À deriva...
Por vezes, sem nos darmos conta, acordamos um dia e sentimo-nos à deriva.
À deriva num imenso mar, sem terra à vista.
À deriva num imenso deserto, ou numa extensa floresta, onde não vislumbramos um único abrigo.
O nosso porto seguro, que sempre ali esteve, não existe mais. Desapareceu.
E nós, ficamos sem referência. Sem orientação.
Damos aos braços, para nos mantermos à tona. Mas não sabemos para onde nadar...
Caminhamos, porque de nada adianta ficar no mesmo sítio. Mas não sabemos para onde ir...
Remamos, mas não vislumbramos nada além de água...
Está tudo ligado mas, ainda assim, é como se um dos interruptores se tivesse desligado. E uma parte de nós deixasse de funcionar.
É provável que, neste desafio de resiliência e sobrevivência, venhamos a encontrar um novo porto seguro. Diferente do anterior, mas igualmente seguro.
É provável que, com o tempo, nos venhamos a adaptar a esta nova forma de viver. À mudança. Às circunstâncias.
É expectável que o tempo volte a pôr-nos a funcionar em "modo manual" mas, até lá, é como se nos tivessem colocado em "piloto automático".
Vivemos, mas não por inteiro.
Sentimos, mas apenas pela metade.
E o que quer que digamos, ou façamos, parece sair forçado.
Porque tem que ser.
Mas sem a vontade e o entusiasmo de antes.
Sem a energia de outrora.
Sentimo-nos à deriva...
E talvez nos deixemos levar pela corrente, pela maré...
Talvez nos deixemos levar pelo vento...
Talvez nos deixemos guiar por pontos imaginários...
Só para chegar a algum sítio, algum lugar...
Para poder descansar. E recuperar forças.
Até que consigamos discernir entre ficar, ou partir, para outras paragens.
Com energia renovada, e pelo próprio pé.