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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

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"Alrawabi School For Girls", na Netflix

AlRawabi School for Girls: Nova série Árabe da Netflix - Asia ON

 

Esta série estava na lista há algumas semanas.

Mas foi sendo adiada. Até que, este fim de semana, lá me decidi.

 

"Alrawabi School For Girls", um nome que demorei algum tempo a conseguir pronunciar, é uma série jordaniana sobre um prestigiado colégio exclusivo para raparigas, na qual podemos acompanhar o dia a dia daquelas estudantes, com tudo o que está implícito.

É sabido que, por norma, num ambiente só de mulheres, as coisas nem sempre correm bem. Infelizmente, as mulheres tendem a estar umas contra as outras, e a arranjarem discussões, tornando-se as maiores inimigas, em vez de aliadas. Ali, não é excepção.

 

Existem as populares, as desajustadas, as aliadas. Existem grupinhos. Existe discriminação. Existe corrupção. Existem interesses. E bullying.

É, sobretudo, neste último que a história se centra. E na vingança, para que nunca mais volte a acontecer.

 

Mariam é alvo de bullying pelas populares - Layan, Roqayya e Rania.

Depois de alguns episódios, Mariam denuncia as escapadelas de Layan à directora, mas é descoberta e agredida, tendo que ser levada para o hospital.

Como se não bastasse, ainda inventam uma história sobre ela, corroborada pelas aliadas, que faz a própria mãe, e a sua melhor amiga, acreditarem que aquela é a verdade.

E quando nem aqueles que era suposto acreditarem na inocência dela, e estarem ao seu lado a apoiá-la, o fazem, o que lhe resta?

Vingança!

Fazê-las pagar, uma por uma, pelo que lhe fizeram, e pela forma como lhe destruíram a vida.

 

Para esse plano, ela vai contar com Noaf, a aluna recém chegada que, apesar de não querer meter-se em problemas, oferece a sua ajuda quando a sua própria irmã é vítima das vilãs. E com Dina, a sua melhor amiga que, após um tempo chateada com Mariam e mais próxima das populares, acaba por, também ela, ser vítima das armações destas.

 

As questões que se colocam são:

Até onde deve ir a vingança?

Quando se deve parar?

Até que ponto devem medir as consequências que esses actos terão?

Até que ponto devem "fazer o correcto" e ser condescendentes, com quem nunca o foi com elas?

E, ainda que o tenham sido, numa ou outra ocasião, isso anula todo o mal feito anteriormente? 

 

 

Confesso que, ao longo da série, a Mariam vai-se transformando, da miúda de quem, inicialmente, sentimos pena, para aquela que temos dificuldade em criar empatia, apesar de tudo o que ela passou.

Mas, verdade seja dita, esta série, e tudo aquilo que fizeram com a Mariam, conseguiu despertar o meu pior lado, e apoiar cada pequena vingança dela contra aquelas arrogantes! 

Foi justo. Mereceram. 

Se isso faz de Mariam alguém igual ou pior que elas? Talvez. Ninguém passa por situações de bullying e permanece igual.

 

Umas pessoas ultrapassam melhor, esquecem melhor, e tentam seguir com a vida, ainda que com as marcas lá. Outras, não aguentam, e suicidam-se. E há as que se revoltam. As que se transformam. As que querem dar uma lição para que aquilo não aconteça a mais ninguém.

Sim, porque nem Layan, nem Rania, ou Roqayya são pessoas que têm consciência dos seus actos. A quem se possa pedir para parar. Para, simplesmente, pedirem desculpa e perceber que não agem correctamente.

Elas acham-se as maiores. Poderosas. Invencíveis. Mariam vai mostrar-lhes que não.

 

Não gostei das inconstâncias das amigas Noaf e Dina, que tão depressa a apoiam e ajudam, como querem parar, e que ela pare também.

Que tão depressa incentivam Mariam, e a fazem voltar ao plano que ela já tinha abandonado, como, a seguir, a criticam e acham que ela está a ir longe demais.

Tão depressa consideram que as outras merecem uma lição, como querem fazer o correcto.

Há ali uma certa hipocrisia. Um falso moralismo. Sobretudo, por parte de Noaf. E disso não podemos acusar Mariam.

Aliás, para tornar Mariam mais vilã, e Layan um pouco mais boazinha, inventaram ali uma cena em que ela ajuda Noaf, numa situação de assédio que poderia tornar-se algo mais grave. Mas não convenceu.

 

Com o plano contra Roqayya e Rania já concretizado, chega agora a vez de Layan, e da directora da escola, que passou o tempo todo a encobrir as acções das populares, aparentemente por interesse, já que os pais delas poderiam deixar de apoiar ou, até mesmo, encerrar o colégio.

Embora haja um outro motivo, que só se irá descobrir no fim.

Ninguém conseguiu demover Mariam e, agora, resta esperar para ver as consequências da sua vingança, que poderão levar à morte de alguém. 

 

Se ela deveria ter previsto, e evitado? Poderia.

Mas alguém pensou nisso quando a agrediu? Que a poderia ter matado ali, ainda que sem intenção?

Pois...

Penso que, ao rever aquelas imagens que vieram à mente de Mariam, segundos antes de premir a tecla, também muitos de nós clicaríamos.

 

Uma coisa que fiquei bastante admirada foi por as mulheres ali se vestirem quase como as ocidentais. Embora no colégio tenham que andar com o uniforme e, algumas alunas e professoras, com os trages mais típicos da cultura árabe, no dia a dia, não é bem isso que acontece.

Ainda que, na visita de estudo, por exemplo, a uma espécie de estância balnear, a professora Abeer esteja sempre a pedir-lhes para taparem mais o corpo.

Foi um pouco estranho ver algumas coisas que são permitidas mas, ao mesmo tempo, tradições e costumes que ainda se fazem valer, e podem destruir a vida daquelas pessoas, e famílias.

 

De resto, tal como na vida real, e em qualquer lugar, um colégio que tenta passar uma imagem de rectidão e imaculada quando, na verdade, esconde muitos "podres", por conveniência, que lhe arrasariam a reputação, se viessem a ser descobertos.

Vale tudo pelas aparências, e por um bom cargo. 

Ou, então, não valerá de nada...

 

 

Deixo-vos o trailer da série, que recomendo:

 

Dezanove Minutos, de Jodi Picoult

Dezanove Minutos

 

Confesso que o início do livro foi um pouco confuso, e não me entusiasmou muito.

Muita informação "solta", muitas personagens, diversos acontecimentos, e pouca ligação entre tudo.

Mas, depois, melhora. 

E faz-nos reflectir. Muito!

 

É uma história sobre relações. 

Relações amorosas. 

Relações entre pais e filhos.

Relações de amizade.

 

É uma história sobre a realidade.

Sobre impotência.

 

É uma história sobre amizades que se desfazem.

Sobre comparações e expectativas.

Sobre escolhas.

Sobre ausências.

Sobre autopreservação.

Sobre bullying, e humilhação.

Sobre relações abusivas.

 

E dezanove minutos, o tempo que Peter levou a libertar o que foi guardando ao longo de 17 anos.

O tempo que demorou a destruir a vida de tantas pessoas, quando a sua já estava em cacos há muito tempo.

O tempo necessário para abrir os olhos, a quem sempre preferiu fechá-los. 

O tempo necessário para, finalmente, fazer-se ouvir. Vingar-se. Fazer justiça. 

E pôr fim ao sofrimento.

 

No final, resta a lembrança.

Porque, como diz Alex "Uma coisa ainda existe desde que haja alguém para a lembrar".

Get Even, na Netflix

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O que une quatro adolescentes que, à partida, não são amigas, nem aparentam ter qualquer afinidade entre elas?

Uma causa comum: acabar com as injustiças num mundo e, particularmente, numa escola, onde estas são a realidade, e a norma.

O grupo é então baptizado de DGM (Don’t Get Mad), já que o lema é “we don’t get mad, we get even”, ou seja, “nós não ficamos irritadas, nós vingamo-nos”.

 

E é isso que vão fazer, a todos aqueles que, de alguma forma, foram injustos, ou agiram de forma maldosa ou vergonhosa. Só que, logo no início, as coisas complicam-se, um adolescente e colega de escola morre, e o grupo é o principal suspeito.

 

Esta é uma série que foi buscar ideias a Control Z, Elite e até PLL, mas muito inferior a qualquer uma delas.

Valem os episódios curtos, de cerca de 25 minutos cada um, e um total de 10 episódios, que se acompanham bem mas que, em nenhum momento, nos tiram o fôlego, criam muito suspense, ou nos deixam boquiabertos com o final.

 

Esquecendo a parte do crime e da vingança, há outros conteúdos que se podem destacar e que, apesar de não muito aprofundados, contribuem com alguns pontos para a série.

 

Bree

É a minha personagem favorita. Filha de pais ausentes, com uma mãe que a abandonou e ao marido, e um pai que passa mais tempo a trabalhar do que em casa Bree tenta, à sua maneira, chamar a atenção do pai para a falta que a sua presença e o seu apoio fazem na sua vida.

Infelizmente, o pai parece não perceber o que está a acontecer, limitando-se a livrar a filha de problemas, e deixar-lhe dinheiro em cima da bancada, sem conseguir ter uma única conversa com ela.

Até porque, dada a ausência e falta de orientação, o pai não tem qualquer moral para condenar o que quer que seja e, a cada “pedido de socorro” atirado pela filha, ele ignora e cala-se.

 

Kitty

Kitty acha que tem que ser boa em tudo.

Mas veio para uma escola em que ser-se bom não significa conquistar aquilo que é merecido.

Outros valores (ou falta deles) falam mais alto.

Por receio que os pais fiquem decepcionados consigo, ao não ter sido escolhida para capitã da equipa de futebol, Kitty mente-lhes, até criar uma situação em que acabará por se tornar ela capitã.

Por culpa, após ter deixado a sua amiga numa noite de festa sozinha com um rapaz, por querer, ela própria, sair com outro, Kitty vai fazer de tudo para se vingar de quem fez mal à sua amiga.

Por necessidade de conseguir uma bolsa de estudos, Kitty quase não vive, dedicada que está aos estudos e aos treinos, mas o seu objectivo está cada vez longe de se concretizar.

 

Olívia

Olívia é a adolescente de classe média, que perdeu o pai há uns anos e vive com a mãe, que trabalha para poder pagar as contas e dar uma vida decente à filha.

As propinas da escola que frequenta são pagas pela avó, mas quem a transformou aos poucos na menina bonita e rica, foi Amber.

Ambas têm namorados. E ambas têm problemas com os quais não conseguem lidar.

Amber acha que o dinheiro compra tudo, até a amizade e o amor, e que quem vier a pertencer ao seu círculo restrito tem que ser como ela.

Olívia vai demorar a perceber que Amber é uma pessoa mesquinha, fútil, maldosa, e que não quer isso para si.

E é assim que se vai aproximando de Bree, Kitty e Margot.

 

Margot

É a nerd do grupo, com dificuldades em socializar e fazer amizades.

Prefere isolar-se no seu espaço até porque, das poucas vezes em que ousou achar que poderia ser diferente, acabou por ser traída e gozada.

Mas, a determinado momento, alguém lhe vai dar a força necessária para lutar contra os seus medos, e contra quem a quer rebaixar.

E o amor vai mesmo bater-lhe à porta.

 

 

Filhos da Mãe, de Rosana Antonio

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Mais um livro acabadinho de ler - Filhos da Mãe, de Rosana Antonio.

infelizmente,existem muitos "filhos da mãe" por este mundo fora, não só entre portugueses e brasileiros, mas mesmo entre povos de outras nacionalidades e, até mesmo, no mesmo povo. 

Como se costuma dizer, "anda meio mundo a tramar outro meio".

No entanto, é especificamente sobre estes dois povos - português e brasileiro - que a autora se focou, em mais um livro dividido em duas partes.

De um lado, 5 histórias de portugueses que viveram na pele o preconceito do povo brasileiro, a discriminação, as dificuldades de integração e aceitação.

Desde uma situação grave de bullying que vitimou uma jovem estudante portuguesa, a uma cilada armada pelo futuro cunhado a um português, com consequências graves, só para evitar o casamento dele com a irmã, ou ainda a um preconceito de parte a parte, que consegue ser ainda mais forte que a eventual homofobia que os dois apaixonados da história pudessem sofrer, podemos encontrar um pouco de tudo nestas primeiras histórias.

 

 

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Virando o livro ao contrário, encontramos então 5 histórias sobre o preconceito sofrido pelos brasileiros em terras lusas, sobretudo contra as mulheres brasileiras.

É sabido que os homens conseguem, por vezes, ter atitudes machistas para com as mulheres, e que as próprias mulheres, muitas vezes, se tentam tramar umas às outras por inveja ou qualquer outro motivo. Aqui neste livro, podemos ver como isso se aplica também às mulheres brasileiras, que são muitas vezes tratadas como prostitutas ao serviço de qualquer um. 

Desde histórias de terror com taxistas portugueses, a um episódio que levou mesmo a uma acusação por homicídio e pena de prisão, podem encontrar nesta obra um pouco de tudo.

 

Em todas estas histórias existem personagens que se fingem amigas ou que até, num determinado momento, o são, mas que aproveitam a primeira oportunidade para rebaixar e hostilizar, fazer mal, tramar, incriminar e sabe-se lá que mais, simplesmente porque não gostam dos outros devido às suas origens.

São mentalidades nem sempre fáceis de mudar, principalmente, quando essa discriminação lhes foi incutida pelos pais e gerações anteriores, estando já demasiado enraizada.

Aqui em portugal, por exemplo, é muito frequente termos este tipo de atitudes não só contra os brasileiros, mas também com outros povos que nos chegam, como ucranianos, moldavos, africanos e chineses. É também já bem conhecida a aversão dos portugueses pela etnia cigana.

Há uns tempos atrás escrevi um artigo sobre o multiculturalismo em Portugal, que mostra como ainda é difícil para um povo aceitar alguém de fora no seu país - multiculturalismo em Portugal

Este livro é mais uma prova disso.

 

A primeira reunião escolar de 2016

 

Ontem foi dia de reunião e, infelizmente, o tema que dominou não foi nada bom. 

Depois das informações da praxe e entrega das pautas de avaliação, o professor perguntou se algum dos pais tinha algo a dizer, que dissesse respeito à turma em geral.

Uma mãe, aproveitou essa ocasião para "largar a bomba" e informar todos os presentes que o seu filho está a ser vítima de bullying por parte dos rapazes da turma, por causa de um problema que ele tem, e que chegou a um ponto em que já está farto, e nem sequer quer continuar a ir à escola. Sai da escola cheio de nervos e dores de cabeça, e chora, mas tem aguentado tudo porque "tem medo de ser rejeitado pelos colegas" e, por isso, prefere deixar eles fazerem o que bem entendem só para que não o excluam.

Uma situação complicada que acho bem a mãe ter denunciado, mas não sei se terá escolhido o melhor momento, local e ocasião para o fazer.

Em primeiro lugar, porque o deveria ter feito primeiro junto do director de turma, logo que teve conhecimento da situação. Como muitos pais referiram, este tipo de situações tem que ser resolvido o quanto antes, e os pais devem agir de imediato, não deixando arrastar a situação.

Ah e tal, quis esperar pela reunião para estarem todos os pais presentes, não tinha o contacto de nenhum dos pais, não tinha o contacto do representante dos encarregados de educação. Mas nada disso justifica que a terrível situação que o filho vive seja adiada. Claro que se põe a questão de a criança não falar por medo de piorar a situação, por medo de represálias, por receio de não ser aceite. Mas será que calar ou fugir resolvem a situação? 

Em segundo lugar, porque acusou os rapazes da turma, com os respectivos pais presentes, mas sem nomear nomes, pelo que só deixou os pais em alerta e sem saber se o seu filho é um dos envolvidos ou não. Acho que era desnecessário. Se ela sabe quem são, e pelos vistos, sabe, porque ficou de enviar um email com os nomes para o director de turma quando chegasse a casa, o lógico seria pedir ao director de turma para chamar os pais desses alunos, e resolver a questão com eles, e eles com os filhos. Mesmo que a turma tomasse depois conhecimento, poderia expôr os factos, sem mencionar nomes, e frisar que o assunto estava a ser resolvido com os respectivos pais.

Ainda assim, foi bom ela ter denunciado esta situação, porque ficámos a saber que não é um caso único, apesar de esses outros, aparentemente, terem sido resolvidos com sucesso.  

Para além do choque da denúncia, o que mais me irritou foi um pai que se sentou ao meu lado e que, à semelhança da última reunião, passou o tempo todo no telemóvel ou lá o que era, mostrando uma enorme falta de respeito pelo que ali se estava a falar. E, no final, ainda me pediu emprestada uma caneta para assinar a pauta porque não tinha nenhuma.

Outra coisa que me irritou foi a passividade do professor perante a denúncia. Parece-me que é mesmo a sua maneira de ser, mas ficou ali calado a ouvir a mãe, depois vários pais começaram a falar e a debater o assunto, e o professor pouco intervinha. É certo que o professor disse que ia tratar do assunto, agora que ficou a saber, mas esperava vê-lo de imediato a dizer à mãe, e a todos nós, exactamente o que ia ser feito e de que forma iam ajudar o filho, até mesmo para futuros casos com outras crianças.

Em vez disso, pediu à mãe se podia ficar para o fim, para falarem sobre isso, e falou apenas um pouco sobre o bullying em geral. Ou seja, falou de forma básica do que era importante, mas queria tê-lo visto mais activo.

E, depois de umas quantas tentativas falhadas de prosseguir com a reunião para outros assuntos, porque não se impunha e alguns pais intervinham novamente para voltar ao tema anterior, lá deu por finda a reunião, pedindo apenas aos pais dos alunos com planos de intervenção para permanecerem na sala.