À Beira do Colapso, de B. A. Paris
Pequenos esquecimentos...
Pequenas confusões...
Pequenos mal entendidos...
São coisas normais que podem acontecer a qualquer um, não são?
Algum stress, receio, instabilidade emocional, quando se sabe que uma amiga foi assassinada bem perto da nossa casa, e que o assassino continua à solta, é normal, não é?
Ficar em pânico quando se recebe chamadas anónimas constantes, sem que ninguém fale, é normal, não é?
Cass achava que sim, até perceber que poderia estar a mostrar sinais da mesma doença de que a mãe sofreu - demência.
Ela já tinha reparado em pequenos incidentes, mas atribuíu-os à falta de descanso, que seria brevemente compensado, com as férias que iria gozar.
Mas depois...
Depois, veio aquela noite de tempestade, em que ela conduziu numa estrada deserta e perigosa, sem rede, viu por ali um carro parado, com uma mulher lá dentro e, apesar da hesitação, de uma breve paragem, não arriscou sair do carro, não se fosse dar o caso de ser um esquema para a atacar e, não vendo sinais da outra parte de que precisasse de ajuda, achou mais seguro seguir para casa.
A partir do momento em que soube que essa mulher que ela tinha visto, que até conhecia e com quem tinha travado uma amizade recente, tinha sido assassinada nessa mesma noite, Cass nunca mais foi a mesma.
A culpa, a tristeza e o medo de que o assassino a tivesse visto, juntamente com a dúvida que que pudesse ter herdado a doença da mãe, levaram Cass a um tal estado, que todos à sua volta se mostraram preocupados.
O que é real, e o que é imaginação?
Estará ela assim tão louca, a ponto de já não saber fazer as coisas mais simples? De não se lembrar das coisas que faz? Das decisões que toma? Dos compromissos que assume?
Onde fica a linha que separa aquilo que faz sentido, da paranoia?
Quem está do seu lado, e quem está contra ela?
Quem a apoia, e quem deseja o seu mal?
E se, afinal, ela não estiver a perder a sua sanidade mental, mas haja alguém a fazer de tudo para assim o parecer, ou levá-la a acreditar que está?
Confesso que, a determinado ponto, começa a ser exagerado tudo aquilo que está a acontecer a Cass, e tão constantemente.
Ninguém se engana assim tantas vezes. Ninguém se esquece assim tanto, ou perde a noção daquilo que faz.
Ou será que sim?
Esta é uma história que nos põe, automaticamente, a pensar em situações tão básicas pelas quais passamos, como aquela vez em que jurávamos que tinhamos deixado o carro num determinado sítio do estacionamento e, depois, andamos à procura dele que nem loucos. Ou quando jurávamos que tínhamos deixado algo num determinado sítio, e depois aparece noutro.
Há coisas que parecem não ter explicação. Ou até têm...
Desde que li, em tempos, que os crimes têm sempre um de três motivos para ocorrerem - inveja, sexo, dinheiro - ou, até, a junção de mais do que um, que tenho vindo a constatar que, nestas últimas histórias, bate certo.
Matthew é um marido perfeito, compreensivo, condescendente, mas Cass não sabe quanto tempo mais ele vai aguentar estar casado com ela, com tudo o que está a acontecer, e que afecta o seu casamento.
Rachel é a amiga que todas desejariam ter. Está lá para minimizar as coisas, dar-lhe força e animá-la. Mas já anda a perder a paciência.
John, um colega de trabalho que esteve, em tempos, interessado em Cass, também parece preocupar-se com ela, e ela sente-se bem quando está com ele.
Já aquele homem da empresa de alarmes, ou o vizinho que se acabou de mudar para o bairro, não lhe inspiram confiança, e parecem muito suspeitos.
Mas a pergunta que se coloca, no meio de tudo isto, é: Quem matou Jane, e porquê?
E, sabendo essa resposta, saberemos de que forma tudo está, ou não, relacionado com a súbita manifestação de demência de Cass que poderá, em último caso, levá-la ao inevitável internamento, sem nunca de lá mais sair, ou algo pior...
No fim, fica a dica:
Confia, desconfiando...
Acredita, confirmando...
Aceita, questionando...
Só assim saberemos quem é o nosso amigo, e o nosso inimigo.
Só assim conseguiremos munir-nos para uma luta desigual, da qual só poderemos sair vencedores ou vencidos.
E porque só assim se descobrirá a verdade.
"Cass vive momentos difíceis desde o dia em que viu aquela mulher dentro de um carro estacionado no bosque. Agora sabe que a mulher foi assassinada e que ela nada fez para ajudar. Tenta afastar o caso da sua mente, mas o que poderia ela ter feito? Se tivesse parado, teria provavelmente acabado também por ser uma vítima.
Mas, desde então, Cass anda perturbada, esquece-se das coisas mais básicas: Onde deixou o carro? Tomou a medicação? Qual o código do alarme de casa? Consumida por um profundo sentimento de culpa, a única coisa que não consegue esquecer é a imagem daquela mulher dentro do carro. e há ainda as chamadas telefónicas anónimas e a sensação de que alguém anda a observá-la. Mas quem poderá estar por detrás disso?"