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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Bondade, ou burla disfarçada de altruísmo?

(muito suspeito)

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Ontem, uma mulher que o meu pai diz que não conhece, e que nunca viu na vida, bateu-lhe à porta.

Na mão, trazia um prato de sopa, acabada de fazer, que vinha generosamente oferecer ao meu pai.

O meu pai não aceitou.

E, segundo ele, a mulher não insistiu muito, e foi embora.

 

Tudo isto me soa estranho, e muito suspeito.

Se fosse um vizinho, ou conhecido, é uma coisa.

Mas uma estranha? E um prato de sopa?

Qual seria a ideia? 

Entrar lá em casa, esperar que o meu pai comesse, e lhe devolvesse o prato?

O que teria a sopa? Droga? 

 

Ou seria apenas uma desculpa?

Alguém a estudar a situação. A apalpar terreno.

A tentar perceber quem vive ali, se está sozinho ou acompanhado.

Se será um alvo fácil para um assalto ou algo do género.

 

Uma pessoa fica sempre de pé atrás.

Até porque há pessoas para tudo, e capazes de inventar as formas mais inusitadas de levar a sua avante.

 

Os "rejeitados da vida"

Joven egoísta rechazado por la sociedad por su molesto comportamiento.  concepto de problema psicológico, comunicación con una persona abusiva  desagradable. ilustración de vector de color en estilo plano. | Vector  Premium

 

Alguns de nós, humanos, temos tendência para querer ajudar os "coitadinhos", os "rejeitados da vida".

Pessoas com problemas que achamos que podemos solucionar.

Com coisas mal resolvidas que, estupidamente, nos convencemos que conseguimos desemaranhar.

Com feridas que julgamos poder curar.

Com revoltas que julgamos conseguir apaziguar.

Com mágoas que acreditamos que, por magia, faremos desaparecer.

 

Aquelas pessoas que nos fazem crer que ninguém as entende.

Que ninguém gosta delas. 

Que são umas sofredoras.

Que toda a vida tiveram azar, e nada lhes corre bem.

 

Temos até, uma predisposição inata para nos conectarmos com elas.

Com tanta gente à nossa volta, parecem um íman que nos atrai.

E, do alto da nossa vaidade, bondade ou ingenuidade, sei lá, pensamos que podemos fazer a diferença.

Que somos aquela pessoa que vai melhorar as suas vidas. Que os fará mais felizes. Que, connosco, irão mudar.

 

Eu também sou (ou era) um pouco assim. 

Mas, à medida que os anos vão passando, cada vez tenho menos paciência. Cada vez mais me convenço que só nos estamos a enganar a nós próprios.

Há pessoas que, simplesmente, não querem ser ajudadas. Nunca vão mudar.

Cada um é como é.

Então, o que acontece é que, em vez de as trazermos para cima, são elas que nos puxam para baixo.

E, em vez de as "consertarmos", são elas que nos destroem.

Pois que se lixem todos.

 

Acreditamos tanto que podemos ajudar que não percebemos que não fazemos milagres.

É como procurar as ondas do mar numa piscina que nunca as terá.

Por mais que tentemos que aquelas águas se movam, ondulem, não fiquem estagnadas, nunca serão ondas naturais.

E, se não deixarmos de bater em pedra dura, arriscamos a, quando menos esperarmos, tornarmo-nos nós os coitadinhos.

 

Eu sei que nem toda a gente é assim e que, de facto, há pessoas que merecem uma oportunidade mas, a determinado momento, levam todas por tabela.

Porque percebemos que a verdadeira oportunidade, não são os outros que a têm que dar. Tem que vir da própria pessoa.

E, se ela não estiver disposta a isso, nada, nem ninguém, terá esse poder.

Um mundo à nossa medida

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Chego à conclusão que vivemos num mundo à nossa medida:

Um mundo desumano, para os (des)humanos que nele habitam.

 

É o mundo que merecemos.

 

Um mundo que nos olha com a mesma indiferença (e descaso), com que olhamos para ele, e para quem dele faz parte.

Um mundo que nos trata com a mesma crueldade, com que o tratamos, e aos seres que nele habitam.

Um mundo que nos paga na mesma moeda, com que lhe pagamos.

Um mundo egoísta, na mesma medida em que os humanos o são.

Um mundo ingrato, perverso, injusto, tal como o são os humanos.

 

Este não é um mundo para seres vulneráveis, e desamparados, para quem se olha de lado, para quem se vira a cara, e as costas, sem nos preocuparmos com o seu sofrimento.

Este não é um mundo para seres puros, bondosos, que nenhum mal fazem, mas a quem os humanos insistem em fazer mal, por pura maldade.

 

Este é o mundo em que os humanos o tornaram.

Um reflexo de si próprios.

Um mundo que, à semelhança de um boomerang, lhes devolve tudo o que lhe atiraram.

Um mundo que, à medida que o vão destruindo, destrói igualmente, e ainda com maior facilidade.

 

É, no fundo, o mundo perfeito.

E, para aqueles a quem se torna difícil viver neste mundo cruel, com o qual não se identificam, e no qual não se reveem, resta esperar que, um dia, um outro mundo, melhor, lhes esteja destinado.

 

 

 

 

 

 

Um Homem Chamado Ove, na HBO

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Já tinha ouvido falar no livro, há uns anos.

Nunca me disse muito.

E acabei por esquecer.

 

Num destes dias, encontrei o filme no catálogo da HBO.

Estava na secção de comédia.

Pessoalmente, não considero que o filme seja uma comédia, mas a minha noção é um pouco duvidosa.

Depois de uma demorada procura por um filme que agradasse a ambos, acabámos por ver este.

 

Ove parece ser um homem intragável, com a mania que é o fiscal da área, muito perfecccionista e que não se dá com ninguém da vizinhança.

Está sempre a reclamar, nunca satisfeito com nada, e também parece não nutrir grande simpatia pelos animais.

Mas que importa? 

Em breve todos ver-se-ão livres dele.

Está tudo programado e, em breve, ele irá suicidar-se, pois é a única forma de ir ter com a mulher, de quem sente a falta.

 

Só que, maldição, logo tinham que aparecer uns vizinhos novos, para lhe estragar os planos.

Ele bem tenta, de todas as formas e mais algumas, levar a cabo o suicídio. Mas há sempre algo que o impede.

Nem mesmo quando vai parar ao hospital, o seu problema de coração lhe faz a vontade.

Como diz Parvaneh, a sua vizinha, ele é um homem duro de morrer!

 

E é assim que vamos conhecendo a vida de Ove, desde que era um miúdo, até ao presente, alternando entre acontecimentos passados, traumáticos, que viveu, e a actualidade, em que acaba por perceber que não precisa de manter sempre aquela capa de homem duro e insensível, e que a vida ainda lhe pode reservar algo de bom.

 

No fim, a amizade, a entreajuda, a união e a bondade mostram-nos um outro Ove, literalmente, com um coração grande demais, capaz de gestos que nunca esperaríamos! 

O homem por quem Sonja se apaixonou, o homem que lutou contra tudo e contra todos, para vê-la feliz. 

As antigas desavenças (que nem deveriam ter começado, de tão pouca importância que tinham) são, finalmente, deixadas para trás.

E a harmonia volta ao bairro.

 

Ove já não pensa em suicidar-se.

Tem amigos, tem vizinhos que o acarinham, tem uma espécie de netas emprestadas que o adoram.

Está feliz!

Mas o destino pode ter outros planos para ele.

E, quem sabe, a felicidade não se completa, e complementa, como ele tanto queria...

 

 

E tudo se conjuga para um final

 

 

 

Noé - o filme

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Na altura em que estreou no cinema, fiquei muito tentada a ver.

Depois, quando deu na televisão a primeira vez, apanhei um bocadinho, e não me inspirou, até porque era enorme. Este domingo, acabei por vê-lo.

 

Desde pequena que fiquei a conhecer diversas histórias que vêm na Bíblia, e esta é logo uma das primeiras, que não deixa ninguém indiferente: a famosa Arca de Noé, onde foram preservados um casal de animais de cada uma das espécies, enquanto Deus inundava a Terra com um enorme dilúvio. Depois de parar de chover, enviaram um pássaro para determinar quando poderiam voltar a sair da arca. Se não estou em erro, o pássaro foi e voltou duas vezes, sem nada. À terceira, voltou com um ramo no bico. E por último, não voltou. Foi quando perceberam que poderiam sair da arca, e voltar a terra firme. Há ainda a parte do arco-íris que surge no céu, e que simboliza a aliança de Deus com o Homem.

 

Li várias vezes estas histórias, nas Bíblias para crianças que me ofereceram em pequena. Na altura, gostava de lê-las. Hoje, ao recordar-me delas, apercebo-me que, a serem verdadeiras, mostravam um povo que levava a sua fé e crença em Deus a extremos e, até, a um certo fanatismo.

 

Sempre me ensinaram que Deus é amor, e que é justo. Sempre duvidei da sua existência. Não consigo perceber onde é que esse Deus encaixa num mundo em que tantos inocentes sofrem as maiores atrocidades, enquanto os "maus" permanecem impunes. 

 

Neste filme, um dos descendentes de Caim, que representa o mal, afirma: "Deus criou o Homem à sua imagem. Ele não é diferente de nós. Nós somos o reflexo dele."

Não teria ele uma certa razão? Como poderia um Deus bondoso matar? Ou mandar matar? Sim porque, por exemplo, na história de Abraão, depois de supostamente lhe ter dado o seu filho Isaque mandou, em seguida, matá-lo como sacrifício para pôr à prova a sua fé em Deus. Que Deus é este que condena à morte quem tem o mal dentro se si, quando ele próprio incita a cometer actos como este?

 

Por outro lado, Noé dizia à sua mulher, tentando justificar a sua decisão de nem eles próprios entrarem na arca e se salvarem "Todos temos o mal dentro de nós. Não poderemos ser salvos."

Mais uma verdade! 

Por muito bons que sejamos, há sempre algo que nos pode corromper. Haverá sempre algo capaz de nos levar a cometer actos de maldade, nem que seja para defender-nos e aos nossos.

 

No caso concreto do filme, no que era Noé diferente daqueles que estavam agora a ser condenados pela justiça divina?

Noé não hesitou em deixar morrer uma jovem, que nada tinha a ver com estas guerras, para se salvar a si e ao filho. Noé não hesitou em declarar a sentença de morte para toda a família, incluindo as próprias netas, que quase matou com as suas próprias mãos, por achar que era o que Deus queria. Onde é que está aqui a bondade, o amor?

E o que conseguiu com isso? Conseguiu que todos se revoltassem contra si. Conseguiu que um dos seus filhos se passasse para o lado dos "vilões", contra o próprio pai, por não perceber que moral tinha o pai para condenar os outros, quando se estava a tornar igual.

 

Ainda a respeito do filme, estava à espera de melhor. É muito tempo de filme, para uma história tão pequena. Há partes que não batem certo com aquilo que se conta, e que levantam algumas incongruências e questões:

- Na história do filme, Noé e o pai parecem viver sozinhos. Quando o pai morre, sendo Noé ainda criança, como é que ele sobreviveu sozinho todos aqueles anos, até à idade adulta?

- No filme, o que a história dá a entender é que havia apenas a família de Noé, do lado do "Bem", e todos os restantes do lado do "Mal". Seria mesmo assim?

- No filme, não há um limite para a entrada dos animais. No entanto, se formos pesquisar, há diversas versões de imposição de quantidade de animais de cada espécie. A ser assim, porque teriam de morrer todos os outros?

- A própria construção da arca suscita dúvidas. Conseguiria uma arca como aquela, construída unicamente de madeira, como pareceu, manter-se intacta com todos aqueles animais dentro?

- Como era possível haver lume dentro da arca, sem a incendiar?