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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

"Quem és? Que pensas? Onde estás?", de Manuel Segão

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Sabia que o meu pai tinha escrito um livro.

Lembrava-me da capa - branca com riscas azuis e três perguntas - mas não fazia ideia do conteúdo.

Nunca tive nenhum exemplar.

Talvez porque, na altura em que foi impresso, eu tinha apenas cerca de 3 anos. 

Mas achei estranho (e o meu pai sempre disse que teve que fazer muitos e andar a tentar vendê-los para recuperar o investimento), ele próprio não ter guardado um livro para si.

 

No dia do funeral, perguntaram-me pelo livro.

O meu irmão disse-me, mais tarde, que tinha ideia de ter em casa um, mas teria de procurar.

Este fim de semana, encontrou-o, e trouxe-me para eu fotocopiar.

Uma tarefa difícil já que o livro é antigo, e as páginas começam todas a soltar-se.

Portanto este é, assim, o único exemplar na família: uma autêntica relíquia e raridade.

Os outros, centenas ou milhares, não faço ideia onde estejam.

 

Impresso em 1982, uma edição de autor, um desejo e sonho concretizado na época.

Confesso que não é muito o meu tipo de leitura, mas sempre tem algumas informações sobre a sua infância, sobre os seus traumas, de uma altura em que ele era mais novo e que, provavelmente, nunca partilhou com a família.

E a forma como conseguiu dar a volta, e mudar o seu pensamento.

 

Deixo aqui alguns excertos, que me marcaram mais:

 

"Tinha, então, seis anos quando minha mãe... faleceu."

"...no momento em que eu mais precisava de carinho, de amor, de compreensão, de ajuda, de apoio moral, numa fase em que a minha consciência estava em formação...fiquei sem estes valores indispensáveis  e essenciais de formação da consciência de um ser humano."

"Recordo-me que minha mãe, antes de falecer, pediu ao meu pai que fosse buscar um livro, para ela partir com a certeza de que eu iria estudar. Mas não há dúvida, não havia mais possibilidades de continuar a estudar e aos 11 anos lá fui eu para o campo."

 

"Confesso que o aspecto da questão financeira, juntamente com todos os outros, provocaram em mim um sentimento de miséria, de complexo de inferioridade, de frustração, em suma, de derrota, que me perseguiram durante muitos anos."

"Mas, paralelamente a todos esses factores negativos, havia em mim, de facto, um desejo de liberdade... Mas de uma coisa estava consciente. Se queria liberdade teria de a encontrar por mim próprio..."

 

"...é o ser humano que se precipita, se desorienta e se descontrola... e, nesta ignorância, quer controlar tudo e todos, porém não se controla a si próprio... quer dominar, não se domina a si próprio. Quer conhecer, mas não se conhece a si mesmo."

 

"Escuta com atenção: os valores essenciais da vida são o amor, a paz de espírito, a verdade, a honestidade, a sinceridade e o conhecimento."

 

"Segue em frente, com coragem, busca a sabedoria e o conhecimento, custe o que custar, acha a paz interior sem a qual a vida é um inferno, obtém o domínio próprio, a sanidade mental e o conhecimento de ti próprio."

 

 

 

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