O Rapaz do Pijama às Riscas
No sábado, a minha filha escolheu este filme para vermos.
Não é, por certo, o género dela, mas ela queria vê-lo, e eu aproveitei para lhe explicar um pouco como funcionavam as coisas naquele tempo, como pensavam os alemães, o que faziam aos judeus, para que serviam os campos de concentração.
Pelo menos, não está, neste momento, na mesma total ignorância que Bruno, a personagem principal deste filme, que achava que o campo de concentração era uma quinta, que os lavradores vestiam pijamas, e que poderia fazer amigos entre as crianças que por ali estavam.
Por falta do que fazer, e porque não tem ali quaisquer amigos ou entretimento, Bruno escapa-se por uma janela de um barracão nas traseiras da casa, para explorar tudo à sua volta, indo parar à vedação do campo de concentração, onde conhece um menino judeu - Shmuel.
É incrível a ingenuidade de Bruno, talvez herdada da mãe, que só mais tarde percebe quem é, realmente, o marido e o que faz ali. Mas, se o objectivo era fazer o expectador sentir empatia por Bruno, isso nem sempre é conseguido. Aliás, houve uma parte em que me apeteceu pregar-lhe dois pares de lambadas.
Porque, afinal, na maioria das vezes, filho de rico nunca chega a perceber verdadeiramente quem não nasceu com a mesma sorte, e tende a mostrar o seu carácter egoísta e medroso, quando mais se exigia coragem.
Até na parte final, Bruno vê a entrada no campo de concentração, disfarçado com o seu "pijama às riscas", como uma aventura na qual vai tentar ajudar Shmuel a encontrar o pai deste. E, mal começa a ver as coisas complicarem-se, quer voltar atrás, para a sua vidinha, para a sua segurança.
Mas Shmuel relembra-o do motivo porque ali está, e da ajuda que lhe ofereceu, levando Bruno a ganhar coragem, e seguir em frente. Só não sabia as consequências que daí adviriam.
Disseram que era apenas um banho que iriam tomar. Na verdade, estavam numa câmara de gás, a caminho da morte.
E se, de repente, fossemos os responsáveis pela morte do nosso filho? Se fizessemos a ele o mesmo que fazemos àqueles que não consideramos "gente"?
Mudaria alguma coisa na nossa consciência? Ou seguiríamos adiante, lamentando a perda como um dano colateral, numa missão nobre pela salvação da raça superior?
Chegará o pai de Bruno a tempo de impedir aquele genocídio, que ele mesmo, à semelhança de outros tantos, ordenou?