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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

1 Foto, 1 Texto #14

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Tombou...

Encontrámo-la assim, caída.

 

Aguentou-se ali, firme, durante décadas.

Mostrou-se viva, resplandecente.

Deu flores. 

Deu frutos.

Tratavam dela, e ela retribuía à sua maneira.

 

Com o passar dos anos, foi sendo esquecida.

Abandonada à sua sorte.

Continuava a haver gente de volta dela, mas só para ver se dela ainda podiam tirar alguma coisa.

Mas, o quê?

 

A cada dia, a cada mês, a cada ano, foi perdendo a vida.

Limitava-se a estar ali.

Ainda estava, apesar de algumas não terem tido a mesma sorte.

E ia sendo o suficiente.

 

Mas o tempo causa estragos.

A indiferença, a negligência, as adversidades, causam danos.

Ainda que não sejam visíveis, ou imediatos.

 

Não sabemos se o "fardo" que carregava se tornou demasiado pesado, para as suas raízes envelhecidas.

Se não aguentou mais lutar contra aquilo que não pode, e que é mais forte que ela.

Se algo, ou alguém, ajudou a este desfecho.

 

E que importa?

Irão tirá-la dali. Menos uma.

Daqui a uns dias será esquecida.

Como se nunca lá tivesse estado.

 

Mas, pelo menos agora, não tem que lutar mais.

Talvez esta fosse a sua hora de partir.

Para um mundo onde seja mais respeitada, apreciada, cuidada.

 

Aqui, cumpriu a sua missão.

E, agora, despede-se, de forma triste.

Quebrada, mas com a dignidade que lhe restou.

 

É uma ameixoeira, aquela de quem falo.

Mas, se pensarmos bem...

 

Texto escrito para o Desafio 1 Foto, 1Texto 

 

 

Histórias Soltas #14: Desaparecida

O VAZIO¨ ¨¨

 

Desapareceu…

Naquele final de dia, que já era início de noite…

Ninguém viu.

Ninguém a viu. Ninguém a ouviu.

Era só mais um final de dia, igual a todos os outros. A caminhar pelas mesmas ruas de sempre.

E lá estavam eles, os gatinhos, como sempre.

À espera de compaixão. À espera de uma refeição.

Estava escuro, e não queria ter que lá voltar mas… Eles chamavam por ela. Eles precisavam dela.

 

Foi a casa, pegou na ração, e saiu.

Deveria ter levado o telemóvel, mas… Eram só alguns metros, no mesmo caminho de sempre.

Por vezes, pensava que, ao fazer aquilo todos os dias, já lhe conheceriam a rotina, e saberiam os seus passos mas, quem lhe quereria fazer mal?

Chegou lá, e não havia gatinhos. Mas, muitas vezes, acontecia isso. Eles iam embora, e voltavam depois.

Hesitou em entrar naquele pátio. Mas era onde estavam as caixinhas para colocar a comida, e a água para lhes colocar nos recipientes.

Tratou de tudo.

 

Estava escuro.

Era um edifício abandonado. Onde, por vezes, se abrigavam drogados, delinquentes.

Numa rua onde poucos carros passavam. E, menos ainda, pessoas.

E dizia-se que o edifício estaria assombrado. Ou que vivia lá um velho, que matava toda a gente que lá entrasse. Mas eram só lendas… Mitos…

 

Em casa, esperavam por ela.

Mas nunca chegou.

Nem nesse dia, nem nos seguintes.

Desde aquele final de dia, que já era início de noite, tinha sido dada como desaparecida…