"Atirar areia" para os olhos do público
Ninguém gosta de ser enganado.
Que o façam de parvo.
Que o tomem por idiota.
Que lhe atirem "areia para o olhos".
E o público, que sempre apoiou e esteve presente, ao longo da carreira de um determinado artista, não é excepção.
O público pode parecer iludido, "amestrado", incondicionalmente fiel e devoto mas, quando percebe que está a ser ludibriado, facilmente se volta contra aqueles que, antes, defendeu.
Não há nada como a verdade e, com ela, pode-se ganhar ainda uma maior admiração pelo artista.
Sem ela, o público que, ontem, era defensor pode, hoje, tornar-se o inimigo. O público que, ontem apoiava pode, hoje, criticar e condenar, se se sentir enganado.
E vem isto a propósito de quê?
Poder-se-ia aplicar a vários artistas mas, refiro-me, em específico, a Raquel Tavares que, há umas semanas, tinha dado uma entrevista emotiva e aparentemente, sincera, na qual anunciava o fim da sua carreira como fadista, porque estava cansada de ser uma figura pública, com tudo o que isso acarretava. Frisou que queria dedicar-se a outras áreas, de preferência, de forma anónima.
Ora, ela tem o direito de fazer o que bem quiser com a vida dela, sem ter que dar satisfações a ninguém. E dedicar-se ao que bem entender, que ninguém tem nada a ver com isso.
Mas, a partir do momento em que dá a entrevista que deu, com o ênfase que lhe atribuiu, com a tristeza e mágoa com que o fez, e com as declarações que prestou, as suas decisões tomam uma outra proporção.
Partiu-se do princípio que o fez com verdade.
Para, logo em seguida, ela própria contradizer as suas palavras, com as suas acções.
Uma pessoa que está saturada da exposição pública, e de ser figura pública, não deixa de ser fadista para ser atriz! Uma pessoa, que diz que já não gosta de cantar, não continua a fazê-lo.
É, por isso, normal que, agora, seja acusada de ter enganado o seu público, de a sua entrevista e decisão não passarem de uma farsa ou, talvez, de uma estratégia de marketing para o que aí vinha.
Não teria sido tão mais simples ser honesta, e afirmar apenas que queria fazer uma pausa na sua carreira como fadista, para se dedicar a outros projectos? Ninguém a iria criticar. Ninguém teria nada a apontar.
Mas fazer aquele "teatro" todo, mostra-se no papel de vítima do mediatismo, para depois continuar a ser mediática? Só fez com que ficasse totalmente descredibilizada.
Apenas me pergunto como irá ela lidar com este mediatismo resultante da TV, quando não o conseguiu "supostamente" fazer enquanto fadista?