Quando as aparências contam mais que tudo o resto
Estava a ter início o estado de emergência, quando começaram a fazer alguma coisa neste edifício.
Pelo que soube, havia um comodato à Santa Casa da Misericórdia mas, como nunca chegaram a fazer nada, o edifício voltou para as mãos da Câmara Municipal, que entendeu que era urgente a intervenção, uma vez que estamos numa zona que até tem ao lado uma igreja e um palácio históricos, e não era estético.
Além disso, era usado para fins menos próprios, pelo que era preciso cortar o mal pela raiz.
E eu pensei "Mais vale tarde, que nunca. Ao menos, que dêem um uso ao edifício".
Assim, como podem ver, toda a frente foi pintada, as ervas do quintal arrancadas, todo o lixo retirado e, apesar de não se conseguir ver, levaram o mobiliário velho que lá havia dentro.
Para evitar intrusos, entaiparam portas e janelas, à excepção de uma lá no alto.
Só que, para já, foi mesmo só isso que fizeram.
Durante anos, este edifício esteve assim: degradado, abandonado, esquecido. Servia para actos de vandalismo, para morada de drogados e sem abrigo, para colónia de gatos, para depósito de lixo.
Agora, é verdade, tem outro aspecto. Está mais bonito. De cara lavada.
Mas falta tudo o resto.
De que adianta esta bonita aparência (que mais dia menos dia tende a desaparecer), se o edifício ficar, de novo, mais uns quantos anos sem qualquer uso ou utilidade?
Só para ficar bem na fotografia?
Imagens: Marta e jornaldemafra