as brasileiras? Duvido muito!
Um outro exemplo são os bairros em que a maioria dos habitantes são pretos. Muitas pessoas evitam frequentar estes bairros com receio de assaltos, violência e outro tipo de crimes. E associam estas pessoas a delinquentes, jovens em risco, gente que não faz nada na vida porque não quer, que anda no mundo da droga.
Eu própria tenho amigas que são negras, com quem me dou bem e, de uma forma geral, não tenho nada contra quaisquer outras raças, mas será que me sentiria segura num bairro destes?
E quando falamos de ex presidiários? Ou pessoas que, um dia, cometeram determinados crimes? O meu marido estava no outro dia a ver um filme em que havia dois jovens - o primeiro, rico mas cego, cujo único problema era sofrer de bullying; o segundo, pobre, já tinha efectuado alguns furtos mas estava a tentar endireitar a sua vida, e ajudava o primeiro nas suas competições. Ficaram amigos. No entanto, quando supostamente desapareceu um relógio de ouro ao primeiro, o seu pensamento foi de que poderia ter sido o seu amigo a roubar-lhe o dito relógio. É um pensamento automático, involuntário ou não, mas que chega antes que o possamos evitar. Afinal, o relógio estava apenas caído no chão.
E o mesmo acontece a quem já esteve preso por determinado crime. Se o fez uma vez, é provável que faça uma segunda.
Mais recentemente, temos o caso dos refugiados e dos terroristas. Mesmo sabendo, até por todos os casos de que já ouvimos falar na televisão, que um terrorista pode ser um americano que pegou numa arma e se lembrou de matar não sei quantas pessoas só porque sim, um inglês que estava deprimido e resolveu andar à facada a toda a gente, ou até mesmo um português, quem sabe nosso vizinho ou conhecido, que afinal era um violador ou serial killer, ainda assim talvez nos sintamos mais seguros num ambiente onde não estejam vários muçulmanos. Porque, embora não queiramos pensar que em cada muçulmano há um terrorista com uma bomba prestes a explodir escondida, a verdade é que esse pensamento é, muitas vezes, mais forte que nós e damos por nós a querer sair dali depressa.
Ou seja, embora todo e qualquer preconceito seja uma forma de discriminação e violência, existem aqueles que são totalmente infundados e sem cabimento, outros que resultam de rótulos que foram sendo atribuídos ao longo dos anos, talvez por situações que já aconteceram com membros desses grupos sociais ou culturas, e que servem agora para julgar o todo pela parte, e aqueles que se baseiam em factos reais e concretos.
Se é possível erradicar de vez estes preconceitos? Acredito que possamos tentar ser mais tolerantes, compreensivos e evitar julgar as pessoas sem as conhecer, ou formar juízos de valor tomando o todo pela parte. Mas não me parece que seja possível eliminá-lo de vez. Porque, mesmo sem querer, há-de vir sempre aquele pensamento, aquela desconfiança, aquela insegurança que, embora nem sempre resulte em atitudes preconceituosas directamente contra as pessoas em causa, está lá, mesmo que apenas na nossa mente.