Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada...
Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!
Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada...
Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!
É legítimo que alguém, depois de tomar uma determinada decisão, queira voltar atrás na mesma?
Sim.
Acredito que, enquanto humanos em constante evolução e aprendizagem, estamos sempre a tempo de mudar de ideias, de opinião, de voltar atrás numa decisão que, na altura, nos parecia a mais correcta mas, agora, parece apenas errada ou precipitada.
Visto assim parece, até, um acto de coragem. Alguém que não se deixa guiar pelo orgulho ferido, e tem a coragem de voltar atrás na sua decisão. Alguém que tem a coragem de assumir sentimentos, e de arriscar, ainda que o resultado não seja o esperado.
No entanto, e dependendo muito do contexto, e do momento, querer voltar atrás parece-me uma mera ilusão, a que as pessoas se querem agarrar.
Acreditar que se pode mudar o que nunca se mudou, até então.
Acreditar que se podem mudar feitios e personalidades, que fazem parte da pessoa.
Acreditar que podem ser felizes, anulando-se, e àquilo que, ainda há uns dias atrás, desejavam para a sua vida.
Ou, até, uma certa cobardia, quando acontece ainda antes de colocar em prática a dita decisão.
Talvez por medo de enfrentar as consequências da mesma.
Quando chega o "momento da verdade", assustam-se e recuam.
Com medo das responsabilidades, do trabalho, e do risco que essa decisão acarreta.
E isto, de alguma forma, não deixa de soar também a uma certa imaturidade, sobretudo emocional, para consigo mesmo, e para com os outros.
Porque tenho para mim, sempre com a legitimidade de voltar atrás, que há decisões sérias demais para se tomar de ânimo leve e, como tal, quando verbalizadas, e tomadas, devem ser decisões seguras e, realmente, sentidas.
E, até aceito que esse "voltar atrás" seja equacionado quando a decisão já está a ser posta em prática. Quando já se experienciou os dois lados da questão.
Porque já houve tempo para reflexão.
Agora, decidir algo em conjunto, aparentemente, ciente do que isso implicava e, sem que nada o fizesse prever, exprimir que, afinal, não é isso que quer, sem que nada tenha mudado?
Quando o outro já avançou, já se "formatou" e mentalizou para a nova realidade?
Quando o outro já considerava essa mudança certa?
De certa forma, parece que se anda a brincar.
Com as pessoas.
Com os sentimentos.
Com as relações.
Principalmente, quando a decisão, ainda que tomada em conjunto, foi puxada por aquele que agora volta atrás.
Sobretudo, quando já não é a primeira vez que o faz: voltar atrás nessa decisão que levou a ser tomada.
E se isto se torna sistema?
E se se começa a banalizar tanto uma decisão, que chega a um ponto que deixa de ser credível?
"Deixa para logo o que não precisas de fazer agora. Ou para amanhã. E, assim, hoje, terás mais tempo."
Mas, o que é certo é que isso é, apenas, um adiar.
Logo, ou amanhã, terei por, e para, fazer, aquilo que agora, ou hoje, não fiz. A somar ao que teria que fazer amanhã.
Portanto é um desacelerar momentâneo, para acelerar ainda mais a seguir.
A verdade é que estamos na era em que as pessoas cada vez têm menos tempo.
Em que as pessoas andam mais a correr.
Com mais tarefas a fazer, e com prazos para cumprir.
Com mais responsabilidades e obrigações.
Com mais compromissos.
Em que as pessoas mais acumulam o trabalho doméstico com a vida laboral.
Algumas, com filhos.
É a era do stress, em que estamos, constantemente, a pisar a fundo no acelerador, para chegar a tudo e a todos, e a todo o lado, sem atrasos, adiamentos ou falhas.
Estamos na era em que tudo nos é exigido, e em que tudo nos exigimos.
Simultaneamente, estamos na era em que mais precisamos de tempo.
Em que mais precisamos escolher as nossas prioridades.
Relativizar.
Delegar.
E usar o travão.
Desacelerar.
Pensar em nós, e pôrmo-nos, e à nossa saúde, em primeiro lugar.
Antes que seja tarde demais.
Porque as consequências, a curto e a longo prazo, de quem vive constantemente no limite, sem moderar a "velocidade" apesar das circunstâncias, e dos avisos que vai recebendo, podem ser terríveis.
Também conhecida como "Laços Maternos", esta é uma série sobre maternidade.
Em todos os seus sentidos, mostrando o que de melhor, e de pior, há, quando falamos de mães (e pais) e filhos, ou de avós e netos, sejam eles de sangue, ou de criação.
É uma história de amor, em todas as suas vertentes. Amor de amigos, amor de família, amor de irmãos.
E de perdão. Porque todos cometemos erros. Mas, de igual forma, todos podemos tentar corrigi-los. Tornarmo-nos pessoas melhores. Aprender com eles.
Quando percebi que a série tinha 24 episódios pensei: "Não dá, é muito!"
Gosto de séries pequenas.
Ainda assim, estava com muita curiosidade, e após ver o primeiro episódio, soube que a iria ver até ao fim.
Yeni é uma mulher indígena que, juntamente com o seu pai, deixaram a sua terra natal à procura de uma vida melhor.
Têm, como amigos, Cuca e a neta, Sónia, que são como família.
Carlos e Júlia são um casal que desespera por ter filhos, sendo que Júlia não consegue engravidar. Então, apostam todas as fichas no último embrião, contratando uma barriga de aluguer.
Só que Júlia não a escolheu da forma que seria de esperar.
Aproveitando-se da pobreza e dificuldades de Yeni, e ainda piorando a situação, simulando um rapto no qual o pai de Yeni acaba por tirar a arma ao raptor e disparar contra ele, Júlia força Yeni a ser mãe de aluguer, em troca de tirar o seu pai da prisão.
O que Júlia não contava, era que o seu marido se apaixonasse por Yeni.
No dia do parto, Yeni dá à luz gémeos.
A menina, saudável, é entregue aos pais - Júlia e Carlos. Já o menino, é rejeitado por Nora, mãe de Carlos, por ter nascido com pé torto congénito, sendo abandonado, junto com Yeni, num banco de jardim.
A partir daí, começa tudo.
Dois irmãos separados.
Quem é a verdadeira mãe.
Quais as consequências de serem criados em ambientes familiares e condições diferentes.
E sem saberem da existência um do outro.
Após a rejeição, Yeni decide criar o menino, e será "obrigada" a esconder-se para impedir que o pior aconteça a ambos, constantemente em perigo e ameaçados.
Mas há muitos esquemas, muitas armadilhas, muita corrupção, e muitos interesses em jogo, engendrados por Elena e a sua família, que provocam danos irreparáveis não só a Yeni, como a um grupo de mulheres que se sujeitou ao tratamento da sua farmacêutica.
Muito sofrimento, muita chantagem, e muitas mortes.
Passada no México, "Mãe de Aluguer" aborda temas como a discriminação racial, em que as mulheres indígenas (e todo o povo indígena em geral), nomeadamente, as totonacas, como é o caso da personagem principal, são vistas como inferiores, meras empregadas, sem quaisquer direitos, nem mesmo a nível de saúde.
E de quem, gente poderosa, é capaz de se aproveitar, dadas as dificuldades que enfrentam nas suas vidas, para conseguir os seus intentos, sem olhar a meios, para atingir os fins.
Mas também nos dá a conhecer as tradições e culturado povo Totonaca, como a dança dos "Voladores", as cerimónias fúnebres, ou os rituais para apresentação de um bebé, uma espécie de batizado.
"Mãe de Aluguer" acompanha Yeni, e todas as restantes personagens, desde o nascimento dos gémeos, até à sua adolescência, momento em que toda a verdade vem à tona, e muda o rumo daquelas vidas.
É uma história sobre justiça, ainda que não da forma, e no tempo, em que gostaríamos.
Mas mais vale tarde que nunca.
Fala de solidão, da falta de amor, de atenção, de presença.
De prioridades, muitas vezes, invertidas, distorcidas.
De querer agradar, ser aceite, numa constante competição sem sentido.
E mostra-nos que os laços que criamos, e a família que escolhemos ter, são o mais importante.
Vem esta questão a propósito de uma imagem humorística publicada numa rede social, comentada por alguém que afirma que, em Portugal, não há pobreza.
Há, sim, quem quer passar a vida a viver de ajudas, à custa de subsídios do governo, quem não quer trabalhar, quem prefere viver nas ruas em vez de num abrigo, e por aí fora.
Mais, quando comparado com outros países do chamado "terceiro mundo", não se poderá afirmar que exista pobreza em Portugal. Pelo contrário, estamos muito melhores.
Obviamente, há verdade em tudo isto.
Mas não podemos só olhar para um lado.
Para o lado de estarmos muito melhor que outros países.
Quando oiço falar de pobreza em Portugal, penso também em tantas outras coisas:
- nos mais idosos, que vivem com reformas parcas, que mal lhes chega para comprar a medicação e alimentar-se, e muitas vezes têm que escolher entre uma coisa ou outra
- nos reformados que, em vez de estarem a descansar depois de uma vida de trabalho, são "obrigados" a continuar a trabalhar para poder pagar as suas contas
- nos idosos que vivem sozinhos, abandonados, em "casas" sem quaisquer condições habitacionais, e de higiene
- nas pessoas que trabalham para sobreviver, porque o ordenado que ganham mal chega para pagar a renda de uma casa, quando qualquer pessoa deveria ter direito ao mínimo - uma habitação, um tecto para morar
- nas pessoas que, por não terem como recorrer a hospitais, clínicas e médicos privados, e por não conseguir um atendimento e cuidados médicos mínimos a que deveria ter direito, através do Serviço Nacional de Saúde, acabam por abdicar da sua saúde, entregando-se à sorte, ou à morte
- nas pessoas que, para pagar as contas, se sujeitam a trabalhos onde são explorados ao máximo, em termos de horas de trabalho, salários baixos, mais deveres do que direitos, e sempre com a ameaça de que "se não quiser, há mais quem queira"
A pobreza em Portugal, para mim, não pode ser vista como a pobreza da fome, da miséria, das guerras, exploração.
É mais uma pobreza em termos de carência, das necessidades básicas, de bens e serviços básicos, como alimentação, vestuário, alojamento e cuidados de saúde.
É verdade que Portugal é um país desenvolvido.
Mas, e nessa mesma linha de comparação com outros países, podemos perceber que, neste momento, relativamente a outros países muito mais desenvolvidos, e com outras condições que aqui não existem, Portugal ainda tem muito a desenvolver.
É um país pacífico? É. Por enquanto...
Se desejaria sair de Portugal e morar noutro país? Não!
Para mim, continua a ser um bom país para viver.
Mas gostaria que algumas coisas mudassem.
E sei que, muito para além daquilo que se vê, existe muita carência em Portugal.
Não daquela que só existe porque os portugueses querem, ou fazem por isso.
Mas daquela em que estão a sofrer as consequências de desigualdades, de políticas, e de interesses, às quais não se lhes pode imputar qualquer culpa.
Agradecer por isso, não é mais do que mostrar uma satisfação que não se sente, e uma aceitação de que não se merece mais, conformando-se com o que é dado.
Quando se tem (ou deveria ter) direito a muito mais.