É real.
E não acontece só aos outros.
Ano após ano, repetem-se as campanhas, as recomendações, os alertas.
A importância do uso de protector solar. E de se evitar as horas de maior risco.
Não há quem não o saiba.
Mas nem todos o levam a sério.
Afinal, a pessoa quer é aproveitar o verão. Se for preciso, dias inteiros na praia, ou na piscina.
Ir à praia de manhã? Ou ao fim do dia?
Isso é para quem tem a sorte de poder frequentar praias em zonas quentes. Para muitos, o único momento em que a praia está boa, é quando não deveriam lá estar, sob pena de apanharem vento, frio e nevoeiro, em vez de sol.
Protector?
Até se usa. Põe-se uma vez ou duas, quando se chega à praia, se se chegar cedo. Ou, então, não. Que uma corzinha é sempre bem vinda.
Chapéu de sol?
Isso é coisa dos nossos pais ou avós.
A malta nova não quer andar carregada com chapéus.
Além de que, lá está, o mais certo era passar o tempo a correr atrás dele pela praia, por causa do vento.
E pronto, seja qual for o motivo, a verdade é que, mesmo com alguns cuidados, volta e meia, lá se apanham uns escaldões.
Quem não os apanhou na vida?
A pessoa assusta-se na hora, trata das mazelas, sofre um bocadinho mas, depois, passa.
E está pronta para outra.
Cancro da pele?
Sim, sabemos que existe mas... não vamos necessariamente apanhar, pois não?
Pois...
A verdade é que os sucessivos escaldões, e erros que se vão cometendo ao longo dos anos, têm consequências.
Sobretudo para quem tem pele clara.
E, muitas vezes, para quem tem dezenas de sinais no corpo.
Como eu.
Mas, que raio!
Sempre tive sinais.
Para mim, fazem parte do meu corpo.
São tantos, de diferentes tamanhos, cores e feitios, espalhados por tantos sítios que, simplesmente, nunca lhes dei importância.
E agora, por causa de uma coisa estranha que nem sinal é, e que me fez recorrer a uma consulta de dermatologia, fiquei a saber que a dita coisa estranha é um carcinoma basocelular.
Ah, e como bónus, uma suspeita de melanoma maligno relativamente a um sinal mais escuro que tenho na coxa.
Que eu não faço a mínima ideia de há quanto tempo lá está (suponho que anos), nem se aumentou de tamanho ou mudou de cor em algum momento.
Tudo nomes pomposos, para um único diagnóstico - cancro da pele.
Uma coisa é certa: nunca mais vou olhar para um sinal da mesma maneira!
Se, antes, não lhes ligava a mínima, agora, sou capaz de imaginar mil e um cenários, e encontrar no mais básico dos sinais, todas aquelas características ABCDE (assimetria, bordas, cor, diâmetro, evolução) campatíveis com cancro.
Diagnosticado o dito cujo, o próximo passo é a referenciação para um hospital público, para a excisão de ambos, sendo que o suposto melanoma irá para análise, para confirmação da sua malignidade.
Então, e como te sentes? - perguntam-me.
Bem, não é como se me tivessem dito que tenho pouco tempo de vida, ou que não há solução.
Porque, à partida, há.
Não sinto nada fisicamente. Não me sinto doente.
Se bem que, pensando bem, e com a sementinha já plantada, é muito fácil começar a associar mil e um sintomas a eventuais efeitos do suposto melanoma (que ainda nem certo é), que poderá já ter disseminado a outros órgãos.
Afinal, se está ali há tanto tempo que nem me lembro...
Mas, vale a pena fazer filmes?
Não!
É levar com calma, ser positiva, e acreditar que, se fosse assim tão grave, já se teria manifestado de outras formas.
O que vale, daqui em diante, é redobrar os cuidados.
É servir de exemplo (infelizmente mau), para que a minha filha evite fazer as mesmas asneiras que eu.
E já sei que, para o resto da vida, vou andar com rédea curta e constantemente vigiada, para o caso de surgirem novos visitantes.
Por isso, para quem ainda acha que o cancro da pele é só um mito, algo que usam para nos incutir medo ou impedir de aproveitar o sol, ou que só acontece aos outros, aqui está a prova de que não é assim.
E pode bater à porta de qualquer um.