A felicidade é como um raio de sol
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... o que não poderiam deixar de dizer, e a quem?
Os momentos que antecedem a morte de alguém funcionam, quase sempre, como uma espécie de confessionário, de máquina da verdade, de dizer tudo o que há para dizer, e desprender-se desse fardo na despedida, para que a sua passagem a outro mundo seja permitida, e em paz.
Por vezes, as pessoas carregam, durante anos, esse “fardo” de palavras que sempre quiseram dizer, mas nunca saíram, de gestos que sempre quiseram fazer, mas foram sempre adiando, de conversas que não passaram de pensamentos, de perdões que nunca foram concedidos, ou pedidos, de revelações que sempre permaneceram em segredo, e tantas outras coisas, porque nunca era o momento, porque algo as travava, porque ficava sempre para “um dia” ou, simplesmente, nunca chegaria a acontecer.
E, carregando esse fardo não vivem, muitas vezes, a vida da melhor forma, com a alegria, a felicidade, a liberdade ou a paz que poderiam ter, porque esse peso as prende a algo não resolvido.
Mas, depois, o aproximar da hora da morte tem esse efeito, qiual “varinha de condão”, de fazer, finalmente, as pessoas abrirem-se, dizerem tudo o que lhes vai na alma, confessarem os seus erros e pecados, em busca de absolvição, ou perdoar aos outros, revelar os seus verdadeiros sentimentos, porque mais vale tarde que nunca e querem que, quem cá permanece saiba, agora que essas pessoas vão partir e já não há mais nada fazer, aquilo que nunca quiseram que se soubesse, em vida.
Não seria tão mais simples, e tão melhor, se isso não dependesse da morte, para acontecer?
É certo que é, muitas vezes, apenas neste momento que as pessoas percebem que o tempo está a acabar, que é a última oportunidade que não podem desperdiçar, que é “agora ou nunca”.
E que, no momento em causa, tem sempre aquele efeito redentor.
Mas, para quem cá fica, fica sempre aquele sabor agridoce, de agradecimento, pela verdade, ainda que tardia, mas também de tristeza, por não ter acontecido antes, evitando tantas situações, mágoas, tristezas, ressentimentos, mal entendidos que se vão prolongando por anos, ou décadas, sem qualquer necessidade.
E para quem parte, a par com essa sensação de libertação, uma outra, de arrependimento, por não ter falado antes, e aproveitado melhor, enquanto podia.
Isto, quando é possível ter essa oportunidade, porque algumas pessoas partem sem o poder fazer.
Assim, mudo a reflexão para "ainda que saibam que não vão morrer tão depressa, ou assim o esperam, o que não queriam deixar de dizer já, e a quem?".
Pensem nisso, e façam-no já porque, amanhã, pode ser tarde demais!
Texto inspirado pelo último episódio da série "The Good Doctor".
Tinha a ideia de já ter visto o trailer deste filme há uns meses atrás e, quando soube que ia dar da televisão, pedi ao meu marido para gravar.
No sábado começámos a ver. O meu marido achou o início muito aborrecido, e queria escolher outro. Eu insisti que era o tal que já queríamos ver, embora no começo não conseguisse perceber a ligação.
Durante todo o filme, ele foi ficando mais entusiasmado e, à medida que a história se desenrolava, ia vivendo emoções diferentes.
Por norma, quando são temas fortes, que dão uma boa discussão, eu costumo sempre comentar e dar a minha opinião. Por isso, volta e meia o meu marido perguntava-me "achas bem?", ou "o que é que tens a comentar sobre isto?", ao que eu lhe respondia que, no final, falaria sobre o assunto.
Por vezes, é difícil emitir uma opinião, quando compreendemos perfeitamente os lados opostos da questão, e não nos cabe a nós fazer julgamentos, sobre o que foi certo ou errado.
"A Luz Entre Oceanos", ao contrário de outros filmes ou séries, não me levou a falar o que quer que fosse no momento.
Porque é tão fácil compreender o desespero a que uma mulher pode chegar, quando vê morrer filho atrás de filho, sem conseguir realizar o seu sonho de ser mãe e, de repente, como uma dádiva, um bebé surge naquela ilha isolada, como se estivesse destinada a ser criada por ela. Como se fosse uma compensação, por todo o sofrimento.
Se é errado? Sim, é. O mais correcto era comunicar a morte do pai do bebé, e informar que tinha sido encontrada com ele uma bebé que estava bem. Até porque poderia haver uma mãe, algures, desesperada, à procura da sua filha, sem saber se ela estava viva ou morta.
Mas, e se não houvesse outra mãe? E se colocassem a bebé num orfanato? Não estaria ela melhor ali com Isabel?
Teria sido uma boa decisão, e tudo correria bem, não fosse o facto de Tom, marido de Isabel, ter descoberto a mãe de Lucy, nome que colocaram à bebé, saber que a mesma a julgava morta, tal como ao seu marido, e ver o sofrimento que isso lhe estava a causar.
Tom sempre foi contra a ideia de ficarem com a bebé. Só o fez pelo amor a Isabel. Agora, o peso volta a atacar-lhe a consciência, e ele vai deixar pistas que levam à descoberta da verdade.
Se ele fez o mais correcto, embora um pouco tarde? Sim.
Coloco-me no lugar da mãe que perdeu a filha, sem saber que até já esteve frente a frente com ela, que já falou com ela, e que ela é, na prática, filha de outra pessoa.
Eu gostaria de saber a verdade, sim.
Mas, no lugar da Isabel, perdoaria o meu marido por me tirar a "filha" que eu criei durante 5 anos? Por me tirar aquilo que eu mais queria, e não podia ter?
Seria capaz de pôr tudo isso de parte, e assumir a minha responsabilidade, não deixando que ele pagasse por um crime que eu própria o tinha levado a cometer, e que ele fazia questão de assumir sozinho?
Voltando ao lugar de Hanna, mãe verdadeira de Lucy, a mesma, por intermédio das autoridades, que retiraram a menina dos braços da mãe de criação, tentou recuperar o tempo perdido, impedindo-a de estar ou sequer ver a mãe que ela reconhecia como tal.
Como se recupera o amor de uma filha, de alguém que não nos reconhece, de alguém que só sabe que foi criada por uma mulher que ela vê como sua mãe, e que dela foi arrancada sem dó nem piedade?
Talvez a Hanna devesse ter ido com mais calma, e feito essa aproximação aos poucos. Mas é legítimo criticá-la? É legítimo condená-la por não querer que a mulher, que a impediu de estar com a filha durante anos, agora a veja sequer?
No meio de tudo isto, quem mais sofre, como sempre, são as crianças. Neste caso, foi a Lucy. Lucy Grace. Por conta da separação, quase perdeu a vida. Mais tarde, acabou por aceitar a sua família verdadeira, ficando anos e anos sem ver os "pais" que a criaram, que foram obrigados a cortar qualquer laço com ela.
Depois de pagarem pelos seus crimes, Isabel e Tom, continuaram juntos. Mas Isabel acabou por morrer. E Tom, voltou a ser o homem solitário que conhecemos no início.
No entanto, os laços não se quebram irremediavelmente, como algumas pessoas gostariam. E, no final, Lucy Grace vai visitar os pais que cuidaram dela nos primeiros anos de vida, agradecendo-lhes por tudo o que fizeram por ela e lhe ensinaram, sem ressentimentos, sem mágoas, sem culpas.
Porque perdoar é tão mais fácil do que viver uma vida a guardar rancor...
Será que uma decisão tomada num momento de saturação, cansaço ou até desespero, é uma decisão tomada de forma totalmente consciente?
Será uma decisão bem ponderada, depois de analisados, friamente, os prós e os contras?
Será uma decisão acertada e certeira?
Ou estaremos a tomar uma decisão com a visão turvada pelo calor do momento, quando estamos de cabeça quente e nem conseguimos raciocinar?
Será que o desespero leva sempre a más decisões, e más escolhas, das quais mais tarde nos iremos arrepender, por terem sido tomadas de forma precipitada?
Ou será possível, mesmo no meio do desespero, termos o discernimento de tomar uma decisão que se revelará positiva?
E, afinal, quantas decisões não são tomadas depois de muito debatidas, e se revelam as piores que poderíamos ter tomado?...
Onde é que estão os mistérios do sul, que deram o título a este livro? Não os descobri!
No início, não consegui passar da primeira página. Não me estava a entusiasmar nada.
Na semana passada, num acto de coragem e perseverança, continuei a lê-lo.
Felizmente, as coisas estavam-se a compôr.
Tínhamos um ex presidiário a fugir da polícia, a ser capturado e mantido na prisão por suspeita de violação e assassinato de 4 jovens.
Tínhamos uma mãe, procuradora do Ministério Público e encarregada da acusação deste suspeito, a criar uma filha adolescente, com as mesmas características físicas das vítimas.
Tínhamos um pai ausente que, depois de ter sido abandonado pela primeira mulher e casado com Alexa, de quem teve esta filha Savannah, acaba por se divorciar da segunda mulher e voltar para a primeira.
Quando Savannah começa a receber umas cartas misteriosas que sugerem ameaça, Alexa vê-se obrigada a voltar a falar com o pai da sua filha, ao fim de 10 anos, para que ela possa ficar com ele até ao julgamento e condenação deste assassino.
E ele, vê-se obrigado a iniciar uma batalha contra a actual mulher, para que aceite a sua filha na sua casa e na sua vida.
Enquanto isso, Alexa tem um caso cada vez mais sólido, já que todas as provas conseguidas até ao momento apontam para Luke. E de quatro vítimas, passamos para um total de dezoito.
No entanto, a advogada de defesa acredita que as provas foram plantadas para incriminar o seu cliente.
Neste ponto da história pensamos: ela é capaz de ter razão! A autora não nos ia revelar assim, de caras, o verdadeiro assassino. Normalmente, quando tudo aponta para uma determinada pessoa, é sinal que não é ela. Assim sendo, talvez o verdadeiro criminoso ande à solta e a vida de Savannah esteja em perigo.
É mesmo o género de livro que eu gosto. E, de facto surpreendeu-me: mas pelo simples facto de não ter havido nenhum mistério nem nenhuma surpresa!
Destaco a forte relação entre mãe e filha de Alexa e Savannah, e o quanto foi difícil para elas a separação forçada. E a relação recuperada entre pai e filha, de Tom e Savannah, depois de 10 anos a excluía da sua vida.
Uma história de força e fraqueza, mesquinhez, falsidade, poder e arrependimento. Mas mistérios do sul, não me parece!