Tal como no fim-de-semana, que ela não conseguiu aproveitar, o sol tinha vindo dar um ar da sua graça naquela segunda-feira.
E como ela gostava destes dias de primavera, logo após a tradicional mudança da hora, em que ainda era dia, quando saía do trabalho, e podia aproveitar para tirar algumas fotografias.
Apesar de trabalhar, há vários anos, como administrativa, Mariana tinha vindo a descobrir, ao longo desse tempo, algumas actividades que lhe davam prazer, e a fotografia era uma delas.
Nada de profissional, ou muito aprimorado. Até porque nunca tinha, sequer, tirado um curso para aprender essa arte. Para saber como captar o melhor ângulo, como obter a melhor imagem, o que evitar ou coisas do género.
E tão pouco tinha equipamento à altura para tal. Por norma, servia-se da velhinha máquina fotográfica digital, ou do smartphone, que lhe tinham oferecido no seu aniversário.
O que ela gostava de captar as imagens, e os momentos, na hora, fazendo-o normalmente, nas suas deslocações para o trabalho, ou de volta a casa.
Ou, mais esporadicamente, nos seus passeios ou caminhadas ao fim de semana, em locais onde predominasse a natureza, que era o que mais gostava de fotografar.
Ela gostava da espontaneidade, da simplicidade das fotos. Não queria que algo que fosse demasiado editado ou modificado, de forma a parecer mais perfeito.
Se saísse bem e gostasse do resultado, melhor. Senão, apagava, sem stress.
Naquele dia, Mariana lembrou-se de ir espreitar um sítio, do qual já lhe tinham falado, não muito longe de casa. Como foi uma decisão do momento, só tinha o smartphone consigo. Teria que servir.
E lá estava o portão de acesso ao parque, e o caminho de terra que descia até à parte mais isolada do mesmo, junto ao rio.
Fotografou as flores que foi encontrando, as árvores imponentes que a rodeavam, os arbustos que iam aparecendo pelo caminho.
Continuou pela margem do rio, captando a água límpida, as pedras que emergiam do leito, algumas folhas caídas que nele viajavam, levadas por uma leve corrente.
Atravessando algumas dessas pedras, que quase faziam de ponte, conseguiu chegar a um ponto mais alto, de onde podia avistar uma parte mais escondida do parque, quase selvagem.
Noutro dia, com mais tempo, teria que ir até lá. Mas estava a ficar tarde, e teria que se contentar em tentar tirar algumas fotos dali mesmo.
Tirou algumas. Tentou ver como tinham ficado, mas o sol a reflectir no ecrã não a deixou ver bem. Tentou mais algumas. Acabou por perceber que, sem querer, tinha ligado o flash. Maldito telemóvel.
Há mais de um ano que o tinha, e ainda não tinha atinado completamente com ele.
Estava tão focada no seu trabalho, que nem deu por uma outra mulher se aproximar, cumprimentando-a.
- Boa tarde! - disse a mulher
- Boa tarde! - respondeu Mariana, reparando que a mesma também andava por ali a fotografar.
A mulher, vendo Mariana às voltas com o telemóvel, perguntou-lhe se precisava de ajuda.
- Agradeço-lhe, mas acho que já consegui desligar o flash.
- Conseguiu tirar boas fotos?
- Se quer que lhe diga, em relação às últimas, não faço ideia. Espero que sim. Mas em casa vejo melhor. Estava só a tentar apanhar aquela zona lá mais ao fundo, mas está difícil. - disse Mariana.
- Posso tentar, se quiser.
Talvez aquela mulher tivesse mais experiência, pensou Mariana.
- Por que não? Aqui tem. - disse, passando-lhe o telemóvel para a mão.
Segundos depois, a mulher caiu inanimada no chão.
E Mariana, nem teve tempo para perceber o que tinha acontecido, porque, de repente, começou a ver tudo escuro e, também ela, apagou.