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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

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Histórias soltas #6

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Houve uma pessoa, talvez a única, que realmente reparou em mim em toda a minha vida!

Foi já na minha adolescência.

Nessa altura, eu tinha conseguido fugir daquela rede que, por estupidez minha, me apanhou naquele dia, arrancando-me de uma vida que, apesar de não ser a melhor, era bem mais desejável que aquela que me foi dada em troca. Dada é uma maneira de dizer, porque paguei-a bem cara, apesar de nunca a ter querido comprar.

Nessa altura, eu andava nas ruas, a tentar esconder-me, a tentar não ser apanhada de novo. Tinha frio. Tinha fome. Tinha medo. Tudo o resto me havia sido tirado. Estava vazia por dentro. Mas precisava de me alimentar, de me fortalecer.

As pessoas que passavam por mim, simplesmente, ignoravam-me. Talvez pelo estado das minhas roupas, por acharem que era mais uma delinquente que por ali andava, uma prostituta até.

E, no fundo, com razão! Tinha sido obrigada a vender o meu corpo durante todo aquele tempo, mesmo que essas pessoas não o soubessem. Mas, pelo menos, davam-me alguma comida. Com isso não tinha que me preocupar.

Agora, mesmo quando pedia às pessoas para me ajudarem, todas viravam costas, todas fugiam como se eu tivesse uma doença contagiosa que lhes pudesse pegar só de se aproximarem.

Tinha fome, e a minha única hipótese foi entrar naquele supermercado, e tentar roubar alguma coisa para comer. Roubar, sim. Não pensem que não me envergonho disso, mas que mais podia eu fazer se ninguém me podia ajudar? Morrer? Depois de ter gasto todas as forças que ainda me restavam para fugir, não ia agora desistir da minha vida.

Era a primeira vez que roubava, e nem sabia bem como agir. Não queria ser apanhada e levada para uma nova prisão, logo agora que me tinha acabado de libertar de uma.

Não tinha uma mochila. Apenas a roupa que trazia vestida. E essa, por si só, já chamava a atenção e punha qualquer um a olhar para mim com um ar desconfiado. Era difícil não dar nas vistas.

Ainda assim, arrisquei. Deambulei pelos corredores do supermercado, à procura de algo que coubesse nos bolsos, que não tivesse códigos de barras, que passasse despercebido. Ia observando as câmaras de vigilância, e o próprio segurança do supermercado.

Quando vi que o caminho estava livre, comecei. Mas uma mão logo me deteve.

Fui apanhada, pensei, sem coragem de me virar para ver quem me segurava o braço, coberta de vergonha, e totalmente quebrada por dentro, sabendo o destino que me esperava.

Foi então que ouvi a sua voz "não precisas de fazer isso, leva o que quiseres, que eu pago", e me virei, ainda incrédula.

Pôs-me uma nota no bolso, juntamente com um cartão, e disse-me que, se precisasse de ajuda, podia ligar. Quem quer que fosse, parecia estar a ajudar-me. Ou estaria eu enganada novamente?