Respirar
Respirar…
Algo tão natural, tão básico, tão inato, a que ninguém presta atenção.
E, ainda assim, essencial para a nossa sobrevivência. Um claro sinal de que estamos vivos.
Respirar…
Algo que faço constantemente, quase sem dar por isso.
Como se o meu corpo fizesse todo o trabalho por mim.
Respirar fundo…
Aí, sim, percebemos que estamos a respirar.
Acaba por ser, de certa forma, um acto menos involuntário. Fazemo-lo, muitas vezes, propositadamente. Com alguma intenção, que não a mera sobrevivência.
Respirar fundo…
Passou a ser o meu respirar normal. Aquele que era suposto ser involuntário, e fazer-se sozinho.
Passei a ter que respirar. Frequentemente. Passei a ter que assumir essa função que deveria ser do meu organismo.
Falta-me o ar…
Sim. Algures, por entre a respiração normal e superficial, sinto que o ar fica perdido pelo caminho. E não chega onde deveria.
E, então, tenho que ir eu buscá-lo. Ver se ele ainda cá está.
Falta-me o ar…
Como num ataque de pânico, mas sem o pânico.
Como numa crise de ansiedade, mas sem a ansiedade.
Como se tivesse o nariz entupido, mas sem o estar.
Como estar com uma máscara na cara, mas sem ela.
Cansaço…
Respirar assim, relembra-me que ainda tenho ar. Mas cansa.
E junta-se ao cansaço que já sinto, pelo simples facto de fazer as tarefas mais simples.
Cansaço…
Ter que parar a meio, porque estou cansada, e me falta o ar.
Ter que me sentar, porque estou cansada, e me falta o ar.
Estar deitada, e ter que escolher a melhor posição, para que não me falte o ar, ainda que demore a controlar.
Ter que dormir com medo que me falte o ar, e não acorde.
Desde quando, respirar, passou a ser algo que se controla, que se programa, que se pensa e faz conscientemente?
Quero voltar a respirar, sem ter que pensar que tenho que respirar...