A felicidade é como um raio de sol
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Há dias que nos inspiram.
Inspiram a mudar.
A fazer.
A tomar a iniciativa.
A querer mais, e melhor.
Há dias em que nos sentimos cheios de energia, e vontade, e entusiasmo.
Há dias em que achamos que podemos tudo!
E, depois, há outros, que nos bloqueiam, deitando tudo isso pelo cano abaixo.
Há dias em que me decido a fazer uma limpeza geral à casa.
Em mudar as cortinas.
Em substituir o que está estragado.
Em tirar aquilo que não faz falta.
Em dar um destino a tanta roupa e brinquedos que lá tenho desde que a minha filha era pequena.
Em ver se dou um rumo ao meu futuro livro, encalhado há mais de 3 anos por falta de ideias (ou por ideias a mais que não sei bem como conjugar).
A fazer uma mudança.
Porque mudança gera mudança.
E, quem sabe, não leva a outras mudanças.
Depois, porque nada disto chegou a ser posto em prática no momento, vêm dias em que perco esse entusiasmo, trocando-o pelo comodismo, pela preguiça, pelo apego.
Olho para as coisas que ía despachar, e percebo que não as quero despachar, voltando a pô-las no mesmo sítio.
Olho para a despesa que vou ter, e penso que pode esperar, ficar para depois, quando der mais jeito financeiramente.
Começo a recear a mudança, e a acreditar que é melhor ficar tudo como está. Porque até não está mal.
Falta a paciência, e a imaginação.
Falta garra, e energia.
E, em vez de "pegar o touro pelos cornos" e pôr mãos à obra, acabo sentada num sofá, a fazer tudo menos aquilo que pretendia, adiando indefinidamente as acções.
Esperando por outros dias, que me voltem a inspirar, e me levem para lá dos pensamentos e ideias, que nunca se chegam a concretizar.
Porque é que tantas vezes as evitamos?
As adiamos?
Porque é que, tantas vezes, tentamos contorná-las?
Empurrá-las para outra pessoa?
Porque as tememos tanto?
Porque receamos tanto as suas consequências? Os seus efeitos?
Porque evitamos tanto assumir essa responsabilidade?
Nem sempre é fácil tomar decisões.
Nem sempre há decisões fáceis de tomar.
Ainda assim, é preciso tomá-las.
Tomar decisões implica coragem. Determinação. Que nem sempre temos.
Há inações que esperam acções.
Há momentos que pedem decisões.
Há pedidos ocultos que apelam a decisões.
Há silêncios que gritam por decisões.
Há urgências que obrigam a decisões.
A decisão que tem de ser tomada, neste momento, é necessária, ainda que não consensual.
De um lado, está o respeitar da vontade do outro. O não querer agir, para não melindrar. O acatar do desejo do outro, se isso o faz sentir melhor. Ainda que, na prática, lhe esteja mesmo a fazer pior.
De outro, está o agir o quanto antes, de forma radical, para evitar o pior. Ainda que, fazendo-o, se vá contra a vontade e desejo do outro, e se arrisque a, na ânsia de querer o melhor, levar ao pior.
E, no meio, está o tentar conseguir alguns progressos, o tentar respeitar a vontade, ainda que com algumas cedências, para que o pior não chegue nem de forma passiva, nem de forma activa, mas sem certezas de, nesse tempo, conseguir melhorar o que quer que seja. O que, provavelmente, poderá ser um arrastar negativo.
Pois, é difícil decidir...
Mas alguma decisão terá que ser tomada.
Antes que seja tarde demais.
Se não for já tarde demais...
Tantas quantas as que forem precisas, e que consideremos que vale a pena dar, se o amor ainda existir e a relação tiver hipóteses de se salvar.
Ainda quem nem sempre o amor tenha a força suficiente para, por si só, manter uma relação, ele tem que existir. Caso contrário, nenhum "remendo" que se tente colocar para manter duas pessoas unidas resultará.
Pode até colar temporariamente mas, à primeira adversidade, lá se descola tudo.
Ou, então, é daquelas colas tão fracas que, mal se coloca, escorrega, levando tudo o que era suposto colar com ela.
Por isso, como dizia, tem que existir ainda amor.
Depois, é necessário que haja amizade. E esse é um requisito que nunca se deve ignorar nem pôr de parte, quando se vive uma relação amorosa. Porque se as pessoas se deixam de ver como amigas, faltará tudo o resto.
Respeito. Porque quando este não existe, não há base de sustentação. Quando o respeito dá lugar ao desdém, ao desprezo, aos insultos gratuitos, não há relação que resista.
Honestidade e sinceridade. Não adianta esconder aquilo que se sente. Acumular. Guardar para si. Porque, mais cedo ou mais tarde, rebenta e provoca estragos, por vezes, irreversíveis.
E isso leva a outro requisito fundamental: conversar. Conversar para perceber em que ponto está a relação, o que pode ser mudado, e o que pode ser aceite, por cada um.
Verdade. Para consigo próprios. Este é, talvez, o ponto mais difícil. Porque, por vezes, a verdade é aquela que tentamos a todo o custo evitar. É aquela que está à frente dos nosso olhos, mas que não queremos ver e, por isso, vamos olhando para os lados, contornando-a. É aquela que a nossa mente já sabe de antemão, mas que o nosso coração insiste em desmentir, ou desvalorizar.
Ou então, pode ser um elo fundamental para dar o empurrão que faltava, para que a relação engrene e encarrile de vez.
Mas nunca devemos ter como base, para essa nova hipótese, qualquer outro argumento como:
- o medo de ficar só
- o medo de não voltar a encontrar o amor
- a tristeza e frustração que o fim de uma relação, na qual se investiu tudo, implica
- questões financeiras
- a existência de filhos, ou animais de estimação
- a habituação à convivência e partilha de um mesmo espaço
- a dependência emocional
- aquilo que os outros vão dizer ou pensar
- qualquer outra razão que não se baseie, unica e exclusivamente, naquilo que realmente mantém uma relação viva em todos os sentidos
Todos podemos/ devemos dar as hipóteses que considerarmos necessárias a uma relação, se acharmos que vale a pena lutar por ela, e que poderá haver futuro.
No entanto, também chegará o momento em que temos que perceber que, por vezes, essas hipóteses são apenas um adiar do inevitável.
E, quando estivermos nessa linha, não valerá a pena passá-la, enganando não só a nós próprios, como também a quem está connosco.
Quantas vezes, na vida, esperamos pelo momento certo, pela altura ideal?
Para fazer algo... Ou para dizer algo...
Mas, será que "o momento certo" existe mesmo? Ou é apenas uma fantasia que inventámos, para adiar aquilo que não nos sentimos preoparados para fazer ou revelar?
"Who are you?" - perguntou Andrea a Parvati. Ela não lhe respondeu. Não era "o momento certo". Acabaram por se separar, até que, pela mão de um criminoso, voltam a estar juntos, na tentativa de salvar a filha de Andrea - Isabella.
Andrea diz-lhe, então, que ela não sabe como ele se sente porque nunca foi mãe. E, mais uma vez, Parvati não achou que fosse "o momento certo" para lhe dizer que tinha estado grávida dele, e tinha perdido o filho, por isso, sim, sabia como isso era.
Depois, quando Andrea levou um tiro e estava a morrer, Parvati achou então que era "o momento certo" para revelar o seu verdadeiro nome, e aquilo em que trabalhava. Muito mais haveria a dizer, mas não houve tempo.
De que serviu, naquele momento, aquela revelação da verdade? Para que o outro não partisse deste mundo sem a resposta à pergunta que tinha feito antes? Para que a pessoa que abriu o jogo fique com a consciência mais tranquila, mesmo que de nada adiante no futuro?
Acredito que existam "momentos certos" para muitas coisas na vida mas, por vezes, eles não passam de uma ilusão, de uma desculpa. É o receio, a falta de coragem e a acomodação, disfarçadas.
E quando o percebemos, é tarde demais!
É bem antigo o ditado que diz que "não devemos deixar para amanhã o que podemos fazer hoje".
Talvez devamos levá-lo, mais vezes, a sério, e criarmos, nós próprios, esses "momentos certos", em vez de esperar que eles batam à nossa porta.