Quando a possessividade e o despotismo dos pais estragam a vida dos filhos
Quando vejo, actualmente, situações destas, vem-me sempre à memória o caso de uma antiga vizinha minha, e da sua filha, alguns anos mais velha que eu.
Estava eu na pré adolescência, quando esta rapariga começou a namorar.
Antes, andava sempre com a mãe para todo o lado, tal como hoje a minha filha anda comigo e, até aí, nada de mais.
Como dizia, ela começou a namorar e o rapaz foi aparentemente bem aceite pela futura sogra.
Aparentemente porque, se pela frente, era toda sorrisos e amabilidade, pelas costas, envenenava a filha contra ele, provocava intrigas, arranjava forma de se chatearem até que, um dia, conseguiu o seu propósito, e a relação acabou.
Tinha a filha para si, novamente. E esta situação repetiu-se até a rapariga se tornar uma mulher de quase 40 anos, solteira e sem qualquer namorado, porque a mãe se encarregava de estragar qualquer relação que ela tivesse.
Felizmente, a filha teve coragem de, a determinada latura da sua vida, se impôr. Hoje, tem um companheiro, e dá-se bem com a mãe mas houve alguns anos em que a relação entre mãe e filha ficou tremida ou mesmo cortada.
Dá a ideia de que a mãe queria a filha só para ela, o tempo todo ao seu lado, sem a deixar viver a sua própria vida.
Existem pais que conseguem, de tal forma, fazer uso do autoritarismo que exercem, e da manipulação que fazem com os filhos, que os sufocam, não os deixando ter vida, amigos, relações amorosas.
São pessoas que pensam apenas em si próprias e naquilo que lhes faz falta, sem se importarem com o que os filhos querem e precisam. Na verdade, os filhos não têm direito a qualquer opinião ou escolha.
E se há os que se vão deixando manipular, os que vão aceitando, os que se vão sujeitando porque não têm outra hipótese, também há os que, mal possam, fogem destas relações destrutivas, deixando aqueles que, nem por um momento, pensaram na sua felicidade.
Não percebo como é que estes pais não vêem isso, que quanto mais prendem e sufocam os filhos, mais depressa se arriscam a perdê-los.
Não percebo como é que existem pais para quem a única vontade, os únicos desejos, os únicos interesses, os únicos amigos, as únicas actividades e os únicos passeios que contam, são unica e exclusivamente aqueles que os pais querem e gostam. Não pensam nem um único momento nos filhos?!
E depois, no meio de todo este autoritarismo, egoísmo e possessão, acabam por, muitas vezes, negligenciar e deixar por sua conta esses filhos, se eles não fizerem a sua vontade.
Acabam por não se preocupar com o mais importante. Acabam por ser pais frios, desligados.
Acabam por criar filhos desestruturados, problemáticos, infelizes, tímidos, vulneráveis, estragando-lhes, a longo prazo, a vida, se eles não se conseguirem impôr e dar a volta.