"Sereias", na Netflix
Confesso que fui enganada pelo título!
Estive, a cada episódio, à espera da grande revelação, mas ela nunca chegou porque a série não é, literalmente, sobre sereias.
Portanto, cheguei ao fim e senti-me defraudada: isto não é nada sobre sereias!
Sereias a sério, criaturas míticas, mulheres com meio corpo de peixe dentro de água que, quando em terra, passam a ter pernas.
Afinal, o título é metafórico, tal como toda a série.
Simone é uma jovem que trabalha para Michaela, uma mulher excêntrica, poderosa e temida embora, em alguns momentos, aquela relação pareça mais uma amizade ou meio maternal invertida e, ao mesmo tempo, uma espécie de domínio hipnótico de uma, sobre a outra.
Simone sente-se bem com aquelas pessoas, naquela vida, e não quer qualquer relação com a irmã e o pai.
Devon é irmã de Simone.
A irmã que a salvou da morte, quando a mãe delas se suicidou, e quase matou Simone também.
A irmã que, de certa forma, abdicou de si, dos seus sonhos, da sua liberdade, para o poder proporcionar à irmã.
A irmã que, agora, lida sozinha com um pai doente, e com a sua própria vida transformada num caco.
É por isso que, revoltada, vai procurar Simone. Para que, também ela, assuma alguma responsabilidade nos cuidados ao pai.
Quando chega à Casa do Penhasco e conhece Michaela, Devon convence-se de que a irmã não pode continuar ali com aquela mulher, que dizem que matou a primeira esposa do seu marido, e parece comandar uma seita duvidosa.
A verdade é que, desde o início, antipatizei com a Michaela (mas suponho que era essa a intenção). Ela é mostrada como a "vilã".
Por outro lado, Peter, o seu marido, é apresentado como o "porreiro", que não está nem aí para as excentricidades da mulher e que, por vezes, parece culpá-la pelo estado a que chegou a sua vida.
Apesar disso, parece amá-la.
Claro que nem tudo é o que parece.
E, no fim, percebe-se que as pessoas são muito mais do que aquilo que aparentam. Do que as primeiras impressões que temos delas.
Que os bons podem ser vilões, e os vilões podem ser bons.
Que as escolhas trazem consequências. E nem sempre boas.
Mas haverá sempre quem esteja disposto a correr o risco.
O último episódio marca uma nova vida para cada uma das três - Simone, Devon, Michaela.
No entanto, a que parece ter o caminho mais facilitado será, provavelmente, a que encontrará mais pedras no seu caminho, e a que mais sairá magoada, quando chegar a sua vez de ser substituída pela próxima.
Já as outras duas, embora vejam apenas uma luz ténue ao fundo do túnel, têm todo um mundo de oportunidades, e podem, finalmente, libertar-se daquilo que as prendia.

