Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

"Remar contra a maré"

boat-2847737_1280.png

 

Durante vários dias de viagem:

- O barco tem um furo.

- Tapamo-lo. Não há-de causar grande estrago.

 

- Está demasiado vento. Vai desviar o barco.

- Juntos talvez consigamos contornar.

 

- O remo partiu-se. Assim nunca mais lá chegamos.

- Remamos com o que temos. Demora mais, mas havemos de lá chegar.

 

- Com esta tempestade é impossível seguir em frente.

- Ficar no meio dela também não é solução.

 

- As provisões estão a acabar. Qualquer dia não temos o que comer ou beber.

- Economizamos. Poupamos até chegar ao destino.

 

- Já não remas com tanta força como antes. À velocidade a que vamos, o mais certo é o barco ir ao fundo antes da chegada. 

- Sim, é verdade. estou mais cansada. Mas nem por isso paro.

 

- Assim não dá, o barco está a deixar entrar água por todo o lado. Não vale a pena consertar de um lado, se se estraga do outro. Vai acabar por afundar.

- Tens razão. Desisto. É melhor deixar o barco afundar!

 

Alguns minutos depois:

- Não era isso que eu queria dizer. Não quero que o barco afunde.

- Pois, mas de tanto o dizeres, começo a concordar contigo. Não vale a pena "remar contra a maré".

 

O momento de partir

Resultado de imagem para partir tumblr

 

Durante cerca de ano e meio ocupei um lugar que veio a ser meu, por mero acaso.

No início, nem sequer estava disponível. Depois, o meu nome foi sugerido e passei a ocupar um dos lugares que estavam livres.

Mês após mês, as ideias foram surgindo, a motivação era grande e adorei fazer parte daquele projecto que me proporcionava uma das coisas que mais gosto de fazer - escrever.

Ao longo desse tempo, houve problemas, dissabores, e colegas a sairem pouco a pouco, dando lugar a outros que foram chegando, cheios de entusiasmo.

Durante esse tempo, passámos da total bandalheira, para uma quase ditadura. Ninguém nega como foram importantes algumas das medidas e como foram necessárias algumas decisões, em prol de um bem maior.

Mas o que começou por ser um projecto conjunto, passou a ser um projecto de duas ou três pessoas, que passaram a mandar e desmandar e ter a única palavra possível, recusando qualquer sugestão, opinião ou ideia que fosse contra as suas próprias.

Deixámos de ser todos colegas, para quase termos que obedecer a um déspota que não sabe falar com os outros de outra forma que não seja arrogante, e sempre com uma critica pronta a atirar. 

Muitos se insurgiram contra isso, muitos abandonaram o barco, muitos desafiaram e foram corridos. Entre azedas trocas de palavras, expulsões, implicâncias e parvoíces, porque gostava do que fazia, fui ignorando no que a mim me tocava, e continuando o meu trabalho.

Mesmo quando a vontade já não era a mesma, continuei. E novas ideias foram surgindo. Mas, se umas, pouco a pouco, foram cortadas, outras nem sequer tiveram luz verde.

E foi assim que dei por mim a estar envolvida em algo que já não me motiva, que não me deixa ser criativa, que já não me inspira. Todos nós, ao longo da nossa vida, chegamos a um ponto em que percebemos que é preciso partir, e dar o nosso lugar a outros.

Agora, depois de ver várias colegas a fazê-lo, chegou a minha vez de saltar deste barco. Prefiro nadar sozinha para onde bem me apetecer, do que continuar num barco cujo rumo não quero seguir.

Chegou o meu momento de partir, com muita pena minha, porque esperava chegar tão longe quanto este projecto pudesse chegar, e estar lá para celebrar o seu sucesso.

Mas a vida é mesmo assim! Tudo tem um começo, e tudo tem um fim. E eu coloco aqui o meu ponto final...  

"Aguentar o barco"

 

Estes últimos dias não têm sido fáceis.

Era imprescindível que houvesse uma pessoa calma, ponderada, tranquilizadora, compreensiva, forte e eficaz, perante a situação em que os que me são próximos se encontram. Alguém para aguentar o barco e levá-lo a bom porto. Fui eu a escolhida!

Afinal, de nada serviria encarar os factos com histerismo, nervos ou tristeza. 

A minha filha precisava de mim para a acalmar enquanto vomitava sem parar, com dores, e enquanto lhe tentava dar banho com várias interrupções a que a diarreia obrigava, às 4 horas da manhã.

A Tica precisa que sejamos compreensivos com ela, pois está doente, e isso leva-a a urinar em tudo o que é sítio, menos na liteira. E leva-a também a vomitar.

O meu marido precisa de apoio, porque perdeu novamente a carteira com todos os documentos, porque tem saudades da família, porque faleceu alguém que era para si muito importante, porque anda com dores de dentes, e porque precisa de atenção.

Sendo eu a única pessoa que não foi afectada por nada, cabe-me a mim, como mãe, dona e mulher, ajudar aqueles que amo a ultrapassar esta fase menos boa com força, tranquilidade e compreensão.

Mas a verdade é que também eu me começo a ressentir e a perder forças. Qualquer dia, sou eu que fico doente!

E nessa altura, quem irá impedir que o barco afunde?...