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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Quando percebo aquilo em que a minha vida (e o meu corpo) se vai transformar

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Ontem foi dia de consulta no IPO.

A terceira.

E, desta vez, não passei na "inspecção".

 

Tenho mais um sinal suspeito, que tem de ser tirado.

Três anos depois, a ameaça paira novamente.

E tenho uma nova cirurgia pela frente, já no próximo mês.

 

Não esperava, é certo. Mas não foi bem a notícia em si, ou a cirurgia, que me afectou.

Foi o facto de perceber a realidade do que vai ser a minha vida daqui em diante.

E no que se vai transformar o meu corpo, com a quantidade absurda de sinais que tenho: uma colecção de cicatrizes.

 

E sim, esse é o menor dos males. E é por um bem maior: viver!

Mas, digamos que não estava nos meus melhores dias para receber a informação da forma positiva e entusiasta que deveria.

 

 

"Vinagre de Sidra", na Netfllix

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A série é baseada na verdadeira Belle Gibson, uma influenciadora australiana que enganou meio mundo com a sua falsa história de cancro, desde as suas seguidoras, a todos os que com ela colaboraram, quer na aplicação, quer na publicação do seu livro de receitas, e cometeu fraude através da angariação de fundos para doar a instituições, fundações e pessoas com cancro, que nunca viram qualquer dinheiro. 

 

Na série, Belle é representada como alguém que precisa constantemente de ser gostada, de ser validada e aceite pelos demais, nem que para isso tenha que inventar as histórias mais mirabolantes, que suscitem pena, apoio, empatia, solidariedade.

E nada melhor para comover, e mobilizar, alguém do que uma pessoa sofrida, guerreira, lutadora, sobrevivente, que lida com a maternidade,  problemas graves de saúde e, ainda assim, empreendedora, inovadora.

 

A verdade é que Belle é uma manipuladora nata, uma sanguessuga que se alimenta de quem está à sua volta.

Mas o mérito de ser uma excelente actriz de drama, ninguém lhe pode tirar!

 

No entanto, o que fica da história, para lá da mentira, é a realidade do cancro.

O perigo de promessa de uma cura.

A falsa esperança que, muitas vezes, se deposita nessa cura, em alternativa à medicina tradicional.

E, nesse sentido, é muito mais fácil ligarmo-nos às histórias de Milla e Lucy que, embora fictícias, são bem mais comoventes, e nos fazem questionar tudo e todos.

 

Como se sente alguém que enfrenta um cancro.

Como se sente a família, perante esse diagnóstico de alguém que amam, e como lida com isso.

Apoiar as decisões de quem as deve tomar, ainda que sejam erradas?

Ou ficar contra, com todas as consequências emocionais que isso acarreta?

 

Milla foi diagnosticada com um cancro no braço.

A solução proposta pelos médicos foi, obviamente, a cirurgia - amputar todo o braço, para que o cancro não se espalhasse.

Ela recusou.

Procurou tratamentos alternativos.

Frequentou retiros. Fez terapias holísticas.

Rendeu-se a enemas de café, dieta dos sumos, comida vegan.

Tornou-se uma fonte de inspiração. 

Deu palestras, criou um blog, publicou um livro.

Mas nem tudo correu como ela esperava e, por vezes, os erros pagam-se caro...

 

Lucy tinha cancro da mama.

Começou a seguir Belle, e a recusar o tratamento de quimioterapia que, até então, andava a fazer.

Ela não queria mais aquilo.

Mas o marido não a apoiou. Ele só queria que ela vivesse. 

Ela foi para um retiro. Afastaram-se.

Terá sido a melhor decisão?

 

Tantos planos que ficam por concretizar, tanto que fica por viver.

Tantos sonhos desfeitos. Tantas vidas destruídas.

Tanto sofrimento, esperança e desespero.

Como é que alguém pode, sequer, brincar com isso?

 

"Vinagre de Sidra" tem 6 episódios, algo confusos, porque andamos sempre a alternar entre diferentes anos, ora para trás, ora para a frente, ora para algures no meio.

Mas vale a pena ver.

 

Imagem: netflix

 

 

Helicobacter pylori

(o que raio é isso?!)

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É uma bactéria que se aloja e habita no estômago, responsável por uma das infeções mais frequentes em todo o mundo. 

Mas eu nunca tinha ouvido falar.

 

Em muitos casos, a infeção adquire-se na infância, por via oral, através da ingestão de alimentos ou água contaminados com a bactéria, ou através do contacto físico.

É uma infeção crónica, que pode permanecer durante anos, décadas ou mesmo toda a vida, sem que seja detectada, e sem que a bactéria que a provoca seja eliminada espontaneamente.

 

Não sei há quanto tempo ela aqui anda no meu estômago, mas fiquei a saber que a tenho, e que é a causa da minha gastrite crónica recentemente diagnosticada.

Embora o exame não tenha sido feito, especificamente, com intenção de a detectar, acabou por dar um resultado positivo.

Os únicos sintomas que tenho, relacionados com a "bicha", são a sensação de enfartamento, à mínima refeição que coma, sensação de barriga inchada, indisposição frequente, enjoos, e cólicas no estômago (que associava a alguma coisa que tivesse comido, por não serem constantes).

Mas há outros sintomas que, no meu caso, não se manifestaram:

  • diminuição do apetite e emagrecimento progressivo
  • vómito
  • presença de arrotos e gases frequentes
  • fezes com a presença de sangue

 

A H. Pylori é considerada pela Organização Mundial de Saúde como um agente cancerígeno. No entanto, ter a bactéria no estômago não significa necessariamente que a pessoa terá cancro. Apenas aumenta o risco de vir a desenvolvê-lo.

Assim, o ideal é que seja feito o tratamento, para tentar erradicá-la do estômago.

Para a sua eliminação, é necessário combinar vários medicamentos, nomeadamente vários antibióticos (subcitrato de bismuto potássico + metronizadol + tetraciclina) e um protector de estômago (omeprazol).

 

O meu tratamento, a ser feito durante 10 dias, será de 12 cápsulas de antibiótico por dia, mais 2 protectores de estômago, ou seja, 140 comprimidos em 10 dias, 14 por dia.

Não sei se morro da doença, ou da cura!

A médica já me alertou que nem toda a gente tolera o tratamento, e desejou-me boa sorte.

Pelo menos, tenho uns dias para me habituar à ideia, porque o antibiótico está esgotado! Não é um medicamento que se possa pedir ao laboratório e, como tal, fiz reserva em 2 farmácias, para quando o laboratório lhes entregar uma embalagem (pelos vistos só entregam uma ou duas por mês) ficar para mim, até porque sou a única na lista de espera.

 

Não havendo vacina, a única prevenção, que não garante a não infecção, é apostar em bons hábitos de higiene.

 

Alguém por aí já teve a dita cuja?

Deram-se bem com o tratamento?

A bactéria foi eliminada à primeira? Ou tiveram que repetir?

"Dançando Sobre Vidro", de Ka Hancock

Dançando Sobre Vidro, Ka Hancock - Livro - Bertrand 

 

"Dançando Sobre Vidro" foi a expressão usada para explicar como seria a relação entre Lucy e Mickey, nos momentos em que a bipolaridade deste se manifestasse na sua pior fase.

 

Pode não haver amor à primeira vista, mas algo fez com que Lucy e Mickey se sentissem atraídos e, de alguma forma, ligados, desde a primeira vez que se viram.

Lucy não teve medo de arriscar. Mesmo quando soube da doença de Mickey.

Já este, sempre com dúvidas, e não se achando merecedor de viver o amor, por conta de uma doença que não consegue controlar, quase deitou tudo a perder.

Podem ter considerado que se tratava de uma decisão irreflectida, de um capricho, mas a verdade é que se casaram, e sempre tentaram fazer funcionar a relação, com as peculiaridades de ambos.

Sim, porque Lucy também teve a sua dose de problemas de saúde, por conta de um cancro da mama, herança de família, que a estará constantemente a assombrar.

 

A destacar desta história, a "relação" especial de Lucy com a "Morte", a partir do momento em que o pai lhe disse que:

1 - a morte não é o fim; 2 - a morte não dói; 3 - não há que temê-la, porque ela traz consigo uma certa magia.

Desde então, sempre que alguém está prestes a morrer Lucy sente, antecipadamente, a sua presença.

 

Outro dos destaques vai para a relação entre as três irmãs - Lucy, Lily e Priss - cada uma com os seus próprios problemas, a sua própria personalidade, muitas vezes chocando entre elas, mas sempre unidas, porque o amor de irmãs fala mais alto.

 

Quanto à história de amor entre Lucy e Mickey, eles estabeleceram um acordo com várias regras, que deveriam ser levadas à risca, para que o casamento funcionasse.

Uma delas, dado o historial clínico de ambos, era não ter filhos.

 

No entanto, Lucy engravida.

E, a partir daí, vai ser todo um dilema, com três factores a contribuir para o pesadelo - a gravidez, o transtorno bipolar de Mickey e o cancro que voltou, desta vez com metástase no pulmão, e com a expectativa de cura muito baixa.

Ou Lucy aborta, e se concentra no tratamento para combater o cancro, ou leva a gravidez adiante, e arrisca-se a não sobreviver.

Já Mickey, perante a possibilidade de perder a mulher que ama, e acreditando que nunca poderá ser pai, sozinho, quer a todo o custo que Lucy aborte. Ao mesmo tempo, a sua situação piora, embora não se perceba bem se é consequência da bipolaridade, ou o simples medo normal de qualquer pessoa.

 

No dia em que está marcado o aborto, com Lucy já prestes a ser intervencionada, ela vê a "Morte".

Será a da sua filha? Ou será a sua?

O que significará?

A decisão que Lucy toma muda tudo ainda que, no fundo, não mude nada, porque a constante estaria sempre lá.

Resta a todos compreender essa decisão, aceitá-la, e fazê-la valer a pena.

 

É uma história que nos faz reflectir, mas achei que é dramática demais para todas as personagens e, por isso, peca um pouco, porque não havia necessidade.

Mas vale a pena ler!

 

 

SINOPSE:

"Lucy Houston e Mickey Chandler provavelmente não deviam ter-se apaixonado, muito menos casado. Ambos têm genes imperfeitos - ele é bipolar; ela tem um histórico familiar implacável de cancro na mama.
Mas quando os seus caminhos se cruzam na noite do 21º. aniversário de Lucy, surgem faíscas, e não há como negar a química que existe entre eles.
Sempre cautelosos a cada passo do caminho, eles estão determinados a fazer com que a sua relação funcione - e colocam esse compromisso por escrito. Mickey vai tomar sempre a sua medicação. Lucy não vai culpá-lo por coisas que estão fora do controlo dele. Ele promete honestidade. Ela promete paciência. Como em qualquer casamento, existem dias bons, dias maus e dias muito maus.
Ao lidarem com os seus desafios, tomam uma decisão difícil: não ter filhos. Depois de uma consulta médica rotineira, Lucy tem uma surpresa, algo que deveria ser impossível. Algo que muda tudo. Mesmo tudo.
De súbito, todas as regras são atiradas pela janela, e os dois têm de redefinir o que é verdadeiramente o amor."

 

 

 

"Partir do Zero", na Netflix

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Antes de mais, devo advertir que esta série talvez não seja aconselhável a pessoas que perderam familiares recentemente.

Mas, caso a comecem a ver, não se deixem (des)iludir pelo primeiros episódios. São enganadores.

 

Desde que a série estreou, que tudo o que tenho lido sobre a mesma vai num único sentido: excelente série, forte, dramática, é impossível alguém não se emocionar.

Pois eu, confesso, vi o primeiro episódio e... que grande seca!

Como é possível dizerem bem, quando isto é tão sem graça, tão banal, tão "mais do mesmo"?

 

Mas insistiam em dizer-me que valia a pena.

Lá continuei a ver. O segundo, ainda sem grande vontade. O terceiro, a melhorar. Daí para a frente, foi um atrás do outro.

E sim, vale bem a pena!

 

Para já, pela banda sonora, sobretudo as músicas italianas.

Depois, por tudo isto:

 

É uma lição de verdadeiro amor

O amor de Amy e Lino é posto à prova de todas as formas, mas nem por isso é abalado ou destruído.

Eles complementam-se. Tentam ser felizes, e fazer o outro feliz.

Tentam resolver os problemas. Conversam. Apoiam-se, em todos os momentos.

Afinal, amor é amizade, desgosto, apoio, família, felicidade, dor, beleza.

Há histórias de amor que são para sempre. E amores verdadeiros que vivem para além da vida.

 

É uma lição sobre a importância da família

Podemos não ter as mesmas ideias, as mesmas formas de viver, os mesmos objectivos.

Os nossos familiares podem não ser perfeitos, podem dar connosco em doidos, podem não nos compreender.

Podemos até nos desentender, dizer coisas que não devíamos, por vezes magoar.

Mas a verdadeira família, está lá quando é preciso.

Nos bons, e nos maus momentos.

E que não sejam preciso os maus momentos para voltar a unir familiares desavindos. Porque mais vale tarde que nunca, mas o tarde pode ser tarde demais.

 

É um alerta para a vida

Porque a vida pode ser curta. E nunca sabemos o que ela nos reserva.

Hoje estamos bem. Amanhã tudo pode mudar.

Nada é garantido. 

 

É uma lição sobre nunca desistir dos sonhos

De que serve a vida sem sonhos?

De que serve viver pela metade?

Lino dizia muitas vezes a Amy: "Porque não? Como dizem os americanos, é tudo ou nada!"

E sim, é verdade que, mesmo que os cheguemos a concretizar, a vida pode vir, e destruí-los.

Mas não terá valido a pena tentar?

Aproveitar o que nos foi permitido experienciar?

 

É uma história sobre mudanças, aceitação, integração

Nem sempre é fácil mudar para um país diferente, onde somos apenas mais uma pessoa, um forasteiro.

Longe da família, longe dos amigos, longe daquilo que sempre nos fez feliz.

Nem sempre é fácil querer agradar, e ser rejeitado, ainda que não intencionalmente, e sentir que não sabemos o que estamos ali a fazer. Apenas, que não pertencemos ali. Que nos sentimos deslocados, perdidos.

Lino sentiu isso na pele.

Até as coisas mudarem, e ele estar totalmente integrado na nova vida.

 

É uma história sobre multiculturalismo

Amy, uma americana do Texas, a viver em Los Angeles, e Lino, um italiano de Castelleone (Sicília), a viver em Florença, e que se muda para Los Angeles, uma cidade que não tem centro, onde ninguém liga a futebol, onde não se come nada daquilo que ele está habituado.

Mas será que, apesar de mundos tão diferentes, e de famílias com tradições e culturas tão distintas, o principal não é universal?

 

É uma lição de coragem, resiliência, superação

Cancro: maldito cancro.

Esse bicho que continua a fazer estragos e a levar a melhor sobre aqueles que atinge.

Lino descobre que tem um cancro raro, e todo o seu mundo desaba.

Agora que tinha aberto o seu próprio restaurante, é obrigado a fechá-lo, para dar prioridade ao tratamento.

Agora que Amy tinha abdicado de um dos seus trabalhos, em prol daquele que, apesar de lhe pagar menos, a fazia mais feliz, tem que voltar a trabalhar duplamente.

Lino vence a primeira batalha. 

Mas a guerra ainda estava no início.

Depois de um ensaio experimental que correu bem, e de se manter relativamente saudável durante 7 anos, eis que a vida lhe prega outra partida.

Só que, desta vez, é bem pior do que antes.

 

É uma história sobre os laços que unem a família

Como diz Amy, no fim, família são as pessoas que escolhemos amar, sejam elas de sangue, ou não.

Amy e Lino queriam ser pais. Mas a fertilização in vitro não fazia parte dos seus planos e, por isso, adoptaram uma menina - Idalia.

A maternidade/ paternidade não foi um desafio fácil para nenhum deles.

Por um lado, Amy começou por perder o crescimento da filha, por ter que trabalhar pelos dois. Por outro lado, Lino era um excelente pai, mas sentia falta de voltar a trabalhar.

Mas, no fundo, o que mais importava era a felicidade de Idalia.

Na verdade, o que mais importa é o bem dos filhos, sejam eles biológicos, adoptados ou emprestados.

 

É uma história sobre recomeços

Amy e Lino tiveram que partir do zero algumas vezes.

Conseguiram sempre dar a volta.

Será que conseguem vencer esta derradeira batalha?

Haverá ainda chance de Amy, Lino e Idalia terem um novo recomeço?

Ou esse será apenas para alguns deles?

 

A despedida

Como se despede, um pai, de uma filha?

Como se despede, uma filha, de um pai?

Como dizemos adeus à pessoa que amamos? Com quem planeámos toda uma vida? Com que ainda queríamos concretizar tantos sonhos?

Como nos despedimos, da melhor fase que estamos a viver, para o incerto? Para o abismo?

Como voltar a viver?

Onde encontrar forças para tal?

 

Escolhas

A vida de Amy e Lino foi recheada de escolhas.

Escolhas que trouxeram tristeza, escolhas que trouxeram felicidade.

Mas foram as suas escolhas.

E é assim que continuará a ser, até ao fim.

Porque a vida (e a morte) só a eles diz respeito.

 

 

Ver esta série fez-me, obviamente, recordar a morte da minha mãe, os problemas de saúde do meu pai, e o cancro de que me livrei a tempo e que, por pouco, podia ter feito estragos.

Fez-me pensar na minha filha, no quanto ainda quero estar presente na vida dela. No quanto ainda quero viver com ela.

E voltou a lembrar-me que as pessoas boas são sempre as primeiras a partir.

Embora, mais cedo ou mais tarde, todos sigamos o mesmo caminho.

 

Deixo aqui a música que mais me marcou no final da série: