Da emergência à calamidade, e a semelhança com um banho de mar
No outro dia, dizia a minha filha que achava mal começaram já a levantar algumas das medidas de contenção, existentes no âmbito do estado de emergência, porque poderíamos ter que voltar a retroceder.
E eu lembrei-me (ou não fosse eu uma grande fã de praia), que isto é um pouco como ir ao banho, no mar.
Há os que se atiram de cabeça para a água, sem querer saber se o mar está bravo, ou se a temperatura está mais para arca congeladora do que para sauna. E os que sempre foram mais cautelosos, e sempre optaram por entrar gradualmente, se o mar assim o permitir.
Até ontem, a bandeira estava vermelha, e ninguém podia ir a banhos.
A partir de hoje, temos uma bandeira amarela, que nos diz que podemos tomar banho, mas sem nadar.
E nós, ainda assim, lá vamos, com receio.
Porque está mesmo muito calor, e não podemos ficar eternamente a apanhar banhos de sol sem desidratar ou apanhar uma insolação.
Por isso, iniciado o desconfinamento, e o alívio gradual das medidas, vamo-nos aproximando do mar, com uma imensa vontade de nos refrescarmos mas, ainda assim, com cautela.
E lá pomos um dos pés na água, a medo, para ver como ela está. Se ainda estiver muito fria e nos arrepiar, é certo que não voltamos a pô-lo lá dentro, esperando um pouco mais, até nos habituarmos à temperatura.
Da mesma forma, se estamos a entrar mas vemos, de repente, uma onda que nos parece perigosa, voltamos imediatamente para trás.
Mas não desistimos.
Vamos ficando por ali, molhando primeiro um pé, depois o outro, entrando devagarinho até chegar aos joelhos, depois à cintura, ao peito, até que por fim já o nosso corpo está habituado, e podemo-nos molhar por completo. Ou, então, à espera de um momento de calmaria das ondas, para finalmente poder mergulhar.
É assim que vai ser a nossa vida, daqui em diante.