... quando isso significa ouvir, repetidamente, as mesmas coisas, as mesmas frases, as mesmas palavras, as mesmas queixas, os mesmos problemas, as mesmas lamentações, os mesmos planos que nunca passam da teoria à prática, as sucessivas mudanças de aspirações consoante o dia, as mesmas conversas que se fazem só porque sim, a constante necessidade de atenção.
Acho que essa pouca apetência para ouvir vem, a par com a falta de paciência, com o avançar da idade.
À primeira e, eventualmente, à segunda conversa, ainda consigo, realmente, ouvir, escutar e, eventualmente, aconselhar ou apoiar.
A partir daí, esqueçam. Ouvir o mesmo vezes sem conta, e ter que dar o feedback que esperam, outras tantas, não é para mim.
Às tantas, desligo, e já não estou a prestar atenção nenhuma.
Por vezes, se me parece que a conversa está a ir pelo mesmo caminho, e tenho confiança com a pessoa em causa ainda alerto "outra vez isso" ou "já no outro dia falámos disso". Nem sempre a conversa iria parar ao mesmo, mas o meu sistema de alarme dispara logo.
Já com quem não tenho confiança, deixo apenas de prestar atenção.
E quanto mais insistem, menos paciência tenho, menos oiço, e menos vontade tenho de conversar.
Por exemplo, de há uns meses para cá, já nem sequer atendo o telemóvel a um tio meu, porque sei que, sempre que me liga, a conversa é sempre a mesma. Fico-me por uma mensagem, de vez em quando.
O meu marido até me diz: Porque é que não atendes? Ele não deve ter com quem falar.
E eu respondo: Não sou psicóloga! Uma pessoa fala uma, fala duas, fala três vezes, as coisas não mudam, o outro não quer saber do que dizemos, então corta-se.
Pode parecer muito radical, muito brusco, mas existem pessoas que abusam, que nos sugam toda a energia, que nos alteram de forma negativa a disposição e o humor.
Podemos até ajudar as primeiras vezes mas, depois, se não fizermos esse corte, estamo-nos a prejudicar mais, do que a ajudar os outros.