Enquanto espero...
... aproveito uma aberta, e procuro um banco de jardim, onde me possa sentar, e aquecer ao sol, num dia tão frio.
Por incrível que pareça, tempo não me falta.
Pelo contrário, parece ser tempo a mais, ainda que nunca o seja.
É irónico que esteja sempre a queixar-me de que me falta tempo e, quando o tenho, não o possa aproveitar como gostaria, e só queira vê-lo passar depressa.
Por mim, passam pessoas.
Estudantes, num qualquer intervalo entre aulas, ou já com o dia terminado.
Acompanhantes que, tal como eu, tentam ocupar o tempo.
Funcionários, que aproveitam a pausa para petiscar, ou fumar um cigarrinho.
Pacientes, que vão, ou vêm, de alguma consulta.
Familiares que chegam para visitas.
Poucos se atrevem a sentar.
Afinal, os bancos estão molhados da chuva que, pouco tempo antes, tinha caído.
O vento também não convida a ficar parado muito tempo.
Mas eu, deixo-me estar.
Ali, posso respirar. Aliviar a dor de cabeça. Abstrair.
Olho para o céu.
Nuvens brancas percorrem-no, em passo apressado.
Também não querem ficar ali muito tempo.
E quem quer?
O sol vai aproveitando os seus últimos minutos de esplendor.
A caminho, vêm as nuvens negras que, depressa, o esconderão.
Tiro, para memória futura, uma fotografia daquele pedacinho de paz, no meio da incerteza que me aguarda.
Levanto-me, e dirijo-me de volta ao caos, para me proteger da chuva que não há-de tardar a cair.
E espero...
Abrigada de uma intempérie. Desabrigada de outra.
Eu, e tantas outras pessoas.