Já muito se escreveu sobre esta série da Netflix, que tanto deu que falar pelo seu tema controverso - o suicídio na adolescência.
Ouvi opiniões favoráveis e críticas negativas, houve quem adorasse a série, e quem a detestasse.
Chegou a minha vez de ver a série, e tirar as minhas próprias conclusões.
Em primeiro lugar, como diz o ditado "quem está no convento é que sabe o que vai lá dentro", e só quem passa por determinadas situações saberá se teria motivos para cometer suicídio ou não. Não devemos julgar ou condenar ninguém por ter tomado essa decisão. Mas isso não significa que estejamos de acordo.
De qualquer forma, essa é uma decisão da própria pessoa, pela qual não se deve tentar culpar terceiros. Algumas pessoas podem contribuir para debilitar o nosso estado emocional, podem até ter cometido crimes contra nós, mas o suicídio é sempre uma decisão pessoal, pela qual somos os únicos responsáveis.
Confesso que comecei a ver a série, e desisti no fim do terceiro episódio!
Até compreendo que a ideia seja mostrar ao público tudo o que levou uma adolescente a tomar a decisão de se suicidar, vendo aí a única solução para os seus problemas.
E até percebo que ela quisesse enviar as cassetes para alguém da sua confiança.
O que não compreendo, é o joguinho das cassetes a circularem por entre todos os colegas. Qual era o objectivo? Que se sentissem culpados? Que se responsabilizassem pela decisão dela? Que confessassem o que tinha feito, quando seria a palavra deles, contra a de alguém que já morreu?
Tal como não compreendo porque não entregou o Tony, guardião das cassetes, de imediato, as mesmas à mãe da Hanna, que queria descobrir a verdade, e esperou quase até ao final para perceber que não deveria guardar os segredos da amiga.
Até porque, se a Hanna queria guardar os seus segredos, não faria sentido enviar as cassetes para os colegas, esperando tudo o que viria a seguir.
Recomecei a ver a partir do episódio 8, tendo-me o meu marido contado o que entretanto se passou. Não vi ali nada que justificasse uma decisão tão drástica, até esse ponto. Mais motivos teria a Jessica, se se lembrasse (será que não se lembrava mesmo?), para o fazer, e mesmo assim não penso que fosse essa a solução.
Quem não sofreu, em algum momento, bullying na escola? Quem não passou anos do seu percurso escolar sem grandes amigos? A perder namorados para amigas, a perder amizades por causa de rapazes?
Posto isto, o que mais me chamou a atenção nesta série foi o facto de, por mais que queiramos e tentemos, conhecer bem os nossos filhos, ou controlar o que lhes acontece, isso é impossível. Podemos dar o nosso melhor, coisa que não me parece que os pais da Hanna tenham feito, mas ainda assim pode não ser o suficiente.
De nada adiantará os pais andarem agora, paranóicos, em cima dos filhos, porque isso pode ter o efeito contrário, e levá-los para o caminho de onde os querem desviar.
E as escolas, sabendo ou não o que se passa nas suas barbas tentam, na maioria das vezes, ignorar, esconder, camuflar, e nem sequer estão habilitados para ajudar quando um aluno pede ajuda.
Tudo o resto, não é novidade, porque já andámos na escola e sabemos bem como funciona. Até mesmo na idade adulta, nos locais de trabalho, acontecem situações dessas. Os grafitis na casa de banho, as listas, as amigas da onça, as drogas, os gabarolas, os cabrões e meninos dos papás que acham que o dinheiro paga e apaga tudo, e que são impunes, enfim...
Qual foi, afinal, o objectivo das cassetes?
Os pais da Hanna ficaram a par da verdade, tal como a escola, e os colegas da Hanna, incluindo o Clay. De que é que serviu essa verdade?
A única pessoa que cometeu os maiores crimes, continuou impune. Um dos colegas da Hanna, tentou também o suicídio. Valeu a pena?
Claro que isso será, provavelmente, respondido numa segunda temporada. Que eu não sei se vou ter paciência para ver, porque esta já me pareceu demasiado longa, para a história que conta, quanto mais voltar ao mesmo tema, com mais uma dúzia de episódios.
Relativamente ao Justin, sim, é um parvalhão, cometeu erros (não crimes) mas tem toda uma história por detrás, que não o ajuda e, embora essa história não justifique os seus actos, não consigo considerá-lo culpado.
Se há um culpado, é o Bryce. Muitos podem ter contribuído para a bola de neve de acontecimentos que foram decisivos para o suicídio, incluindo a indiferença dos pais, mas este é o único que consigo ver como culpado.
Ainda assim, tal como a Hanna, também a Jessica foi violada, e seguiu em frente.
Confesso que já vi documentários em que a situação justificaria mais um suicídio, que a vida da Hanna. Mas, lá está, só ela saberia como se sentia, e se esta era a melhor solução.
De qualquer forma, esperava mais desta série, e fiquei dececionada com a forma como foi conduzida ao longo de 13 episódios.