- O que vai acontecer comigo?
- Vais seguir o teu caminho.
- Mas... E eles?
- Eles?
- A minha família. Posso vê-los?
- Porque queres vê-los?
- Porque sei que estão a sofrer. Quero olhar para eles, despedir-me, dizer que estou aqui.
- Isso de nada adiantaria. Não te podem ver. Não te ouvem. Não te sentem. Não lhes servirás de consolo. E será pior para ti.
- Mas... Não é possível abrir uma excepção? Uma única vez?
- Neste momento, não. Terás que seguir em frente para aperfeiçoar a tua aprendizagem. Só depois, então, saberás o que te é possível. Mas, se fizeres muita questão, podemos dar-te, temporariamente, acesso às imagens que tanto desejas, em tempo real. Este acesso tem uma duração limitada. Depois, terás que deixar a tua vida passada, para iniciares a tua vida presente.
- O que acontece se eu não quiser avançar, deixar para trás?
- Ficarás, para sempre, presa neste limbo. Não voltarás à vida antiga, mas também não terás uma nova. Ficarás, eternamente, estagnada. E perdes qualquer possibilidade que seja, de um contacto futuro, com quem quer que seja. Tal como outros, que assim o quiseram.
- Então, o que me estás a dizer é que, para eu ter a mínima hipótese de voltar a ver os que mais amo, de comunicar com eles e, quem sabe, ser vista por eles, ainda que sem qualquer garantia, terei que abdicar deles daqui em diante.
- De forma resumida, sim. É isso.
- Mas é tão injusto. Eles estão tristes. Eu estou triste. Eles precisam de mim. Eu preciso deles.
- De momento, sim. Mas depressa vão ultrapassar. E tu deves fazer o mesmo. Libertá-los. E libertares-te. Quanto mais depressa te libertares, mais cedo iniciarás o teu processo evolutivo. A decisão é tua.
- E, aqui, há alguma hipótese de nos encontrarmos, um dia? Irei, pelo menos, encontrar quem veio antes de mim?
- Talvez sim... Talvez não... Aqui cada um tem o seu próprio caminho e aprendizagem. Pode, ou não, cruzar-se com quem gostaria.
- Ou seja, não há forma de saber o que me espera!
- Não. Só saberás à medida que avançares. Se assim o decidires. Quando estiveres pronta, virei para te acompanhar.
- E se eu não estiver pronta? Se nunca estiver pronta?
- Então, não voltarei. Ficarás entregue a ti própria.
E assim ficou, até ao último momento, sem saber o que fazer, demasiado agarrada ao que tinha perdido, para tentar pensar no que poderia vir a ganhar. Mas...
Não perderia ainda mais, se ali permanecesse?
Não valeria a pena tentar?
Então, rendida, como quem solta, e deixa voar, aquilo que, até então, tentava agarrar, ela soube o que tinha que fazer...