Primeiro caso de Covid-19 na turma da minha filha
Era apenas uma questão de tempo, que esperávamos que nunca chegasse, ou que viesse o mais tarde possível.
A turma escapou todo o primeiro período.
Agora, no segundo período, surgiu o primeiro caso.
O aluno infectado fica em casa.
Dois outros colegas, com quem teve mais contactos, ficam em casa e irão fazer, possivelmente, o teste.
Toda a restante turma mantém-se em aulas presenciais.
Dada a situação do concelho, que neste momento tem 2374 casos activos, estando a vila de Mafra com 553 (a um aumento diário de cerca de 30 infectados), alguns pais já decidiram que os filhos não irão à escola.
Em pouco mais de um mês, passámos de concelho de risco elevado, para risco extremamente elevado.
O Presidente da Câmara de Mafra já solicitou ao Governo a suspensão da actividade lectiva presencial, estando a aguardar a decisão que, provavelmente, só será tomada na próxima semana, quando voltarem a debater a questão do encerramento das escolas.
Sobre essa questão, do encerramento das escolas, consigo compreender os dois lados da questão.
Por um lado, não há verba para colocar os pais de novo em casa, para ficarem com os filhos. Também não existe igualdade de condições de aprendizagem para todos os alunos com estes em casa. Não é, dizem eles, o meio onde acontecem os casos de infecção sendo, sim, dos locais mais seguros. E quem vai garantir que os alunos ficam mesmo em casa, e não andam por aí a passear? Há ainda a questão de os casos em jovens não serem graves, podendo mesmo ser assintomáticos.
E seria prejudicar o ano lectivo, comprometer todo o trabalho feito até aqui.
Mas, ainda assim, está a fazer-me muita confusão esta "teimosia" do governo, e do António Costa, em não querer ver o óbvio, e adiar ao máximo o inevitável...
O que está em primeiro lugar? A vida humana, ou um ano lectivo?
A escola pode ser o local mais seguro, mas tudo o que ela implica - deslocações, almoços, paragens - pode colocar em risco quem a frequenta. Se alguém, sem saber, estiver infectado e ficar em casa, só contagia quem está em casa. Indo para a escola, por mais segura que seja, pode estar a contagiar várias pessoas. Os jovens podem não ver a doença manifestar-se em si de forma grave, mas podem contagiar outros, mais velhos, que não consigam escapar a esse cenário.
A verdade é que não existe um número mínimo de alunos por turma. Não há distanciamento. Se, até aqui, após a redução do refeitório, os alunos iam almoçando aqui e ali, distribuindo-se pelos vários estabelecimentos existentes perto da escola, ou até mesmo no parque ou jardim, agora, com as novas medidas, não o podem fazer, voltando a ter que se acumular no edifício da escola.
Nos casos em que vai toda a turma de quarentena para casa, acaba por não haver aulas presenciais para esses alunos, e podem ser prejudicados na mesma. E várias vezes por ano.
Agora, a desculpa é que, com as escolas fechadas, há alunos que ficam sem refeições, e mais sujeitos a violência, sem que essa possa ser detectada. Mas, neste caso, tal como no caso das condições, cabe ao governo zelar para que isso não aconteça e, se acontece (que acontece, e não é pouco), é sinal de que alguma coisa está a falhar da parte deles.
Apesar de tudo, a minha filha continua a ir à escola, com alguma tranquilidade da minha parte, de que tudo irá correr pelo melhor e, enquanto lá estiver, vai despachando trabalhos, testes e fazendo o normal, sem o stress do ensino à distância, e tentando escapar ao vírus.
Ela até é mais cautelosa que eu!
Mas por mais que se cumpra, por mais que nos protejamos, ninguém está livre.
E o cerco vai-se apertando...
Em casa ou na escola, com aulas presenciais ou à distância, que nenhum aluno saia prejudicado, seja de que forma for mas, acima de tudo, na sua saúde, que é o mais importante.