No reino de Natura, havia um menino a quem chamavam o "adivinhador de sonhos", porque ele costumava, através das suas bolhas de sabão, imaginar os sonhos daqueles que o rodeavam, ainda que, raramente, acertasse em algum.
Mas ele não desistia e, por onde passasse, levava sempre consigo o que precisava, e distribuía bolhas coloridas pelo ar.
Um dia, ao passar por umas flores, ouviu a conversa entre estas, em que uma dizia às outras "Ah, como eu queria...", e logo o menino interrompeu, afirmando:
- Espera, não digas! Vou tentar adivinhar!
E, ao formar a primeira bolha, disse:
- ... como tu querias ser uma Sakurasou (que simboliza “desejo” e “amor duradouro”), e ser apreciada num dos mais belos jardins japoneses!
Algumas flores riram-se de tal ideia, e disseram-lhe que tinha que apurar mais o seu poder.
O menino tentou de novo.
- ... como tu querias ser uma flor exótica, como a Alamanda, e estar agora na imensa floresta amazónica!
Perante a expressão que as plantas fizeram, percebeu que tinha errado de novo.
E, de novo, fez mais uma bolha.
- ... como tu querias ser um Saguaro e habitar no Deserto de Sonora.
- Oh rapaz, estás muito longe de acertar. Deixa-te disso.
- É desta, responde ele! - fazendo surgir uma bolha ainda maior no ar
- ... como tu querias ser uma King Protea, exuberante, de cores vivas, e deslumbrares os visitantes do jardim botânico Kirstenbosch da Cidade do Cabo!
E logo fazendo mais uma bolha, antes que lhe dissessem que continuava a errar:
- ou ser uma daquelas belíssimas tulipas num dos campos da Holanda!
Expectante, olhando para a flor, na esperança de, finalmente, ter acertado, compreendeu que a tarefa era mais difícil do que tinha imaginado.
A flor, com pena do menino, que tanto se esforçou, explicou-lhe então:
- Sabes, esse é o grande problema de vocês, humanos.
- Pensam sempre em coisas grandiosas, vistosas, famosas.
- Querem sempre viajar para ali, para acolá, achando que aqui nunca encontrarão nada que vos agrade.
- Eu sou o que sou, e como sou. Não quero ser outra. Gosto de mim assim. E gosto de estar aqui.
- Quem me conhece, e está comigo, também me aceita como sou.
- O que eu estava a dizer, quando me interrompeste, era como eu queria que vocês, humanos, dessem mais valor àquilo que está mesmo à vossa frente, por mais insignificante que vos possa parecer.
- À simplicidade.
- Que percebessem que também podem ser felizes, sonhar e viajar, conhecendo o lugar onde estão, antes de ir para outros.
O menino, muito admirado com o discurso da flor, acabou por admitir que ela tinha uma certa razão.
- Já sei! - disse o menino
- Vou fazer mais umas bolhas. E nelas, vou "enviar" tudo o que de bom temos aqui no reino.
- Assim, as pessoas que as virem no ar, ficam a conhecê-lo. Quem sabe não nos transformamos num destino turístico como os que há por esse mundo fora!
Pensa a flor, para com as suas folhas:
- Santo deus! Não percebeu nada!
Também participam:
Maria Araújo
Bruno
Triptofano
Maria
Bii Yue
Ana D.