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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Bem-vindo, Novembro!

(1 Foto, 1 Texto #57)

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Chegou Novembro!

Estamos a dois passinhos do final deste 2024, que está a passar à velocidade da luz, por muito que, diariamente, sintamos que o tempo demora a passar.

 

Hoje é dia 1, Dia de Todos os Santos, dia de Pão Por Deus. 

Há quem, neste dia do ano, vá ao cemitério visitar os mortos. Enfeitar as campas.

Muitos, acredito, só lá vão mesmo nesta altura, para manter as aparências.

Porque há que mostrar, aos que lá vão, que as campas dos seus entes queridos não estão abandonadas.

 

Eu, confesso, há muito que não vou ao cemitério. 

Neste momento, a prioridade é cuidar dos que ainda estão vivos. Como o meu pai.

E foi por isso que, neste feriado, o levámos a almoçar ao McDonald's, como ele há muito queria, e andava a pedir.

 

Tenho a certeza que a minha mãe, onde quer que esteja, compreende que o meu pai precisa mais de mim, neste momento, do que ela, que já cá não está.

E sim, hei-de ir, um dia destes, levar-lhe flores, como ela tanto gostava em vida.

Mas hoje, o dia foi de celebrar a vida, a família, os amigos, os pequenos bons momentos!

 

Texto escrito para o Desafio 1 Foto, 1 Texto 

"Ninguém Quer Isto", na Netflix

Ninguém Quer | Nova Série de Comédia - YouTube

 

Esta é uma daquelas séries que, à partida, me passaria ao lado.

Parecia mais do mesmo, mais uma comédia romântica no meio de tantas.

Ainda assim, após ler, aqui e acolá, algo relacionado com ela, experimentei.

 

São 10 episódios, mas quase nem se dá por eles, porque são pequenos.

E sim, fala de um amor que, aparentemente, tem tanto de romântico, como de impossível: duas pessoas que não podiam ser mais diferentes, com modos de vida e personalidades opostos, de religiões distintas, apaixonam-se e terão que perceber o que fala mais alto, e do que estarão dispostos a abdicar, se quiserem ficar juntos.

 

Joanne é uma mulher solteira, que está empenhada em fugir de relações complicadas, e encontrar o amor da sua vida. É agnóstica, e tem um podcast com a irmã, em que fala frequentemente sobre relações, e sexo.

Noah é um rabino, que está prestes a concretizar o seu maior sonho de ser promovido a rabino-chefe. No entanto, ele terá que se casar com uma mulher judia. O problema é que ele, não só termina a sua relação, como se apaixona por uma "siksa".

 

Estes dois mostram como é possível, numa fase de enamoramento e em que nos sentimos invencíveis e fortes o suficiente para enfrentar tudo, acreditar que todos os obstáculos, por maiores que sejam, podem ser ultrapassados. Mas também que, com o tempo, e uma percepção mais clara, realista e altruísta, nem sempre (quase nunca) funciona assim.

O que mais gosto nas personagens desta série, é mostrarem-se exactamente como são, com todas as suas fragilidades, receios, frustrações, defeitos. É mostrarem as suas emoções, sem fingimentos.

 

"Ninguém Quer Isto" é, para além de uma comédia romântica, uma crítica à sociedade, à hipocrisia de determinadas pessoas, até mesmo, às relações amorosas, sobretudo quando um dos elementos do casal se vê "obrigado" a mudar e ser o que não é, para agradar o outro.

E às aparências que se escondem atrás da cortina de determinada religião. Como se costuma dizer, no melhor pano cai a nódoa.

 

A série explora ainda a relação de amor/ódio entre Joanne e Morgan, duas irmãs que partilham o podcast e, de alguma forma, parecem competir entre si, a vários níveis, mas que não vivem uma sem a outra.

 

Não sei se haverá uma segunda temporada, mas seria interessante ver o que iria acontecer após o final.

 

 

Ir, ou não ir, ao cemitério?

Coisas da Colônia - Alma do outro mundo - Fato Novo

 

Até há pouco tempo, o familiar mais directo que tinha, no cemitério, era a minha tia.

No entanto, nunca lá fui visitar a campa dela. Não senti essa necessidade.

Também não é, propriamente, um local onde se queira ir passear. Embora conheça algumas pessoas que adoram lá ir, como se fossem a uma festa.

Não aquelas que vão porque têm lá os seus entes queridos, e querem cuidar do que é seu, ou sentem necessidade de ir por se sentirem mais próximas. Essas, respeito.

 

Entretanto, morreu a minha mãe.

E, agora, sou presença assídua por lá.

Há pessoas a quem faz confusão ir ao cemitério. Outras, que se sentem mal.

Há as que ficam tristes.

As que querem manter as aparências. As que vão por obrigação.

E as que, talvez, queiram ir para ter o seu momento a sós com a pessoa falecida. Ainda que, por aqui, dada a proximidade das campas e a quantidade delas, seja quase impossível haver essa "privacidade".

 

Eu, confesso, costumo lá ir ao fim de semana.

Primeiro, porque fica relativamente perto de onde vivo (a escassos metros), e não me custa nada. Se fosse mais longe, não iria de propósito com tanta frequência.

Depois, porque até tem estado bom tempo, e faz-se bem o percurso.

E, por último, porque, querendo ou não, é a campa da minha mãe. 

É óbvio que ela não vê, nem sente nada, e para ela, estar uma campa arranjada e com flores, ou só terra e abandonada, é igual. Devemos cuidar das pessoas, enquanto estão vivas.

E cuidámos.

Agora, continuamos a marcar a nossa presença.

Dá-me prazer enfeitar a campa dela, com flores, da mesma forma que ela gostava de flores, em vida.

 

É uma viagem rápida.

Comprei umas plantas com flor, que se dão bem no exterior, e é só lá ir colocar água nos vasos. Assim, duram mais tempo, e não há necessidade de andar sempre a comprar. E depois, quando calha, levo umas flores para pôr na jarra.

Não é uma obrigação. É um gosto.

Vou quando posso. 

Há quem, para evitar tudo isso, tempo e gastos, opte por flores artificiais. Faz o mesmo efeito. Serve o propósito, mas... Considero isso um pouco impessoal. 

 

E é isto.

Não vou lá para "falar" com ela, que isso faço em qualquer lugar.

E não me sinto mal porque, por estranho que pareça, não me vem à mente a imagem dela, ali, debaixo da terra, enterrada.

Simplesmente vou, coloco água, ajeito as flores, e saio.

 

 

E por aí, têm o "hábito" de ir ao cemitério?

 

 

 

 

 

 

Do Dia dos Namorados...

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Não sou tão fã, como em tempo fui, de celebrar este dia.

Longe vão os tempos em que comprava peluches, cartões amorosos, e recebia flores e chocolates.

Em que planeávamos almoços ou jantares, passeios românticos.

Em que tirávamos o dia, só para o casal.

 

Não sou contra, embora já não interprete o seu significado e importância da mesma forma.

Com o avançar da idade, das relações, e das celebrações, percebemos que algumas atitudes e gestos são apenas "o que se espera", o que é suposto fazer-se, o que é suposto acontecer. Nem sempre o sentimento está verdadeiramente presente.

 

Tão pouco vou entrar numa de "ah e tal, o dia dos namorados deve ser quando quisermos".

Porque é. Ou deveria ser... 

 

Mas, mais do que um dia, que uma data, que um presente, que uma tradição, muitas vezes falta aquilo que deveria ser o mais importante entre um casal.

Para mim, um casal em que cada um tem plena confiança no outro, um casal que se compreende, um casal em que cada um sabe ler o outro, ainda que sem palavras, um casal que se complementa, que se respeita, um casal em que existe amizade e amor, tem todos os motivos para celebrar esta data.

 

Se virmos bem, poucos são os que terão verdadeiros motivos para celebrar.

Todos os outros, é só mesmo porque sim.

Para mim, foi apenas um dia normal.

Pedro Lima...

...e o que está para lá do que se vê

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Sábado à tarde, vou a casa da minha mãe e ela diz-me "Olha, morreu mais um actor. O Pedro Lima."

Fiquei atónita. Parece que, de repente, os actores se lembraram de partir novos. Ainda há pouco tempo tinha sido o Filipe Duarte.

Fui para casa a pensar nisso e, mal cheguei, fui pesquisar mais, momento em que percebi que não tinha sido por doença, ou acidente. Pedro Lima tinha-se suicidado.

Ao que parece, a mulher já estaria a desconfiar que algo de grave se poderia passar o que, a juntar às mensagens que terá enviado nessa madrugada a alguns amigos, terá levado à rápida (mas não a ponto de impedir o pior) descoberta do corpo do actor, confirmando-se a morte.

 

É-nos difícil compreender como uma pessoa como o Pedro Lima que, aparentemente, tinha "tudo" - trabalho, dinheiro, uma família bonita, amigos verdadeiros, sucesso e por aí fora - se tenha suicidado.

Que motivos teria?

Não havia nada, à nossa vista, que nos pudesse levar a pensar que ele não estivesse bem. Não havia escândalos, falta de trabalho, problemas financeiros ou familiares, nada.

O que o levaria a tal acto de desespero, quando há tanta gente em pior situação, que não o faz.

Mas os problemas, fossem eles quais fossem, estavam lá. Ainda que não se vissem a olho nu.

 

 

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Diz-se que Pedro Lima sofria de depressão. Como assim?

Se estava sempre animado, bem disposto, de bom humor, de sorriso aberto?

Estas pessoas são, por norma, as que representam mais risco. Porque escondem aquilo que sentem. Porque guardam para si. Porque não querem incomodar os outros, levá-los para os problemas que têm. Porque sofrem em silêncio, e em solidão.

Já não seria a primeira vez que lidava com a depressão quando, para todos nós, era parecia sempre um homem feliz e realizado.

E, agora, lá estava ela outra vez. Ainda que Pedro Lima desse a mão a todos, pareceu recusar-se a pedir a quem quer que fosse, que lhe desse a mão. Provavelmente, não queria incomodar. Provavelmente, achava que era algo que só a ele dizia respeito, e só ele poderia resolver.

Mas a depressão estava lá, enraizada, profunda, a dominá-lo, a puxá-lo como um polvo embora, para quem o visse, parecesse um homem liberto.

 

Diz-se que Pedro Lima tinha problemas de autoestima. 

E nós pensamos: "Problemas de autoestima? O Pedro Lima?"

Parece impossível.

Mas esta morte que tanto nos chocou, só vem provar que, por vezes, o "tudo" que achamos que as pessoas têm, não é nada do que elas precisam.

Que, por mais que os outros nos elogiem ou nos atribuam qualidades, se nós mesmos não as virmos, é como se não existissem.

Choca-nos, mas só ele saberia o que sentia, e como queria livrar-se desse sentimento. Daquilo que o ensombrava. Que o aprisionava.

 

Talvez pudesse ser ajudado. Talvez não...

Por Pedro Lima, resta desejar que tenha encontrado a paz que lhe faltava, e que esteja melhor do que neste mundo, de onde partiu.

Mas, por tantas outras pessoas, é bom que percebamos que nem tudo é o que parece. Que um sorriso pode esconder uma tristeza profunda. Que a boa disposição pode ser a camuflagem para a dor insuportável.

É uma chamada de atenção, para aquilo que, muitas veses, está para além do que se vê, ou do que nos é dado a ver.